O grande problema dos “ismos”: retratar um personagem como o todo.
Se um autor cria um homofóbico em sua obra, ele não é homofóbico, ele pode sim retratar o absurdo da homofobia, criticá-la.
Se um autor retrata machistas que se perguntam num bar “e aí, comeu?” e mostra no final que tal discurso é decadente, falso, da boca pra fora, atrasado, machistas, não está defendendo seus personagens, muito menos o machismo, mas retratando uma era, desvio cultural, que deve se encerrar.
Chico Buarque agora é acusado de ser machista pelo verso da nova música, Tua Cantiga:
Quando teu coração suplicar
Ou quando teu capricho exigir
Largo mulher e filhos
E de joelhos
Vou te seguir
O artista também autor de ficção retrata o amor de um amante por uma mulher casada. Também casado, espera sua amada se separar, para estar com ela para sempre. Escuta queixas e consola.
O artista não defende que casamentos devem ser abandonados se uma paixão secreta se separa.
Nem a união sem amor pleno.
Conta a história secreta de um cara, PERSONAGEM, que ama a amante, que para sua infelicidade é casada, mais do que tudo, e a espera, torce, implora pala ela se separar.
Retrata um personagem. Podemos gostar dele ou não.
Podemos justificar seu crime, como em Crime e Castigo (Dostoievski).
Afinal, é injusto com a esposa estar com ela e amar outra.
Para este PERSONAGEM, como para algumas pessoas, o romance nunca se completa, como na obra do “racista” Machado de Assis, do “sexista’ Flaubert, do “direitista” Nelson Rodrigues, do “pedófilo” Nabokov.
Que se julgue e se leve o personagem de Chico ao banco de réus.
Nunca o autor da obra de FICÇÃO.
Escrevi a peça E aí, Comeu?, enquanto morava numa universidade da Califórnia, no berço do neo-feminismo.
E a montamos no final dos anos 1990. O público entendeu a ironia da peça, que fez uma carreira de sucesso.
Ganhamos prêmios (inclusive melhor texto), ela teve prestígio de público e crítica, gerou debates (o papa junguiano Carlos Byington levou seus alunos, que debateram com ele o conteúdo).
O filme seguiu linha diferente.
Tem cena que até discordo (quando os personagens tratam mal umas meninas no bar).
Mas, nas entrelinhas, está lá o debate.
Hoje sou chamado de esquerdomacho por ter escrito uma peça chamada E aí, Comeu?, que poucos dos que me xingam viram ou leram.
Já vi um suite que não tem o hábito de ouvir o outro lado e sempre apresenta apenas uma versão dos fatos me incluir numa lista com Gregório Duvivier (neto de Byington), Xico Sá e até Jean Wyllys da “esquerdomachia”.
Que se leve o PERSONAGEM ao banco de réus.
Nunca o autor da obra de FICÇÃO.
Se um autor cria um homofóbico em sua obra, ele não é homofóbico, ele pode sim retratar o absurdo da homofobia, criticá-la.
Se um autor retrata machistas que se perguntam num bar “e aí, comeu?” e mostra no final que tal discurso é decadente, falso, da boca pra fora, atrasado, machistas, não está defendendo seus personagens, muito menos o machismo, mas retratando uma era, desvio cultural, que deve se encerrar.
Chico Buarque agora é acusado de ser machista pelo verso da nova música, Tua Cantiga:
Quando teu coração suplicar
Ou quando teu capricho exigir
Largo mulher e filhos
E de joelhos
Vou te seguir
O artista também autor de ficção retrata o amor de um amante por uma mulher casada. Também casado, espera sua amada se separar, para estar com ela para sempre. Escuta queixas e consola.
O artista não defende que casamentos devem ser abandonados se uma paixão secreta se separa.
Nem a união sem amor pleno.
Conta a história secreta de um cara, PERSONAGEM, que ama a amante, que para sua infelicidade é casada, mais do que tudo, e a espera, torce, implora pala ela se separar.
Retrata um personagem. Podemos gostar dele ou não.
Podemos justificar seu crime, como em Crime e Castigo (Dostoievski).
Afinal, é injusto com a esposa estar com ela e amar outra.
Para este PERSONAGEM, como para algumas pessoas, o romance nunca se completa, como na obra do “racista” Machado de Assis, do “sexista’ Flaubert, do “direitista” Nelson Rodrigues, do “pedófilo” Nabokov.
Que se julgue e se leve o personagem de Chico ao banco de réus.
Nunca o autor da obra de FICÇÃO.
Escrevi a peça E aí, Comeu?, enquanto morava numa universidade da Califórnia, no berço do neo-feminismo.
E a montamos no final dos anos 1990. O público entendeu a ironia da peça, que fez uma carreira de sucesso.
Ganhamos prêmios (inclusive melhor texto), ela teve prestígio de público e crítica, gerou debates (o papa junguiano Carlos Byington levou seus alunos, que debateram com ele o conteúdo).
O filme seguiu linha diferente.
Tem cena que até discordo (quando os personagens tratam mal umas meninas no bar).
Mas, nas entrelinhas, está lá o debate.
Hoje sou chamado de esquerdomacho por ter escrito uma peça chamada E aí, Comeu?, que poucos dos que me xingam viram ou leram.
Já vi um suite que não tem o hábito de ouvir o outro lado e sempre apresenta apenas uma versão dos fatos me incluir numa lista com Gregório Duvivier (neto de Byington), Xico Sá e até Jean Wyllys da “esquerdomachia”.
Que se leve o PERSONAGEM ao banco de réus.
Nunca o autor da obra de FICÇÃO.
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