Permitam-me
iniciar este meu pronunciamento, expressando o meu sincero sentimento de gratidão
ao ilustre confrade Hélcio Amaral de Souza, que, com gentis palavras, dirigiu-me
generosos elogios, decorrentes, talvez, da nossa sólida e antiga amizade
iniciada em sala de aula do nosso querido Colégio Dom Amando.
Prezados
confrades, queridas confreiras, senhores e senhoras: Todos aspiramos à
imortalidade, senão do corpo, mas da alma. Pelo menos da alma. Nem todos
externam esse anseio abertamente, porque é impossível, inalcançável, estranho à
condição humana.
Mas
vivemos para ter o impossível, para conquistar o inalcançável, para fazer das
estranhezas eventos comuns. Tão comuns que poderão até se tornar banais.
A
aventura humana tem sido assim: a busca eterna, a ousadia permanente de
afrontar situações aparentemente imodificáveis, que ora podem servir apenas
para nossos luxos e confortos, ora podem representar a melhoria substancial das
condições de vida.
Nós,
acadêmicos, não somos imortais. Imortal é o que legamos, é o que deixamos. Nós
morremos. Ficam nossas obras.
Nossas vidas murcham e fenecem.
Permanecem, em grande parte, os frutos daquilo que semeamos.
Perduram os sonhos que poderão ser
edificados, em benefício das gerações que virão no curso de tempos intangíveis.
Esta respeitável, honorável Academia
de Letras e Artes de Santarém, à qual agora tenho o orgulho de pertencer,
expressa perfeitamente os limites entre a imortalidade e os sonhos.
Aqui, nesta augusta Academia –
Suprema Corte da cultura e da inteligência santarenas, nossas referências são
homens e mulheres que já se foram, que já nos deixaram.
Nossas referências imortais, que
hoje velam por nós na Eternidade, eram mortais. Por isso nos deixaram. Por
isso, transformaram-se em saudades.
Seus sonhos, suas obras, as sementes
que plantaram, os edificantes exemplos de conduta que nos legaram, esses
permanecem e permanecerão. Para todo o sempre.
Lembro, nesse sentido, de Dom Tiago
Ryan, Bispo de Santarém e Patrono da cadeira 38, que agora passo a ocupar e que
teve como primeiro ocupante Dom Lino Vombommel, também bispo desta Diocese.
Como tantos aqui entre nós, convivi
intensamente com Dom Tiago. Tive a ventura de conhecer-lhe os méritos não
apenas no que dizia, mas no que fazia.
Dom Tiago fez por Santarém o que
muitos santarenos ainda não fizeram por esta Cidade. Amou Santarém como sua
terra. E tanto é assim que está sepultado em nosso chão, como se estivesse a
regá-lo nas entranhas, com as santas emanações de um espírito límpido e de uma
alma elevada como a dele.
Dom Tiago é sonho vivo, é obra
perene. Está vivo para sempre.
Lembro, também, de meu irmão Emir Hermes
da Cunha Bemerguy, cuja morte pranteamos há pouco mais de três meses.
Eu jamais poderia imaginar que iria
sucedê-lo nesta Academia. Jamais poderia imaginar que me sentaria na cadeira
que um poeta, um escritor e um cidadão da sua estirpe ocupou.
Falar de Emir Bemerguy, descrevê-lo,
mencionar suas obras, dar enlevo aos seus versos e suas prosas, tudo isso,
enfim, é muito pouco diante do que ele representou para a cultura santarena e
do Estado do Pará.
Emir Bemerguy é aquele que enfrentou
espantosas agruras na vida, muitas delas descritas em detalhes no seu livro
"Diário de um Convertido". Mas nunca se deixou conspurcar por
fraquezas d'alma e por vícios de caráter.
Emir Bemerguy é aquele que pescava
ao luar. Ou mesmo às escuras. Pescando, fisgava do fundo dos rios os sonhos que
os levaram a transportar-se para poesias que nos fizeram cantar, embalar nossas
ilusões. Poesias que, não raro, nos fizeram chorar.
Emir Bemerguy, meu irmão e mestre.
Meu amigo, meu ídolo, e um de meus grandes exemplos. Eu nunca haverei de te
substituir. Nunca haverei de ser como tu foste. Mas prometo, pelo menos, ocupar
com dignidade a cadeira que ultimamente foi tua.
Como Dom Tiago, Emir Bemerguy também
é sonho vivo, é obra perene.
Senhoras e Senhores, mais do que nos
permitir a sensação de imortalidade, ingressar nesta Academia de Letras e Artes
de Santarém nos inspira a convicção de que amar Santarém, mesmo não tendo
nascido aqui, como foi o caso de Emir e dom Tiago, é contribuir para firmar
esta cidade e esta região como polos irradiadores de cultura.
De minha parte estou certo de que
busquei, na medida de minha capacidade, dos meus esforços e dos meios de que dispunha,
promover a cultura santarena da melhor forma possível.
Como locutor da Rádio Rural de
Santarém e tendo ainda atuado na Televisão Tapajós, apresentei programas que
revelaram muitos talentos artísticos, entre cantores, cantoras, músicos, poetas
e compositores.
O Programa E-29 Show, que por tantos
anos comandei na Casa Cristo Rei, com a participação valiosa de meu parceiro e amigo-irmão
Edinaldo Mota, não apenas se tornou um sucesso de público e de audiência
enquanto durou, como se consolidou como um canal para dar divulgação aos
valores desta terra.
A felicidade de ter contribuído
concretamente para elevar a cultura santarena é um sentimento que, devo
confessar, me gratifica enormemente. Sei, todavia, que minha missão não está
encerrada.
Mesmo afastado do rádio há muitos
anos, agora na convivência indescritivelmente prazerosa de minha mulher
Albanira, filhos, genros, noras e netos, sinto que posso, ainda, contribuir
grandemente, junto com meus colegas acadêmicos, para engrandecer a cultura desta
terra tão querida.
É isso, aliás, o que tem sido feito
elogiavelmente por esta ALAS, que merece as nossas mais ternas homenagens, os
nossos mais sinceros respeitos e o nosso mais decidido apoio por tudo o que tem
realizado nestes seus 9 anos de funcionamento.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores,
cumpre-me, por justiça, fazer um sincero agradecimento aos acadêmicos que me
escolheram para ocupar a vaga decorrente da partida de Emir Bemerguy. De modo
especial, agradeço ao confrade Odilson Matos que, generosamente, fez a
indicação do meu nome.
A Odilson não me ligam somente laços
de amizade, mas de fraternidade. O colega de Banco da Amazônia tornou-se, no
curso dos anos, um irmão que junto comigo partilhou a notável experiência de
promover valores e talentos por este Tapajós a fora.
Odilson, como eu, também sabe que
trabalhar pela dignificação de valores culturais que nos identifiquem com nossa
terra, com nossa gente, não é missão fácil, porque nos impõe desafios. Mas é
para superar desafios que precisamos viver.
Não fosse assim, não acalentaríamos
sonhos, não nos deixaríamos inebriar pela sensação de imortalidade, não
lutaríamos para impedir que feneçam as boas obras e para evitar que murchem os
imorredouros exemplos.
Que eu possa, com a ajuda, com o
entusiasmo, e o apoio de meus colegas
acadêmicos, buscar sempre a construção de sonhos. Até mesmo dos sonhos impossíveis.
É isso que sinceramente almejo. É
isso que desejo de coração. É o que peço a Deus e a Nossa Senhora da Conceição,
nossa Santa Padroeira.
Muito obrigado.
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