Continuação do artigo de Reinaldo Azevedo:
Faço análise política segundo um ponto de vista. Recorro à ironia, sim, mas não ao deboche sob encomenda. Sou muito duro na defesa de alguns pontos de vista, mas nunca vou além dos fatos; sou judicioso a respeito deles, o que é coisa bem distinta. Argumento, argumento, argumento a mais não poder, de forma, às vezes, exaustiva. Acabo de botar o ponto final no livro “O País dos Petralhas II”, uma seleção de textos deste blog. Trata-se de um livro sobre política. Não há xingamentos ali, como não há em “O País dos Petralhas I”.
Faço análise política segundo um ponto de vista. Recorro à ironia, sim, mas não ao deboche sob encomenda. Sou muito duro na defesa de alguns pontos de vista, mas nunca vou além dos fatos; sou judicioso a respeito deles, o que é coisa bem distinta. Argumento, argumento, argumento a mais não poder, de forma, às vezes, exaustiva. Acabo de botar o ponto final no livro “O País dos Petralhas II”, uma seleção de textos deste blog. Trata-se de um livro sobre política. Não há xingamentos ali, como não há em “O País dos Petralhas I”.
“Ah, mas você só fala mal do governo”. Ainda que fosse
absolutamente legítimo alguém “só falar mal do governo” (ou da
oposição, diga-se), nem isso é verdade. Elogiei há dois dias uma decisão
da Advocacia Geral da União sobre as terras indígenas, que certamente contou com o apoio da presidente Dilma Rousseff. Quando começou aquela onda bucéfala contra a construção de Belo Monte, não entrei na chacrinha — porque nem tudo o que não é PT me interessa. Quando o Banco Central decidiu cortar a taxa de juros, fui dos poucos que aplaudiram a decisão — embora Guido Mantega não esteja entre as figuras públicas que excitam
a minha imaginação (e, creio, a de ninguém). No caso do Código
Florestal, as minhas posições não se distinguiram muito das do Planalto.
Escrevi ontem um texto sobre a greve dos professores das universidades
federais. Sou um crítico severo das escolhas feitas por Fernando Haddad.
Mas basta ler o que escrevi para deixar claro que não aderi à pauta dos grevistas só porque,
afinal, o governo está numa situação difícil… Eu não peço licença para
gostar disso ou daquilo. E também não peço licença para não gostar.
À diferença do que dizem
os promotores da esgotosfera — afinal, eu sou um dos seus alvos
permanentes, como fica claro mais uma vez —, a área de comentários do
meu blog não se confunde com a baixaria que eles
promovem. Os leitores expressam, sim, o seu ponto de vista com muita
clareza, mas os excessos são cortados. Se escapam uma inconveniência ou
outra — é muita gente opinando —, advertido pelos próprios leitores, eu
as excluo. Vocês sabem, no entanto, do que eles são capazes os leitores “deles”. Não têm limites! Patrocinados com dinheiro público, os responsáveis por aquelas páginas deixam que prosperem a calúnia, a injúria, a difamação, o deboche, o achincalhe puro e simples.
Acima, escrevo alguns parágrafos
fazendo a distinção entre a sujeira e um trabalho de análise política,
pautada por um conjunto de valores. É importante porque, reitero, o joio tenta se fazer trigo para igualar o vicioso ao virtuoso. Mas ainda falta uma questão essencial, definidora mesmo do que é o quê e de quem é quem.
E começo a tratar dela com um princípio, um fundamento. Fosse pelo meu
gosto, não haveria estatais no Brasil — nos EUA, por exemplo, esse
debate seria impossível —, a não ser um ente ou outro ligados à
segurança do estado e da sociedade, que dispensariam
a propaganda. Nos EUA, por exemplo, esse debate seria ocioso. Também
pelo meu gosto, o governo federal — neste governo ou em qualquer outro — jamais seria o maior anunciante do país, o que é uma distorção da democracia brasileira. Isso tudo, no entanto, existe.
Sendo assim, o centro do debate é outro. EXISTEM VEÍCULOS QUE TÊM ESTATAIS EM SUA CARTEIRA DE ANUNCIANTES. DADAS AS LEIS BRASILEIRAS, NÃO HÁ NADA DE ERRADO NISSO. POR QUE RENUNCIARIAM A UMA RECEITA QUE ESTÁ DISPONÍVEL E QUE É
DISPUTADA POR MUITOS? Isso é da natureza do jogo. Como não dependem do
governo federal ou das estatais para existir, esses veículos podem,
então, fazer um jornalismo independente, que não se subordina à vontade desse ou daquele. Suas reportagens, análises e opiniões são pautadas, pelo interesse público e, claro!, pela linha editorial que adotam e pelo público com o qual querem manter o diálogo mais estreito. Dediquem-se à economia, à política, à cultura ou ao entretenimento, disputam o que chamo
mercado de ideias, e ninguém lhe impõe a pauta. Quantas vezes vocês já
leram na VEJA e nos demais veículos da grande imprensa críticas aos
bancos ou à indústria automobilística, embora se possam ver em suas
páginas anúncios dos bancos e da indústria automobilística? Esse é o
mundo livre!
Mas há aqueles — e é disso que se cuida aqui — QUE SÓ EXISTEM PORQUE SÃO
FINANCIADOS PELO DINHEIRO PÚBLICO. Sem a grana oficial ou sem o emprego
numa estatal, não existiriam, não teriam como se financiar. SÃO, EM
SUMA, DEPENDENTES DE QUEM OS FINANCIA E PASSAM A EXERCER, POIS, UM TRABALHO A SOLDO, SOB MANDO, SOB ENCOMENDA.
“Ah, Reinaldo, isso não pode ser feito também com empresas privadas? Não existem pistoleiros que estão a serviço de seus financiadores privados?” Claro que sim! E o fato é igualmente lamentável no que concerne
à ética jornalística, mas mesmo aqui se note uma diferença: não estão
lidando com dinheiro público. A verba de anúncio de governos e de
estatais, meus caros, em última instância, pertence a todos os
brasileiros — àqueles que apoiam e àqueles que não apoiam o governo; àqueles que votaram e àqueles que não votaram no PT.
Eis o caráter deletério dessa gente. Quando o governo federal e as estatais financiam páginas ou revistas que só existem em razão do dinheiro oficial; quando o governo federal e as estatais financiam páginas ou revistas que se
dedicam à difamação de figuras da oposição, do Judiciário e da própria
imprensa; quando o governo federal e as estatais sustentam essas redes
de desqualificação, é evidente que assistimos a uma forma de privatização do estado, a serviço de um grupo.
Alguns oportunistas gritam agora: “Censura! Censura! Fulano quer
censura!” É a tática de sempre! Recorrem às Santas Escrituras da
liberdade de imprensa para defender o Asmodeus de todos os vícios, de
todas as licenciosidades, de todas as baixarias.
Há, em suma, uma diferença entre os veículos que contam TAMBÉM com governos e estatais na sua carteira de anunciantes e aqueles que SÓ existem porque financiados
por governos e estatais. Os anunciantes, minhas caras, meus caros, são o
esteio da opinião livre. Sem eles, ficaríamos todos reféns do estado e
de seus entes. Quanto mais, melhor! A liberdade de imprensa deve, sim,
depender de todos os anunciantes para que não precise depender de nenhum em particular. É o segredo dos países livres. A subimprensa, a rede suja, não é nem quer ser livre. Existe para prestar serviço a quem paga as contas. Ocorre que estamos falando de dinheiro público. Vamos ver o que vai dizer o Ministério Público Eleitoral. Se não vir nada demais do que está em curso, então tudo é permitido.