Folha - Uma das suas bandeiras tem sido o plano de saúde popular. Como surgiu essa proposta e quanto de alívio espera para o SUS?
Ricardo Barros - Plano de saúde acessível tem uma cobertura menor
e um custo menor. Todo tipo de procedimento que pudermos oferecer às
pessoas com segurança, qualidade e que não sejam feitos pelo SUS
significam um alívio na fila. Se conseguirmos que o mercado possa
oferecer planos mais acessíveis, todo recurso que entrar é um recurso
para a saúde. Esperamos identificar mais rapidamente qualquer doença que
as pessoas tenham para que possamos tratar a um custo mais barato à
medida que tenhamos o diagnóstico precoce.
Mas esses recursos seriam para o setor privado.
São recursos para a saúde. Se a pessoa faz uma consulta especializada,
se é SUS ou não SUS, não importa. Importa que seja atendido.
Isso também deve diminuir os gastos com o SUS?
Se pudéssemos diminuir o atendimento, sim, mas não é o caso. Toda a
economia que eu fizer com gestão será reaplicada em saúde. Não vamos
reduzir gastos em saúde. São recursos adicionais.
Há estimativa de quanto isso pode trazer de economia?
Não, porque os planos tem que ser desenvolvidos e precificados pelas
empresas. Não tem alívio para o ministério. Só mais atendimento,
facilidade de acesso e rapidez. O ministério vai continuar gastando seu
orçamento, independente de quanto a saúde suplementar coloca de recursos
na saúde.
Como essa proposta está sendo desenhada? O sr. já tem alguns requisitos mínimos?
Não. Isso é uma questão de mercado.
Mas pelo que a ANS regula hoje, há uma cobertura mínima obrigatória.
Não haverá exigência semelhante, por mais que seja ainda menor?
Isso será decidido pela agência. A lei já permite planos ambulatoriais, sem internação, e alguns estão no mercado.
A ideia então é que sejam planos só para consultas e exames?
Não. Esses já estão autorizados. [A ideia é] Reduzir a exigência mínima para um plano de saúde de internação hospitalar.
O que deve sair da exigência?
O que a ANS achar que pode ser feito sem prejuízo da qualidade do
serviço. Não vou desenhar planos de saúde, não é minha responsabilidade.
Minha proposta é estimular as operadoras a ofertar planos mais
acessíveis ao mercado. Só isso.
Mas há uma preocupação de movimentos do setor de que os planos de saúde não necessariamente são uma garantia de bom atendimento.
E o SUS, garante bom atendimento? É uma avaliação subjetiva. Ninguém paga o plano se não achar que está tendo reciprocidade.
Mas as reclamações têm crescido nos últimos anos.
Sim. Às telefônicas e aos bancos também.
Estamos tratando de saúde.
A pessoa não é obrigada a ter o plano. Se não está satisfeita, rescinde o
contrato. Ninguém estaria pagando plano de saúde, R$ 140 bilhões por
ano de faturamento, se não tivesse recebendo uma reciprocidade. O que
não impede de ter reclamações sobre o serviço. Como média geral, as
pessoas devem estar satisfeitas, senão não pagavam.
Há ideia de qual seria o teto de mensalidade desses planos?
O que o mercado aceitar. Os planos propõem, e a ANS decide.
Propor uma cobertura menor do que a mínima obrigatória não é mexer no
principal motivo de existência da ANS, que fez essa medida para evitar
mau atendimento ao usuário?
O atendimento vai ser muito bom dentro do que for contratado. O que
estamos discutindo é qual a cobertura. Não é a qualidade do plano. Se a
cobertura é menor, o valor é menor, e mais pessoas podem ter acesso.
Os planos já deram um norte de quanto podem apresentar de mensalidade?
Não tratei com eles.
Foi uma sugestão dos planos essa proposta?
Não. É uma solução de gestão, porque estou andando Estado por Estado, me
reunindo com prefeitos e gestores. Isso pode ajudar a melhorar a gestão
da saúde no Brasil.
Além do setor privado, o que o sr. pretende fazer em relação ao SUS?
Aumentar a resolutividade da atenção básica. Melhorar a qualidade das
consultas, informatizar todo o sistema para que possamos identificar com
clareza quais procedimentos serão feitos, ver que não há duplicação de
atendimento e exames que não sejam necessários. Vamos otimizar a
aplicação de recursos do SUS. E investir muito em promoção e prevenção
na saúde, para evitar que as pessoas recorram ao sistema de saúde.
Fizemos uma portaria para estimular a alimentação saudável, e para que
faça parte da merenda.
Em outra entrevista à Folha, o sr. disse que o Estado teria que em algum momento rever a questão das garantias previstas na Constituição, inclusive o direito à saúde, porque não teria como financiar.
Não falei de saúde, mas de Previdência. Essa discussão está no STF, onde
ações discutem qual é a obrigação do Estado de atendimento para as
pessoas. Nosso desafio é conciliar o conceito da Constituição aos
limites orçamentários. Quero colocar mais recursos na saúde, mas não do
Tesouro, porque o Tesouro não tem.
Seria então transferir parte do atendimento do SUS para o setor privado?
Já convoquei o setor privado para oferecer planos para aumentar o acesso
das pessoas à saúde. Se queremos dar tudo para todos, alguém tem que
pagar a conta. Quem? Os próprios que estão recebendo o tudo para todos.
Eles têm que financiar isso. Há que ter um equilíbrio.
Quanto espera de alívio na fila do SUS com essa transferência para o plano de saúde?
Não terá nenhum alívio. Mas as pessoas que estão esperando na fila vão
ser atendidas nesses serviços, e outras no SUS. Não tenho expectativa de
que acabe a fila. Não estamos aliviando, estamos atendendo mais
pessoas. Uns pelo plano, outros pelo SUS. Não tenho que atender pelo
SUS, tenho que atender a saúde.
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