Por Ana Carla Abrão, colunista do Estadão
A apatia parecia ser a característica dessa Copa, como que refletindo um sentimento mais amplo. Não havia bandeiras expostas nem ruas pintadas. Mas foi o Brasil entrar em campo que o verde-amarelo apareceu. Marca brasileira, o futebol nos dá alegria, nos traz o Brasil grande, forte, vitorioso. A Copa, em particular, nos resgata aquele orgulho canarinho e desperta nossa identidade. Ela expõe com orgulho nossas raízes, revive a mistura de raças e levanta aquela moral nacional, algo combalida nos tempos atuais.
Sonhamos com a vitória, com o gol, com o brilho de um país cheio de vontade. Mas vem um empate e hoje nos frustra mais que nunca. Talvez menos pelo jogo e mais porque estamos em busca de salvação, de redenção. Nos falta onde nos segurar e por onde resgatar a confiança de que os dias que virão serão melhores do que aqueles que já foram. Afinal, estamos órfãos de heróis, que teimam em não surgir, se negam a nos surpreender.
Na falta deles, um povo cansado se agarra a falsos salvadores, que só nos sensibilizam nas nossas raivas, decepções e frustrações. Não é desses que precisamos. O Brasil precisa de uma liderança que nos defenda a todos nós – e não aqueles que gritam mais e podem mais. Precisamos de alguém com legitimidade, que nos defina um rumo, um caminho, uma agenda. Precisamos de alguém que nos diga que chegamos ao limite e que assim não dá mais para continuar, pois, se assim formos, corremos o risco de perder tudo, inclusive o que merecemos. Precisamos de alguém que faça o que precisa ser feito, em nome de todos e não dos que já nos levaram quase tudo.
O que nos falta é essa visão, essa serenidade e essa convicção de que não será dos pés de um craque formidável que sairá aquela grande jogada que nos livrará o grito de gol. Afinal, há sim trabalho, reconstrução, retomada, mas com sangue, suor e lágrimas. Não nos enganemos, pois a tarefa é árdua, há um passado a ser resolvido. Vivemos no campo e na vida um 7 a 1 que nos legou um trauma e, no concreto, uma péssima herança de desequilíbrios, de malfeitos e de privilégios que muito custam ao País. Uma herança que consolidou a cultura de que tudo pode, sem custos, sem ônus e sem deveres, só direitos. Para mudar a situação atual, para achar o rumo e retomar uma trajetória correta e justa há muito o que fazer, a reconquistar e, acima de tudo, a reformar.
As últimas duas semanas, marcadas por incertezas, turbulências e perdas, nada são além de uma constatação do que poderemos ter pela frente se não despertarmos desse marasmo. Deveriam servir como um alerta. Afinal, o grande jogo de 2018 certamente não será na Copa e sim nas eleições. Em outubro de 2018 estaremos decidindo que país queremos. Estaremos definindo se entregaremos o nosso futuro a falsos heróis que nos prometem o nirvana frente à realidade do inferno ou se buscaremos a dureza do trabalho em garantia do porto seguro e certo.
O Brasil vive uma grande crise, talvez a maior de todos os tempos. Não há como negar os problemas fiscais, ou a captura do Estado por interesses particulares e a força das corporações que avança sobre o interesse público. Não há como ignorar que temos hoje uma classe política alienada, autocentrada e desconectada dos interesses do cidadão. Não há como não perceber que nossa sociedade está descrente mas, ao mesmo tempo, quase nada entende das relações de causalidade entre esse nirvana prometido – e almejado – e a falta de emprego e renda que nos aflige.
Eleição, ao contrário do jogo do último domingo, não é só mais um jogo. É uma decisão que nos custará o futuro – nosso e de nossos filhos. Se não conseguirmos entender a gravidade do momento atual e a importância das nossas escolhas, não haverá hino cantado a capela, camisa canarinho ou grito de gol que evitará mais alguns anos de recessão, desemprego, retrocesso e pobreza. O Brasil tem essa força intensa de quem quer dar certo, de quem quer ser grande. Mas precisa acordar e entender que enfrentar as dificuldades do presente é o único caminho para que o futuro finalmente espelhe essa grandeza.
Sonhamos com a vitória, com o gol, com o brilho de um país cheio de vontade. Mas vem um empate e hoje nos frustra mais que nunca. Talvez menos pelo jogo e mais porque estamos em busca de salvação, de redenção. Nos falta onde nos segurar e por onde resgatar a confiança de que os dias que virão serão melhores do que aqueles que já foram. Afinal, estamos órfãos de heróis, que teimam em não surgir, se negam a nos surpreender.
Na falta deles, um povo cansado se agarra a falsos salvadores, que só nos sensibilizam nas nossas raivas, decepções e frustrações. Não é desses que precisamos. O Brasil precisa de uma liderança que nos defenda a todos nós – e não aqueles que gritam mais e podem mais. Precisamos de alguém com legitimidade, que nos defina um rumo, um caminho, uma agenda. Precisamos de alguém que nos diga que chegamos ao limite e que assim não dá mais para continuar, pois, se assim formos, corremos o risco de perder tudo, inclusive o que merecemos. Precisamos de alguém que faça o que precisa ser feito, em nome de todos e não dos que já nos levaram quase tudo.
O que nos falta é essa visão, essa serenidade e essa convicção de que não será dos pés de um craque formidável que sairá aquela grande jogada que nos livrará o grito de gol. Afinal, há sim trabalho, reconstrução, retomada, mas com sangue, suor e lágrimas. Não nos enganemos, pois a tarefa é árdua, há um passado a ser resolvido. Vivemos no campo e na vida um 7 a 1 que nos legou um trauma e, no concreto, uma péssima herança de desequilíbrios, de malfeitos e de privilégios que muito custam ao País. Uma herança que consolidou a cultura de que tudo pode, sem custos, sem ônus e sem deveres, só direitos. Para mudar a situação atual, para achar o rumo e retomar uma trajetória correta e justa há muito o que fazer, a reconquistar e, acima de tudo, a reformar.
As últimas duas semanas, marcadas por incertezas, turbulências e perdas, nada são além de uma constatação do que poderemos ter pela frente se não despertarmos desse marasmo. Deveriam servir como um alerta. Afinal, o grande jogo de 2018 certamente não será na Copa e sim nas eleições. Em outubro de 2018 estaremos decidindo que país queremos. Estaremos definindo se entregaremos o nosso futuro a falsos heróis que nos prometem o nirvana frente à realidade do inferno ou se buscaremos a dureza do trabalho em garantia do porto seguro e certo.
O Brasil vive uma grande crise, talvez a maior de todos os tempos. Não há como negar os problemas fiscais, ou a captura do Estado por interesses particulares e a força das corporações que avança sobre o interesse público. Não há como ignorar que temos hoje uma classe política alienada, autocentrada e desconectada dos interesses do cidadão. Não há como não perceber que nossa sociedade está descrente mas, ao mesmo tempo, quase nada entende das relações de causalidade entre esse nirvana prometido – e almejado – e a falta de emprego e renda que nos aflige.
Eleição, ao contrário do jogo do último domingo, não é só mais um jogo. É uma decisão que nos custará o futuro – nosso e de nossos filhos. Se não conseguirmos entender a gravidade do momento atual e a importância das nossas escolhas, não haverá hino cantado a capela, camisa canarinho ou grito de gol que evitará mais alguns anos de recessão, desemprego, retrocesso e pobreza. O Brasil tem essa força intensa de quem quer dar certo, de quem quer ser grande. Mas precisa acordar e entender que enfrentar as dificuldades do presente é o único caminho para que o futuro finalmente espelhe essa grandeza.