– MEDICINA DE CABOCLO –
Menos usado, porém tão eficaz como a prestigiosa infusão de folhas de sabugueiro, é o chá de fezes secas de cachorro para apressar a erupção do sarampo... Sangue de jabuti constitui maravilha infalível para extinguir teimosas erisipelas – as temidas “isipras” ou feridas malditas... Lavar os olhos com a própria urina (mas só serve a primeira do dia) acaba com as mais rebeldes inflamações da vista... Eis aí umas insignificantes amostras do folclórico, grotesco, às vezes milagroso e, não raro, assassino ou mutilante arsenal farmacêutico das comunidades ribeirinhas.
Radicados a imensas distâncias dos centros médicos, os pobres varzeiros não se podem permitir o luxo de escolher sequer entre duas alternativas, pois só têm uma: ou usam aquilo que está em seu quintal, no campo e no igapó, ou morrem sem ao menos uma tentativa de vencer a enfermidade que os prostra no fundo de uma rede. E, nesse terreno, ocorrem coisas espantosas.
Zeca, de seis anos, acorda a mãe no meio da noite: chora com dor num dente. – Peraí que eu já vou te dar remédio – diz Maria Flor, estremunhada, a esfregar os olhos.
De uma lata, na cozinha, retira um vidro pequeno e coloca duas ou três gotas de certo líquido escuro na colherinha que está sobre a mesa. – Abre bem a boca – ordena ao filho. – Antônio, anda, me ajuda aqui.
O marido, bocejando, segura a lamparina bem junto ao rosto do garoto e a mãe despeja óleo de pau-rosa na cavidade do molar estragado. O menino grita e recebe um cascudo: – Larga de ser fruxo, já vai passar!
Não demora muito e a criança, de fato, vai sossegando e pára de choramingar. Contudo, antes de amanhecer está se queixando novamente e o pai decreta: – Huje, assim que eu vortar de vorta do capim eu vou logo é distrair o cuirão desse mardito dente.
Olha o bicho que dói e assegura, com a certeza dos profissionais: – É jito como bago de milho, mas tá apustemado.
Não, Antônio Presidente não se diplomou em odontologia, mas, por necessidade, entende um pouco de tudo. Retornando, às dezesseis horas, a esposa completa o anterior diagnóstico: – O Zeca tá com a cara meia inchada. O jeito é arrancar logo esse dente. – Vê aí a tesurinha que eu vou já fazer essa distração – responde o marido.
Toma dois canecos com água e convoca: – Vem cá, curumim! Senta nesse tamburete e abre a tua bucona – ordena o caboclo, sem ao menos lavar as mãos. – Vai doer pra burro, mamãezinha!... – diz, chorando e de olhos suplicantes o menino, pedindo socorro à genitora, como quem sobe ao patíbulo para ser enforcado por um crime que não cometeu. – É pro teu bem, meu filho! – consola-o a mãe, desviando, entretanto, o olhar daquela dolorosa imagem do sofrimento infantil. – Dá-lhe um beijo na cabeça e um conselho: – Larga de teimosura e abre a buca pra acabar logo isso.
Como a vítima recusa-se a obedecer, Antônio pega uma colher das de sopa. Tendo a tesoura na mão direita, com a esquerda força a abertura dos lábios do guri que, por enquanto, já levou umas palmadas e berra como porco peiado. Os três irmãos assistem, com visível horror, a dramática cirurgia de vaqueiro...
Conseguindo, afinal, espaço bastante para trabalhar, o dentista enfia a ponta do instrumento na gengiva e levanta, de um só vez, o molar de leite, que salta sobre o assoalho! A criança deixa de gritar porque desmaiou, mas com uma cuia de água do pote na cabeça e uma xícara de café, logo volta ao normal. – Eu trouxe um mangará de banana ruxa lá da casa do Janjão Garrote – previne o pai. – Se o sangue continuar pingando, a gente sapeca o cardo na ferida. É só uma porrada.
Foi providencial a lembrança do tarimbado caboclo. Apesar das bochechadas feitas com o chá da casca do cajueiro, às nove da noite manifesta-se a hemorragia. Apanhando o mangará, Presidente dá-lhe diversos cortes e ensopa um pedaço de algodão, com que se calafetam canoas, embebendo-o no viscoso líquido que escorre. Durante cinco minutos faz compressão sobre o lugar do dente. Afrouxa, olha e... pronto! Cessou o corrimento vermelho. Persistiria, agora, apenas o risco de tétano, mas como Deus costuma dar aos pobres uma proteína especial e milagrosa, a “pobrina”, essas civilizadas ameaças acabam sendo muito mais exceções do que regras.
Entre os matutos há remédios para tudo. Alguns deles adquirem, ao longo das gerações, “status” de prodigiosas panacéias que nunca negam fogo.
Zé Potoca está procurando amarrar as pernas de uma vaca “imperriada”, para a ordenha matutina. Descuida-se um pouco e o animal desfere-lhe um coice que, embora não o atinja em cheio, deixa-lhe a perna esquerda meio machucada. Só à tardinha, porém, leva o fato ao conhecimento da família, porque o local inchou e a dor aumenta.
Maria Flor examina a contusão arroxeada e promete: – Eu vou fazer uma afumentação de andiroba com sar. Amanhã tu tá bonzinho da sirva.
Apanha o vidro, derrama o líquido de cheiro desagradável na palma da mão e faz enérgicas massagens na perna do negro, que suporta, firme. Depois, improvisa uma atadura com retalhos de pano velho e, à noite, antes de se recolherem, repete as vigorosas esfregadelas. NO dia seguinte, o crioulo mal se lembra de que recebera um agrado da vaquinha “Pupunha”...
A andiroba, espessa resina de certa árvore cuja madeira é muito usada em construções, aparece como um dos milagres medicamentosos da selva amazônica. Amolece tumores e sara feridas feias. Misturada ao mel de abelhas e à copaíba – outra seiva fantástica – dificilmente se precisa ir além da segunda embrocação nos casos de amígdalas inflamadas.
A vida, afinal, seria simplesmente impossível nesses ermos se os céus não autorizassem tais respostas a tantas emergências. Raízes, cascas, folhas, ervas e resinas do “Inferno verde” desfrutam de renome internacional por sua eficácia terapêutica. E os caboclos servem-se delas continuamente, só indo à cidade quando seus remédios tradicionais se mostram impotentes numa determinada situação.
Qualquer moléstia tem um chá, um óleo, uma garrafada correspondente. A infusão de casca de carapanaúba, mais amarga que desgosto amoroso, exerce um mágico efeito nas disenterias, enquanto a sacaca não encontra rival em problemas hepáticos. Para dissolver pedras no figado, Antônio ensina a qualquer bonitão de Santarém: – Toma o chá da folha de quebra-pedra tudo dia, como se bebesse água. Basta um mês. Misturando com cana mansa, inda é mais melhor.
Interminável seria o relacionamento de produtos incluídos no prosaico receituário caseiro. Mas, como isolados componentes de um vasto e colorido painel, mencionemos ainda alguns desses curiosos medicamentos.
Sementes torradas de jerimum constituem poderoso vermífugo. Calos e verrugas desaparecem com a aplicação de rodelas de tomate, sobre eles, durante a noite. Pingar mel de abelhas nos olhos, duas vezes ao dia, acaba com a catarata em poucos meses. A banha da cobra sucuriju exorciza o reumatismo, o chá de limão e alho cura a gripe, o jucá é ótimo cicatrizante e destrói tumores que resistem até os antibióticos. Urucu faz expectorar e a casca preciosa tem efeitos digestivos e anti-espasmódicos. O leite-de-amapá fortalece pulmões tuberculosos e o chá de folhas de graviola e laranja-da-terra não falha nos males cardíacos.
E há muito mais. Infusão de escada-de-jabuti põe fim às hemorróidas, jurubeba vence anemias, artemija cura hepatites, chá de perna de grilo solta urina presa. O paricá, a urtiga, o sebo de carneiro, as banhas de galinha, anta e tartaruga, a erva-cidreira, o capim-santo, a hortelã, o marupazinho, o jutaí, o jaramacaru, a ucuuba, a...!...
Às vezes, entretanto, os quintais e matas não fornecem a solução para um específico problema de saúde. Nesses momentos são acionados a Maria Puxadeira, mestra em desmentiduras de ossos, a Bibi Rezadeira, diplomada em espinhela caída, golpe de ar e dor-de-cotovelo. Brilha, sobretudo, o Neco Benzedor – o milagreiro da várzea.
Quando o caçula tinha seis meses de idade, Maria Flor, em certa manhã, disse ao marido: – Eu tô cismando que aquela curica da cidade que teve aqui com nós, a tar de Terma, botou mau ulhado nessa criança. Isso é quebranto puro. Aposto. Eu já dei tudo o que sei de chá e olha como o bichinho tá jururu, feito bacurau no sol.
O pai apalpa, examina o doentinho e concorda com o diagnóstico da madame, saindo logo para ir buscar o benzedor.
Chega o caboclo velho. Alto e magro, barbicha de bode, Neco Benzedor é venerado principalmente por não cobrar nada e tirar candidatos a defunto da beira do túmulo com suas rezas e puçangas. Senta-se na rede, põe o bebê sobre as pernas e segura um raminho de alecrim (arruda também serve). Concentra-se, faz uns gestos cabalísticos, resmunga orações incompreensíveis enquanto vai movendo a plantinha em vários sentidos.
Estranhamente, na mesma proporção em que o homem reza, sua muito, ensopa-se a camisa que veste e o alecrim verde vai murchando, como sensitiva. Após uns vinte minutos, o varzeiro está encharcado, as folhas do vegetal ficaram totalmente encolhidas e o garoto... bem mais esperto. Uma hora depois, brinca, alegre, com o seu maracazinho vermelho. Era quebranto puro.
Essa, a medicina de caboclo, em doses infantis, pois exigiria imensos tratados para ser esmiuçada. E os curandeiros, como o Neco, apesar das asneiras que fazem e até dos crimes que cometem com suas mandingas, vez por outra fatais, aí estão, desafiando a ciência. Representam um suculento manjar à espera dos eruditos pareceres de omniscientes, onipotentes e presporrentes parapsicólogos – os escafandristas da alma.
Radicados a imensas distâncias dos centros médicos, os pobres varzeiros não se podem permitir o luxo de escolher sequer entre duas alternativas, pois só têm uma: ou usam aquilo que está em seu quintal, no campo e no igapó, ou morrem sem ao menos uma tentativa de vencer a enfermidade que os prostra no fundo de uma rede. E, nesse terreno, ocorrem coisas espantosas.
Zeca, de seis anos, acorda a mãe no meio da noite: chora com dor num dente. – Peraí que eu já vou te dar remédio – diz Maria Flor, estremunhada, a esfregar os olhos.
De uma lata, na cozinha, retira um vidro pequeno e coloca duas ou três gotas de certo líquido escuro na colherinha que está sobre a mesa. – Abre bem a boca – ordena ao filho. – Antônio, anda, me ajuda aqui.
O marido, bocejando, segura a lamparina bem junto ao rosto do garoto e a mãe despeja óleo de pau-rosa na cavidade do molar estragado. O menino grita e recebe um cascudo: – Larga de ser fruxo, já vai passar!
Não demora muito e a criança, de fato, vai sossegando e pára de choramingar. Contudo, antes de amanhecer está se queixando novamente e o pai decreta: – Huje, assim que eu vortar de vorta do capim eu vou logo é distrair o cuirão desse mardito dente.
Olha o bicho que dói e assegura, com a certeza dos profissionais: – É jito como bago de milho, mas tá apustemado.
Não, Antônio Presidente não se diplomou em odontologia, mas, por necessidade, entende um pouco de tudo. Retornando, às dezesseis horas, a esposa completa o anterior diagnóstico: – O Zeca tá com a cara meia inchada. O jeito é arrancar logo esse dente. – Vê aí a tesurinha que eu vou já fazer essa distração – responde o marido.
Toma dois canecos com água e convoca: – Vem cá, curumim! Senta nesse tamburete e abre a tua bucona – ordena o caboclo, sem ao menos lavar as mãos. – Vai doer pra burro, mamãezinha!... – diz, chorando e de olhos suplicantes o menino, pedindo socorro à genitora, como quem sobe ao patíbulo para ser enforcado por um crime que não cometeu. – É pro teu bem, meu filho! – consola-o a mãe, desviando, entretanto, o olhar daquela dolorosa imagem do sofrimento infantil. – Dá-lhe um beijo na cabeça e um conselho: – Larga de teimosura e abre a buca pra acabar logo isso.
Como a vítima recusa-se a obedecer, Antônio pega uma colher das de sopa. Tendo a tesoura na mão direita, com a esquerda força a abertura dos lábios do guri que, por enquanto, já levou umas palmadas e berra como porco peiado. Os três irmãos assistem, com visível horror, a dramática cirurgia de vaqueiro...
Conseguindo, afinal, espaço bastante para trabalhar, o dentista enfia a ponta do instrumento na gengiva e levanta, de um só vez, o molar de leite, que salta sobre o assoalho! A criança deixa de gritar porque desmaiou, mas com uma cuia de água do pote na cabeça e uma xícara de café, logo volta ao normal. – Eu trouxe um mangará de banana ruxa lá da casa do Janjão Garrote – previne o pai. – Se o sangue continuar pingando, a gente sapeca o cardo na ferida. É só uma porrada.
Foi providencial a lembrança do tarimbado caboclo. Apesar das bochechadas feitas com o chá da casca do cajueiro, às nove da noite manifesta-se a hemorragia. Apanhando o mangará, Presidente dá-lhe diversos cortes e ensopa um pedaço de algodão, com que se calafetam canoas, embebendo-o no viscoso líquido que escorre. Durante cinco minutos faz compressão sobre o lugar do dente. Afrouxa, olha e... pronto! Cessou o corrimento vermelho. Persistiria, agora, apenas o risco de tétano, mas como Deus costuma dar aos pobres uma proteína especial e milagrosa, a “pobrina”, essas civilizadas ameaças acabam sendo muito mais exceções do que regras.
Entre os matutos há remédios para tudo. Alguns deles adquirem, ao longo das gerações, “status” de prodigiosas panacéias que nunca negam fogo.
Zé Potoca está procurando amarrar as pernas de uma vaca “imperriada”, para a ordenha matutina. Descuida-se um pouco e o animal desfere-lhe um coice que, embora não o atinja em cheio, deixa-lhe a perna esquerda meio machucada. Só à tardinha, porém, leva o fato ao conhecimento da família, porque o local inchou e a dor aumenta.
Maria Flor examina a contusão arroxeada e promete: – Eu vou fazer uma afumentação de andiroba com sar. Amanhã tu tá bonzinho da sirva.
Apanha o vidro, derrama o líquido de cheiro desagradável na palma da mão e faz enérgicas massagens na perna do negro, que suporta, firme. Depois, improvisa uma atadura com retalhos de pano velho e, à noite, antes de se recolherem, repete as vigorosas esfregadelas. NO dia seguinte, o crioulo mal se lembra de que recebera um agrado da vaquinha “Pupunha”...
A andiroba, espessa resina de certa árvore cuja madeira é muito usada em construções, aparece como um dos milagres medicamentosos da selva amazônica. Amolece tumores e sara feridas feias. Misturada ao mel de abelhas e à copaíba – outra seiva fantástica – dificilmente se precisa ir além da segunda embrocação nos casos de amígdalas inflamadas.
A vida, afinal, seria simplesmente impossível nesses ermos se os céus não autorizassem tais respostas a tantas emergências. Raízes, cascas, folhas, ervas e resinas do “Inferno verde” desfrutam de renome internacional por sua eficácia terapêutica. E os caboclos servem-se delas continuamente, só indo à cidade quando seus remédios tradicionais se mostram impotentes numa determinada situação.
Qualquer moléstia tem um chá, um óleo, uma garrafada correspondente. A infusão de casca de carapanaúba, mais amarga que desgosto amoroso, exerce um mágico efeito nas disenterias, enquanto a sacaca não encontra rival em problemas hepáticos. Para dissolver pedras no figado, Antônio ensina a qualquer bonitão de Santarém: – Toma o chá da folha de quebra-pedra tudo dia, como se bebesse água. Basta um mês. Misturando com cana mansa, inda é mais melhor.
Interminável seria o relacionamento de produtos incluídos no prosaico receituário caseiro. Mas, como isolados componentes de um vasto e colorido painel, mencionemos ainda alguns desses curiosos medicamentos.
Sementes torradas de jerimum constituem poderoso vermífugo. Calos e verrugas desaparecem com a aplicação de rodelas de tomate, sobre eles, durante a noite. Pingar mel de abelhas nos olhos, duas vezes ao dia, acaba com a catarata em poucos meses. A banha da cobra sucuriju exorciza o reumatismo, o chá de limão e alho cura a gripe, o jucá é ótimo cicatrizante e destrói tumores que resistem até os antibióticos. Urucu faz expectorar e a casca preciosa tem efeitos digestivos e anti-espasmódicos. O leite-de-amapá fortalece pulmões tuberculosos e o chá de folhas de graviola e laranja-da-terra não falha nos males cardíacos.
E há muito mais. Infusão de escada-de-jabuti põe fim às hemorróidas, jurubeba vence anemias, artemija cura hepatites, chá de perna de grilo solta urina presa. O paricá, a urtiga, o sebo de carneiro, as banhas de galinha, anta e tartaruga, a erva-cidreira, o capim-santo, a hortelã, o marupazinho, o jutaí, o jaramacaru, a ucuuba, a...!...
Às vezes, entretanto, os quintais e matas não fornecem a solução para um específico problema de saúde. Nesses momentos são acionados a Maria Puxadeira, mestra em desmentiduras de ossos, a Bibi Rezadeira, diplomada em espinhela caída, golpe de ar e dor-de-cotovelo. Brilha, sobretudo, o Neco Benzedor – o milagreiro da várzea.
Quando o caçula tinha seis meses de idade, Maria Flor, em certa manhã, disse ao marido: – Eu tô cismando que aquela curica da cidade que teve aqui com nós, a tar de Terma, botou mau ulhado nessa criança. Isso é quebranto puro. Aposto. Eu já dei tudo o que sei de chá e olha como o bichinho tá jururu, feito bacurau no sol.
O pai apalpa, examina o doentinho e concorda com o diagnóstico da madame, saindo logo para ir buscar o benzedor.
Chega o caboclo velho. Alto e magro, barbicha de bode, Neco Benzedor é venerado principalmente por não cobrar nada e tirar candidatos a defunto da beira do túmulo com suas rezas e puçangas. Senta-se na rede, põe o bebê sobre as pernas e segura um raminho de alecrim (arruda também serve). Concentra-se, faz uns gestos cabalísticos, resmunga orações incompreensíveis enquanto vai movendo a plantinha em vários sentidos.
Estranhamente, na mesma proporção em que o homem reza, sua muito, ensopa-se a camisa que veste e o alecrim verde vai murchando, como sensitiva. Após uns vinte minutos, o varzeiro está encharcado, as folhas do vegetal ficaram totalmente encolhidas e o garoto... bem mais esperto. Uma hora depois, brinca, alegre, com o seu maracazinho vermelho. Era quebranto puro.
Essa, a medicina de caboclo, em doses infantis, pois exigiria imensos tratados para ser esmiuçada. E os curandeiros, como o Neco, apesar das asneiras que fazem e até dos crimes que cometem com suas mandingas, vez por outra fatais, aí estão, desafiando a ciência. Representam um suculento manjar à espera dos eruditos pareceres de omniscientes, onipotentes e presporrentes parapsicólogos – os escafandristas da alma.
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