quarta-feira, 12 de junho de 2013

DESENVOLVIMENTO FRUSTRANTE


Por Rodolfo Cerveira:
O Banco da Amazônia, desde a sua fundação (1942) sempre foi responsável pela aplicação dos recursos destinados a incrementar a política de crédito para o desenvolvimento. No princípio, pelas circunstâncias conjunturais do tempo de guerra e instabilidade, também recebeu verbas para dar o apoio ao financiamento de custeio dos seringais nativos, espalhados pela Amazônia Ocidental e Oriental. Quando cessou o esforço de guerra, trocou-se-lhe o nome, passou a denominar-se Banco da Amazônia, cuja nova missão era a de estimular as ações destinadas ao desenvolvimento das atividades econômicas da Região, com ênfase aquelas ligadas ao meio agroindustrial e rural, o que não o impedia de trabalhar nos outros seguimentos do setor bancário, duramente disputados por seus congêneres, de um modo especial na captação dos escassos recursos da sociedade amazônica. No decurso de muitos anos, afora as verbas cujo fim era o de incentivar a formação de seringais de cultivo e financiar os custeios anuais dos seringais nativos – estes já em franco declínio de produção – o Banco não dispunha de recursos estáveis para bancar as atividades da agricultura e da pecuária, conforme previa na sua constituição. Esta situação de recursos financeiros escassos perdurou por longos anos, e só foi aliviada em 1989, com a criação dos Fundos Constitucionais do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste (Lei 7.287, de 27.09.1989).

Nos jornais desta cidade do dia 14.04.13, essa Agência de Fomento Pública, além de divulgar o resultado operacional do ano de 2012 – com a aplicação dos recursos do primeiro dos Fundos mencionados acima – afirma dispor para este ano de 2013, um montante razoável de R$-4,6 bilhões destinados a patrocinar sua política de financiamento do desenvolvimento. Um dos destaques da informação é que as operações de crédito até esta data tomaram por base a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), numa escala hierárquica, assim dimensionada: “de baixa renda, dinâmicos de menor renda e estagnados de média renda.”, cabendo-lhes 92% dos créditos contratados. Outro detalhe significativo foi o atendimento prioritário às atividades econômicas de menor porte, tanto na área rural como na urbana. Enfim, ao longo do tempo e não só no exercício passado – mas diga-se por obrigação, no presente está bem superior – tem-se o crescimento operacional da Instituição, em decorrência dos recursos aplicados de acordo com as carências detectadas no diagnóstico do seu planejamento geral. Pena é que não se possa dar o mesmo crédito na demonstração de suas contas de resultado, notadamente no aspecto da lucratividade dos exercícios passados. Pelos números disponíveis já foram aplicados do FNO, a partir de sua origem, cerca de R$-22 bilhões. Como já são decorridos 24 anos de sua existência, seria conveniente fazer-se uma avaliação criteriosa para identificar se as ações atingiram os fins propostos, ou seja, se a economia regional já apresenta alguma alteração positiva nos seus indicadores econômicos e sociais.

Este é o lado da Empresa, voltado para o público externo, mas precisamos saber e comentar o que se passa no seu interior, no âmago dessa máquina, que funcionou para produzir o resultado objeto destas curtas anotações. Uma instituição que se dispõe a executar o crédito de desenvolvimento tem a obrigação de submeter o seu quadro de pessoal em contínuo processo de treinamento (exigido para a aplicação de técnicas e métodos que fogem aos padrões bancários usuais), e renumerá-lo no mesmo horizonte dos recursos existentes e de sua competência. Esta foi a conduta adotada pelo Banco da Amazônia até a década de 80, mediante a manutenção de um centro de treinamento, com monitores instruídos periodicamente em praças externas, promovendo o aperfeiçoamento institucional e operacional de seus quadros, desde a área de serviços, do corpo técnico e executivos, com funções administrativas e de planejamento, bem como assim, pagando-os condignamente os serviços prestados. Nos dias atuais, apesar do farto noticiário quanto o sucesso do seu desempenho nos termos expostos antes, os seus empregados (a maioria) relutam em aceitar os rumos das gestões administrativas recentes que lhes têm sido maléficas, tanto no item do ambiente do trabalho, quanto na compensação salarial. Disso resulta uma reclamação insistente e justa de seus empregados, veiculadas principalmente na página da AEBA e que tem sido, numa avaliação preliminar, o seu principal instrumento de defesa e denúncia, ante as maquinações que lhes têm infligidos seguidos sacrifícios que refletem no próprio recinto de seus lares, com ressonâncias junto ao público externo.

Tentei fazer uma comparação da situação da Empresa nos dias de hoje e de ontem, pois na qualidade de ex-empregado – trabalhei durante 25 anos no Setor de Crédito Especializado – sinto-me na obrigação de aplaudir a execução da política de crédito, na forma e no volume que foi noticiado, entretanto, toda esta efusão se esboroa ao tomar conhecimento da situação atual da maioria de seus empregados, porque consta que ganham salários baixíssimos (achatados a partir de 1977), e que os benefícios sociais, presentes nas organizações bancárias similares lhes são negados, chegando-se ao extremo da maldade, com as limitações financeiras ao Plano de Saúde (hoje um item importantíssimo na vida de uma família), obrigando-os a um desembolso maior e a consequente redução do orçamento mensal de outras necessidades básicas. Eis a questão, posta com a crueza que o caso merece, para despertar – não a magnanimidade, porque também é sinônimo de generosidade – mas a racionalidade que presumimos ainda assistir nos que estão à frente dos negócios da Instituição, para por termo a essas crueldades e devolver a comunidade do BASA, a alegria e o convívio social de outrora. Para finalizar, como sou correntista do BASA por obrigação e dever, confirmo o péssimo serviço oferecido aos seus usuários correntistas, que vai desde a “pane” coletiva dos terminais eletrônicos à anomia administrativa e o consequente desinteresse de seus empregados, tanto nas agências, quanto nos postos e Direção Geral, em que pese o êxito propagado na mídia paraense.