Confesso que me sinto honrosamente distinguido para prestar, nesta Sessão da Saudade, em nome desta Academia e de meus ilustres confrades, uma homenagem póstuma ao nosso saudoso companheiro Emir Bemerguy, meu querido irmão.
Os seus familiares e certamente as pessoas que tiveram a felicidade de conhecê-lo, sentem muito a falta de Emir, pelo exemplo que deixou de fidelidade aos amigos, de renúncia, de humildade, de simplicidade, de dignidade e determinação em tudo que fez.
Como diz a canção: “dor tão sentida e a saudade dele está batendo em nós”. Mas, somente o tempo será capaz de ir, pouco a pouco, transformando a grande dor da sua ausência em doce e suave saudade.
Quem teve, como Emir, uma vida digna, amando intensamente Santarém e o seu povo, seus familiares e amigos, viverá eternamente em nossa memória, em nossos corações.
Emir foi dentista. Mas exerceu a profissão por 30 anos, apenas para sobreviver, para garantir o sustento de sua família, sendo também necessário, para aumentar um pouquinho mais a sua renda, atuar como professor nos Colégios Dom Amando, Santa Clara e na FIT. Mas, o que lhe dava prazer na vida eram as letras. Era escrever, compor, poetar, versejar...
Deixou, de sua vasta produção intelectual, centenas de poesias, crônicas, 20 livros prontos para serem publicados, enfim, um grande acervo que está sendo guardado e, tenho certeza, será preservado com muito zelo e carinho por sua esposa e seus filhos. Além disso, o meu sobrinho Emirzinho, criou, e está disponível na internet, o blog “ Saudade Perfumada”, para divulgar poemas, crônicas, frases, fotos, textos de livros ainda inéditos, enfim, parte do legado cultural de seu pai. Com o mesmo objetivo, criei, no meu blog “O Mocorongo”, o “Cantinho do Emir”. Estamos, portanto, eu e Emirzinho, satisfazendo um desejo de Emir, relacionado à divulgação de sua obra. Ele escreveu:
“Sei que as criações literárias e artísticas, desde que emergem das fundas abismais de almas torturadas ou alegres, não mais pertencem ao escafandrista de misérias ou quimeras que logrou garimpá-las: incorporam-se ao patrimônio cultural coletivo, por desvaliosas ou geniais que se afigurem aos múltiplos e conflitantes critérios de julgamento. Afinal, em meio aos diamantes esplêndidos há sempre uns vidrilhos ordinários que acabam, entretanto, proporcionando pequenas alegrias a pessoas cujas ambições não ultrapassam modestos limites.
Meus versos, minhas crônicas, meus livros, são esses vidrilhos sem valor, mas que podem, aqui e ali, projetar um raiozinho de luz em alguma vida escura, como o foi a minha, antes do encontro definitivo com o Cristo de todas as claridades.”
Emir encontrou, no seio da Igreja Católica, a fonte límpida para o seu pensamento cristão e a inexaurível inspiração para o seu critério de valores. Fiel ao Evangelho sem tergiversações, tornou-se arauto e mensageiro da doutrina de Cristo, pregando o amor, a paz e a justiça. Ele foi, em vida, a mais pura encarnação da humildade, da bondade e da fé.
Santarém – terra privilegiada na sua maternidade de talentos e virtudes de seus filhos, foi uma das fontes de inspiração dos versos que Emir compunha, sempre louvando, enaltecendo, enfim, externando seu amor e sua paixão pelas belezas da nossa querida Pérola do Tapajós.
Emir não nasceu em Santarém, e sim, em Fordlândia, região do Tapajós, em 04 de março de 1933. Mas, amava, era apaixonado por Santarém, onde viveu durante mais de meio século.
Fruto desse seu amor, dessa sua paixão, nasciam versos como estes:
“Ó minha Santarém, tu me apaixonas
Que maravilha fico eu vendo a sós
O beijo amorenado do Amazonas
Na face verde-azul do Tapajós”
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Santarém eu te namoro
Tenho imenso amor por ti!
E pergunto por que Deus
Não me fez nascer aqui.
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Vim de longe, mas agora
Mocorongo sou também!
Quem quiser brigar comigo
Fale mal de Santarém.
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E é preciso lembrar, citar aqui, uma das mais famosas frases
de Emir : “Não permito, senhores, que ninguém goste mais do que eu de Santarém”.
Emir aprendeu, desde criança, a procurar a felicidade
limitando os desejos em vez de tentar satisfazê-los. E isto ele disse em
versos:
“Eu não ligo pra dinheiro,
Nem pro luxo da cidade.
Vivo em paz o tempo inteiro
Com minha felicidade.
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Não tenho carro, ando a pé,
E digo muito à vontade,
Que de meu só tenho a fé
E a minha felicidade.
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Vivo bem, sem empecilhos,
Sem riqueza, sem vaidade.
A mulher e os sete filhos
São minha felicidade.
Eu disse, antes, que uma das fontes de inspiração para os poemas de Emir, era Santarém. Mas, é preciso que eu diga, também, e com muita ênfase, que a principal delas, foi a sua esposa Berenice que, pra ele, durante os 58 anos de feliz união conjugal, “não foi propriamente uma mulher, mas uma flor, uma jóia rara, preciosa. Uma gigante que nem chega a ter 1 metro e 60 de altura, mas carrega sentimentos e uma pureza d’alma de dimensões indescritíveis”, como bem a caracterizou o jornalista Paulo Bemerguy, nosso sobrinho.
Não são poucos os poemas que Emir dedicou à Berenice, sua musa inspiradora. Um deles, foi este, denominado Luz que não se apaga:
Tens o costume de indagar, brincando,
Para quem são os versos que componho...
Mas transparece, disfarçado e brando,
Certo ciúme em teu olhar tristonho.
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Por isso mesmo é que, de vez em quando,
Toda a minh’alma num soneto eu ponho
Para provar que ainda está brilhando
A velha estrela do meu lindo sonho.
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Se procurares, acharás, dispersos,
Pedacinhos de ti em tantos versos,
Detalhes do teu porte singular.
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Se for preciso repetir, repito,
E até a Lua escutará meu grito:
Hei de morrer, amor, a te adorar!
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Mas, ninguém pense que Emir expressava o seu amor, a sua paixão pela Berenice, apenas versejando. Não! Ele também, dedilhando o seu violão, cantava para a sua amada, belas canções. Vamos escutá-lo... (foi reproduzida pelo sistema de som, a voz de Emir, gravada em uma fita K7, cantando a música “Eu sei que vou te amar”)
Lúcio Ercio, um dos filhos do mano Emir, aqui presente, escreveu uma bela crônica sobre a vida e a obra de seu pai e, em um dos trechos, disse:
“O que mais caracterizou a vida de meu pai, é muito grandioso. Estava no coração! Não foi poesia ou pescaria. Não, não foi isso não. Agora, lhes digo então: era ser pai de família, ser honesto e cristão. Ser instrumento de Deus, operário da evangelização. Fez isso todos os dias diante da nossa visão, com o auxílio da Virgem Maria, a Senhora da Conceição!”
Senhores e Senhoras, é tarefa difícil, tentar, como o faço agora, resumir, encurtar as palavras para falar sobre a vida e a obra do nosso homenageado. Neste meu modesto pronunciamento, procurei seguir a recomendação de Fernando Pessoa, ou seja, “Põe o que és no mínimo que fazes”. Falei pouco, talvez, mas, acreditem: esforcei-me ao máximo, procurei falar bem.
Muito obrigado!
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