segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Delações sem fim, criminosos sem pena

Editorial - Estadão
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, preso desde novembro passado, estuda pedir acordo de colaboração premiada. Ciente de que são bastante reduzidas suas chances de derrubar por meio de habeas corpus os três decretos de prisão expedidos contra ele, almeja melhorar sua situação dando informações relevantes para a elucidação de outros crimes e a responsabilização de outros criminosos. Cabral não é o primeiro caso nem parece que será o último. Volta e meia divulga-se, por exemplo, a disposição do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha de colaborar com a Justiça e assim ter reduzidas suas penas. Desde a instauração da Operação Lava Jato, o País assiste a um bom número de delações, feitas e outras tantas ainda em andamento. Agora, a delação mais esperada é a de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que leva o nome de sua família. Só nesse ramo da Lava Jato consta que haja 77 delações.

Não há dúvida de que as delações premiadas podem ser um ótimo instrumento de investigação, rompendo o silêncio e a cumplicidade das organizações criminosas. É um acordo – o Estado oferece um significativo benefício na pena do criminoso em troca de informações que permitam elucidar outros e maiores crimes. Essa foi a experiência internacional que motivou o Brasil a introduzir, em seu ordenamento jurídico, a possibilidade da colaboração premiada. Atualmente, várias são as leis que preveem a delação, como a Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/1990), a Lei de Combate à Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/1998) e a Lei de Políticas Públicas sobre Drogas (Lei 11.343/2006). No momento, a Lei 12.850/2013, sobre as organizações criminosas, é a que contempla de forma mais completa a colaboração em troca da redução de penas. Seu art. 4.º diz: “O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até dois terços a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada”.

Comparada com a experiência internacional, trata-se de uma legislação bastante generosa com os delatores. Não raro se permite, em outros países, apenas um único colaborador da Justiça para cada crime. Aqui, parece não haver qualquer restrição de número de delatores. Todos dizem um pouco mais do que os investigadores já sabiam e ao final todo mundo tem sua pena reduzida. Ao contrário do objetivo inicial, a delação passa a ser vista como um meio para a impunidade, ainda que relativa. Todo mundo fala algo e todo mundo vai para casa mais cedo. Ora, isso é evidente abuso do instrumento da delação.

Além dessa banalização, aqui parece se aceitar a delação de todas as pessoas envolvidas no crime, seja qual for a sua posição hierárquica na organização criminosa. O habitual em outros países é que a colaboração premiada seja um meio para chegar aos líderes do crime. No Brasil, qualquer um, mesmo que esteja na mais alta posição na cadeia do crime, pode delatar. É de perguntar: quem o chefe da quadrilha irá delatar? Vale a pena diminuir a pena do chefe da quadrilha em troca de informações menores? Corre-se o risco de que o desejo de que nenhum crime fique sem solução – fazendo mil e um acordos de delação premiada – leve a que nenhum criminoso cumpra por completo sua pena. Tal sistema não é muito racional.

Se os elementos probatórios obtidos contra o ex-governador Sérgio Cabral são tão sólidos que ele só vê meio de diminuir a pena com a delação premiada, quais informações tão relevantes ele terá a dar para que se firme um termo de colaboração e sua pena seja reduzida?

Até aqui a delação teve um papel essencial para o bom andamento da Lava Jato. Por que, então, banalizar seu uso?

domingo, 29 de janeiro de 2017

Os anjos de cara suja

Por Arnaldo Jabor
O carnaval de hoje parece uma calamidade pública, disputada pelo narcisismo oportunista de burgueses se despindo para aparecer na TV. O carnaval foi deixando de ser dos "foliões" para ser um espetáculo para os outros; o carnaval deixou de ser vivido para ser olhado.

Não há mais musicas de carnaval - notaram? Temos de recorrer às marchinhas e sambas do passado. Mas, quase não precisamos das canções, nessa época convulsa. Só há os corpos, as multidões enlouquecidas. Quando passam as baterias das escolas, quando uns garotos sambam no pé, ainda vislumbramos os traços de uma beleza antiga. Hoje há os corpos malhados, excessivamente nus, montanhas de bundas se exibindo em uma metáfora de liberdade, pois ninguém tem tanto tesão assim, ninguém é tão livre assim.

Carnaval sempre foi sexo - tudo bem - mas, antes, havia uma doce inibição no ar, havia a suave caretice, uma moralidade mínima, havia clima de amor romântico nos bailes.

Dirão que sou um nostálgico "estraga-prazeres", mas tenho a sensação de que há uma drástica mudança de rumos nesse progresso vertiginoso.

Nosso passado era feito de toscos sambinhas, de permanências coloniais; mas, mesmo nos equívocos do nosso atraso, havia alguma coisa original e frágil que a massificação enterrou. Ainda bem que nos últimos anos voltaram os grandes blocos do asfalto, depois de um período em que só havia as escolas de samba e um grande vazio na cidade. Creio mesmo que essa volta aos blocos de rua tem a ver com a nova conexão entre as pessoas, numa espécie de rede social invisível nos céus do País.

O novo carnaval de rua tem algo de ocupação das cidades, de uma fome de democracia muito diferente dos tempos em que as primeiras damas da ditadura davam uns passinhos de samba nos camarotes da Sapucaí. Nos foliões das ruas, há quase um desejo de morrer esmagados, num fervente formigueiro onde todos se sentem um grande "um".

Hoje, as mulheres do carnaval travam uma competição frenética de bundas e seios e eu me pergunto: o que querem elas provar? Querem nos levar para o fundo do mar como sereias, querem destruir nossos lares, querem mostrar que o sexo sem limites resolverá os problemas do Brasil?

Talvez. No carnaval, vemos que nosso inconsciente cultural está à flor da carne. Quanto mais civilizado o país, mais fundo é o recalque. Já imaginaram a cascata de bundas na Suíça?

Mas, é melhor entendermos o Brasil através do carnaval do que ver a folia louca como um desvio da razão. Temos uma outra forma de seriedade, mais alta que a gravidade do mundo anglo-saxão. Em nenhum lugar do mundo vemos isso. Onde existem essas pirâmides de corpos rebolando? No entanto, olhando bem, vemos que o nosso carnaval não aspira a nenhuma desordem, ao caos, como pode parecer a um turista ou um moralista. Talvez seja uma doença "salvadora" de que o mundo precisa. A "razão perversa" é a razão do carnaval. Não a perversão como "pecado", mas como mímica de uma liberdade, como a busca de uma civilização "não civilizada", de um retorno a uma animalidade perdida e, no entanto, pulsante.

O carnaval quer transformar a cultura em natureza. As mulheres que flutuam no ar dos desfiles estão além do desejo real. Conquistadas, elas seriam reais. Mas nosso desejo quer tê-las assim: inatingíveis metáforas.

O Ocidente tem o "rock", sem duvida. Mas, em geral, o "rock" fala de uma certa luta transgressiva, de uma pretensa revolta social (hoje, bem falsa) e não da moleza feminina do carnaval.

O carnaval é feminino; o "rock" é de homem.

No carnaval, os homens querem virar mulheres. Todos querem ser tudo: os homens querem ter seios e fecundidade e as mulheres querem ser ágeis e sedutoras máquinas de excitar pênis dançantes. Daí, a importância do travestimento no carnaval, que é um paraíso gay. O mundo macho tem muito a aprender com as mulheres no carnaval, as filhas das mucamas, das escravas lindas com o sonho das estrelas de Hollywood. Aliás, os musicais americanos são próximos do carnaval. Quem inventou as escolas de samba na tela foi o Busby Berkeley.

O grande carnaval está muito presente no mundo dos foliões anônimos. Podemos ver nas ruas a preciosa origem do carnaval profundo. Lá, estão os desesperados, os famintos de amor, os malucos, os excluídos da festa oficial. O carnaval das ruas está longe do populismo oficial, que transforma o popular em "kitsch".

Nas ruas, estão os blocos dos anjos de cara suja, os blocos das escrotas, o bloco dos vagabundos, dos bêbedos ornamentais, da crioulada pobre.

Essa produção de significados novos só se dá ali, no meio dos excluídos do mundo "clean". Só os sujos são santos. Ali está a surda revolta contra o trabalho desumano e sem amor, o exorcismo da miséria, o prazer de escrachar a beleza óbvia do universo do bom desenho. Pela destruição dessa beleza "limpa", vemos a invasão de uma poesia grotesca que atravessa os séculos desde Brueghel, Bosch, Cervantes, Rabelais, passando por Goya, Ensor e tantos outros, desaguando no barroco brasileiro do caos colorido.

Alguma coisa muito profunda está oculta na loucura desses marginais. Só ali, nas ruas sujas, estão as três raças brasileiras entrelaçadas na esperança da suruba total, de um casamento grupal doido: negros, brancos e índios dando a luz a um grande bebê mestiço e gargalhante que ensine ao mundo que a vida é arte e a lógica careta é a morte.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Querem nos transformar num povo de marionetes

Por Paulo Moreira Leite, jornalista e escritor
No grotesco teatro de marionetes sem voto popular em que se transformou a política brasileira, a disputa em torno da herança de Teori Zavaski tornou-se acima de tudo uma guerra aberta pelo poder.

Uma semana depois que Elio Gáspari escreveu o artigo "Carmen Lucia, Presidente", traduzindo com palavras sóbrias um conjunto de adjetivos deslumbrados que já escapavam pela boca de apresentadores da TV Globo, a presidente do STF encontra-se a caminho de assumir o controle real dos poderes da República e tomar decisões cruciais para o presente e o futuro dos brasileiros.

Talvez não seja possível nem conveniente quebrar todos os rituais e instalar a presidente do STF na cadeira de Michel Temer, como vinha sendo sugerido. Os riscos são muitos e todo cuidado seria pouco numa conjuntura em que a prioridade é preservar a oportunidade única de avanço de um pacote de reformas reacionárias em marcha acelerada pelo Congresso, coisa que Temer tem sido capaz de encaminhar sem hesitações nem escrúpulos de consciência. A aparição da candidatura de Yves Gandra para a vaga de Teori no STF demonstra até onde pode ir o esforço de Temer para manter-se agarrado ao poder.

Uma operação de mudança, um golpe dentro de casa, doméstico, para falar sem eufemismos, poderia abrir aquela brecha que gera tumultos inconvenientes numa situação de estabilidade precária. A possibilidade é provocar forças incontroláveis, que os vitoriosos de maio-agosto querem evitar de qualquer maneira: o retorno das mobilizações populares, amplas e legítimas, a exigir que o povo seja ouvido sobre os destinos de seu país.

Numa fase histórica de esfacelamento das instituições e autoridades suspeitas demais para exercer as funções que ocupam, o essencial é o controle sobre a Lava jato. Quem tem isso, tem o poder de Estado na mão. E é dessa perspectiva que pretende desenhar o futuro do país.

É na carceragem de Curitiba que o grande jogo de interesses se resolve no país de hoje, numa guerra permanente de facções -- aqui engravatadas, sem o chinelo e o calção azul do Anísio Jobim e outros presídios -- para definir o destino dos sobreviventes da República, não só o presidente, os ministros, dezenas de senadores e deputados, centenas de empresários e altos executivos. Essa é a importância de garantir quem vai homologar, ou não, as delações da Odebrecht.

Neste local, todo mundo pode se transformar em prisioneiro e enfrentar meses de tortura psicológica para confessar e delatar. Ou ficar em silêncio e apodrecer sem perspectiva real de retorno à vida em liberdade, ainda que não tenha sido condenado.

Do lado de fora, temos um país onde uma depressão apocalíptica -- induzida pelo atual projeto de Estado Mínimo e pela insegurança do empresariado para investir -- já criou um desemprego recorde. Devorou nossa maior empresa pública, a Petrobras e os maiores grupos produtivos privados, quebrando a espinha dorsal de várias famílias de executivos e empresários que fizeram parte da 8a. economia do mundo.

No plano da Justiça-Política, ainda se inutilizou aquela parcela de homens públicos que, com seus imensos e inúmeros defeitos e fraquezas, constituiu a fatia menos corrupta, menos hipócrita e socialmente mais responsável da geração que derrotou a ditadura militar.

Por isso a retomada dos trabalhos com a indicação do ministro que irá assumir a relatoria que pertencia a Teori Zavaski ganha prioridade absoluta. Nem se cogita, sequer por um minuto, cumprir o ritual previsto no artigo 38 do regimento Supremo, que prevê que os casos deixados pela morte e ou aposentadoria devem ser herdados por seu substituto. Queremos, logo, correr para a exceção, para o caso particular, a solução interna e rápida. Virou hábito.

Pode ser até uma boa ideia. Não vamos discutir o caso específico. Mas vamos ver o argumento, entender o que está no fundo, pavimentando um caminho, pela insistência e pela repetição, até se transformar numa opção permanente, ao alcance de quem tem a mão mais forte.

Estamos aceitando demais, a toda hora, a visão de que situações excepcionais -- como a morte inesperada de um ministro do STF -- exigem respostas excepcionais. Foi assim com as conversas Lula-Dilma que impediram o ex-presidente de assumir a Casa Civil. Foi assim com o impeachment, sem prova de crime de responsabilidade, ausência tão descarada que hoje ninguém se atreve a mencionar a expressão "pedaladas fiscais." A lista de exemplos é longa, vamos combinar. Parece lógico, inofensivo, mas é reconhecidamente desastroso.

O grande formulador dessa teoria das situações excepcionais foi Carl Schmidt, o professor de Direito que construiu a jurisprudência do nazismo. Em nome de um ambiente dificílimo, do ponto de vista social, econômico e político da Alemanha na década de 30, ele dizia exatamente isso. O resultado nós conhecemos. A manipulação da investigação sobre o incêndio do Reichstag, ocorrido sob condições realmente "excepcionais" que marcavam o difícil começo do governo de Adolf Hitler -- vitorioso por margem apertada numa eleição disputada voto a voto contra o Partido Comunista -- permitiu perseguir adversários de forma implacável, suspender garantias individuais e consolidar uma tirania criminosa que só seria vencida doze anos depois por uma coalizão de inimigos externos.

Lição elementar: quando a Justiça esvazia a legitimidade da política e da democracia, o importante é chave da cadeia.

Isso explica por que nos dias de hoje o destino da Lava Jato tornou-se nova versão de periódicas discussões políticas que se anuncia em tom de grande gravidade, mas cujo significado real ninguém esclarece.

"Reforma política" e "reforma tributária" são as favoritas. Queremos uma "reforma política" para controlar criar um regime semi-parlamentarista? Para reverter a lei que proíbe contribuição de empresas?

No capitulo da "reforma tributária" o plano é cobrar impostos de quem não paga, corrigir distorções e avançar na direção de uma sociedade mais igualitária, com recursos para bancar um sistema de bem-estar social? Ou queremos uma reforma para diminuir os impostos dos ricos, favorecer a especulação e esvaziar o Estado através de medidas privatizantes?

A mais nova expressão dessa família nasceu com a morte de Teori Zavaski. Consiste em levantar o risco de uma "guinada" na Lava Jato. Ou "parar a Lava Jato." É preciso "proteger" a Lava Jato. Queremos o Zavaski que denunciou a "masmorra" de Curitiba? Ou aquele que cronometrou o impeachment e deixou Eduardo Cunha solto até terminar o serviço? Aquele mandou soltar presos sem culpa ou o Zavaski que mandou encarcerar um senador no exercício do mandato?

Mais uma vez, é preciso saber o que queremos dizer com isso.

Vamos esclarecer: a Lava Jato cumpre uma função necessária, de combate a corrupção. O desvio de recursos humilha os brasileiros, desmoraliza a democracia, favorece o privilégio e a desigualdade. Não há dúvidas aqui.

Mas a operação transformou-se numa ameaça à democracia. Questiona a divisão entre poderes. Criminaliza a política e práticas eleitorais que eram perfeitamente legítimas e legais até outro dia -- quando um princípio constitucional elementar recorda que não há crime sem lei anterior que o defina.

Não respeita o direito de defesa quando pessoas sem sentença condenatória são aprisionadas por longos períodos, medida que já chegou a justificada pelo argumento das excepcionalidades. Dizia-se que deve ser assim mesmo, pois esta é a regra da maioria dos presídios brasileiros, que não há motivo para garantir um tratamento preferencial para ricos e poderosos apanhados pela primeira vez -- jurisprudência degolada sem piedade na atual temporada de assassinatos que se vê no país inteiro, que levou, é claro, um governo democraticamente fraco a pedir socorro às Forças Armadas.

O caráter seletivo das investigações é uma evidência cristalina e desmoralizadora. Cadê o "Careca"? E o "Santo"?

Como era previsível, o ovo da serpente da situação de exceção, o temível "guarda da esquina" que levou o vice Pedro Aleixo a enfrentar o Comando Militar e votar contra o AI-5 que instalou a ditadura, em dezembro de 1968, se materializou de modo espetacular no Brasil de 2017. Para confirmar que medidas de exceção sempre estimulam novas medidas de exceção, transformando-se numa prática cotidiana de agentes do Estado, apareceu em São Paulo um delegado que usou a mesma teoria do "domínio do fato" que fez sua aparição no julgamento AP 470/Mensalão, para mandar prender Guilherme Boulos durante uma mobilização por moradia em São Paulo. Detalhe: em 2012, na AP 470, o próprio Claude Roxin, que formulou a noção de domínio do fato nos meios jurídicos internacionais, fez questão de deixar claro que havia sido interpretado de forma errada, superficial, pelas autoridades brasileiras. Como se poderia imaginar, foi essa interpretação -- distorcida -- que funcionou para justificar a prisão de Boulos.

Enfraquecida pelas denúncias contra executivos e fornecedores, a Petrobras, maior empresa da 8a economia do mundo, está sendo leiloada como se fosse carcaça enferrujada num ferro-velho. Enquanto empresas estrangeiras de porte comparável, condenadas por práticas idênticas em países considerados civilizados, são preservadas por acordos de leniência, que dispensam a água suja do banho sem jogar fora a criança, a Petrobras está sendo jogada no precipício da destruição de um patrimônio econômico, tecnológico e formação de pessoal. Este espetáculo deve prosseguir? Interessa a quem?

Juristas importantes e respeitados, dentro e fora do país, tem críticas a fazer. Ocupante da linha de frente em defesa da Lava Jato, o Estado de S. Paulo tem multiplicado editoriais em tom crítico.

Minha visão é que, há sim um debate a ser feito para restaurar a presunção da inocência, recuperar o direito de defesa e outras medidas que poderiam preservar o Estado Democrático de Direito e evitar a consolidação de um regime de exceção. Seria bom para o país.

A pressa em indicar um novo relator cumpre a função de abafar a discussão. E aqui é preciso entender uma questão sobre a possibilidade de que Teori Zavaski tenha sido vítima de um atentado.

Até agora, não surgiu um único fato capaz de sustentar esta hipótese. Isso não quer dizer que seja falsa, obviamente. Apenas que deve ser vista com prudência e dúvida, de forma responsável. Sem fatos nem evidencias conclusivas, a hipótese de um atentado criminoso cumpre uma serventia política indesejável: ajuda a criar um ambiente emocional, desfavorável a todo debate, a qualquer discussão racional. Coloca toda crítica sob suspeita, o que é uma forma primária de autoritarismo.

A censura aos trabalhos de investigação fazem parte dessa discussão. Nós sabemos o único efeito real dessa medida: são os vazamentos seletivos, que permitem à mídia amiga manipular aquilo que se conhece -- e o que se imagina -- ao sabor de suas conveniências.

No Brasil de 2017, a questão central é impedir que um país inteiro seja transformado numa nação de 206 milhões de marionetes.

TV - O Império da Mentira

Por Ipojuca Pontes, autor, jornalista, cineasta e escritor brasileiro.
O Grande Inquisidor - personagem de Dostoiévski que condenou Jesus Cristo à fogueira quando do seu retorno ao mundo, na Idade Média - proclamou o Milagre, o Mistério e a Autoridade como elementos fundamentais para subjugação da consciência humana. Cardeal de Sevilha, na qualidade de jesuíta, considerava o conceito de liberdade disseminado por Cristo uma carga por demais pesada a ser suportada pelos seres humanos. No entender do jesuíta, os homens seriam felizes se conduzidos como rebanho, longe do ônus do livre arbítrio que traria consigo sofrimento e dor.

Bem observado, a exploração da tríade evocada pelo Grande Inquisidor se encaixa à perfeição como lei básica a reger a televisão, em nossos dias o mais formidável instrumento de lavagem cerebral criado para domesticar os indivíduos. A rigor, há décadas a TV vem avassalando as massas.

De fato, tal qual um vírus letal, tanto nas chamadas democracias liberais quanto nos regimes totalitários, a onipresente TV se infiltrou no âmago humano e se impôs, em tom de farsa, como pretenso Portal da Verdade.

Na dura realidade, gerações inteiras só tomam conhecimento dos fatos manipulados pela ótica da TV, outrora considerada uma “máquina de fazer doido”, sem perceber que ela estabeleceu, em escala planetária, o Império da Mentira.

Voltemos ao Cardeal de Sevilha e o Milagre na TV?

Antes de tudo, é preciso admitir que ela mesma é um prodígio de transmissão (em som e imagem) amoldado à existência humana. No figurino de um eletrodoméstico, a TV vive de prometer milagres que nunca se cumprem, deixando o pobre mortal à mercê de maravilhas que ninguém sabe quando virão.

Exemplos? Há mais de quatro décadas, o “Fantástico” da Rede Globo anuncia tratamentos miraculosos contra o infarto, o câncer ou a doença do Alzheimer, sempre acalentando a perspectiva de que mais dia menos dia a cura de cada um desses males estará ao alcance de todos.

Há casos mais ostensivos: no Brasil (como, de resto, mundo afora), milhares de pastores mostram na TV aberta paralíticos que passam a andar, uma vez livres dos demônios, como modelos numa passarela.

Em outras ocasiões, ao vivo, depois de abençoados, dezenas de ex-miseráveis anunciam que se tornaram milionários da noite para o dia. Ou vemos/ouvimos relatos de casais, anteriormente infelizes que, por artes divinais, passaram a viver em um mar de rosas. É a TV a serviço do miraculoso.

(Já foi dito que a televisão é um circo infestado de palhaços, programas de auditório com bailarinas e roqueiros em desbunde, atores, novelas que se repetem infindavelmente, animadores, pilantras et cetera - em suma, um show em ato contínuo exibindo corridas de auto, lutas de MMA, partidas de futebol e mil peripécias imprevisíveis, tudo, afinal, para nos livrar do “tedium vitae”.

No seu lado tido como “sério”, para sacolejar as consciências anestesiadas e preencher o vazio das almas, a TV se esmera em explorar, exaustivamente, nos seus noticiários, desastres pavorosos, atentados terroristas, hecatombes, estupros, sequestros e fatalidades as mais escabrosas, transformando a tragédia humana em horrendo espetáculo tinto de sangue.

(Mas circula na praça versão da teoria compensatória segundo a qual, com a transmissão de desgraças, a “máquina de fazer doido”, de forma subliminar, procura demonstrar que a vida do espectador, por infeliz que seja, é mais tolerável do que a das vítimas expostas na telinha. Sem esquecer, é claro, que manter a boa audiência significa a alegria do departamento comercial).

E o Mistério? Na TV, o mistério parece impenetrável à razão humana, quem sabe um enigma obscuro só decifrável por poucos iniciados que, às escondidas, manipulam a engrenagem. Para uns, trata-se de mistério maior que o da Santíssima Trindade, que envolve Pai, Filho e Espírito Santo numa só pessoa.

Certa vez, um executivo do ramo revelou que o segredo enigmático da TV é que ela, nivelando tudo por baixo, descobriu a “igualdade”, eterna aspiração de espíritos acadêmicos. Pelo “tubo mágico”, dizia ele, todos seriam transformados em “escravos da igualdade”. Por ironia, em paralelo, um destrutivo escritor americano, Norman Mailer, declarou que o mistério da TV é ela manter audiência “apresentando tão baixo nível de qualidade”. O paradoxo de Mailer decifrou, na bucha, o Mistério nada misterioso da TV - uma descoberta mantida em sigilo sepulcral pelos seus mentores.

De todo modo, na sua homilia o Grande Inquisidor jamais tornou claro o papel desempenhado pelo Mistério na busca da felicidade terrena, salvo considerá-lo fundamental para subjugação da consciência humana. Já o papel da Autoridade, para ele, era tudo. Segundo pontificou, a autoridade deveria se impor pela força legal (no seu caso, o castigo da fogueira na Santa Inquisição), ou na maciota, pelo poder da palavra, da dissuasão e do engodo. Esta, tudo indica, tem sido a estratégia adotada pela gente da TV, especialmente na área do jornalismo (onde despontam, em circuito interno, figuras como Bonner e William Waack), assunto que abordaremos no próximo artigo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Trump contra a imprensa

Editorial - Estadão
“Estou em guerra contra a imprensa”, declarou no sábado o presidente Donald Trump. Na segunda-feira, confirmando o confronto com os meios de comunicação, quase todos “desonestos” na opinião do sucessor de Barack Obama, e deixando clara a atitude autoritária com que a nova administração pretende conduzir o relacionamento com os jornalistas, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, foi categórico a respeito das divergências sobre o tamanho dos públicos que compareceram à posse de Trump e à de seu antecessor, em 2009: “Este (o de Trump) foi o maior público que testemunhou uma posse. Ponto”.

Como em uma guerra normalmente há um vencedor e um derrotado, tem-se que Donald Trump estaria empenhado em prestar à maior democracia do mundo o desserviço de impor à imprensa – e por extensão à liberdade de informação e expressão – uma fragorosa derrota. A medida da desimportância que Trump atribui à liberdade de imprensa – um dos esteios da democracia norte-americana – é revelada pelo fato de, entre as bravatas, exageros populistas, promessas grandiosas e defesa emotiva dos “valores” culturais do país contidos em seu discurso de posse, não tenha sobrado espaço para uma simples menção, mesmo crítica, ao papel da imprensa.

Poucos dias após sua posse na chefia do governo da maior potência ocidental, o magnata mantém-se fiel ao estilo do outsider populista sem papas na língua que surpreendeu a todos, dentro e fora de seu país, primeiro derrotando quase 20 concorrentes para se tornar o candidato republicano à Casa Branca, e depois se elegendo presidente por obra do sistema de sufrágio indireto a partir de colégios eleitorais, embora tenha ficado quase 3 milhões de votos atrás de sua concorrente, a democrata Hillary Clinton, na soma da votação popular.

Para quem imaginava que Trump, depois de assumir a Presidência, adotaria posições menos polêmicas em relação a temas delicados como o papel da imprensa, a ação coordenada da Casa Branca executada já no sábado, o dia seguinte à posse, deixou clara a intenção do novo presidente de sustentar uma atitude hostil aos jornalistas e aos veículos de comunicação. Além do secretário de Imprensa, Sean Spicer, que fez seu primeiro briefing oficial sem permitir que perguntas fossem formuladas, o chefe de gabinete Reince Priebus e a assessora presidencial Kellyane Conway sustentaram na segunda-feira o fogo contra a imprensa, com declarações agressivas. Spicer havia afirmado no sábado que as emissoras de TV manipularam as imagens da posse de Trump com a intenção de fazer parecer que a presença de público era menor do que fora na primeira posse de Obama, em 2009. E garantiu, sem fornecer fontes da informação, que havia pelo menos 1,5 milhão de pessoas aplaudindo Trump, contestando as avaliações dos veículos de comunicação, que falaram em 700 mil, na hipótese mais otimista. Em 2009, a posse de Obama foi prestigiada por 1,8 milhão de pessoas.

O chefe de gabinete, Priebus, reagiu com indignação ao que chamou de “ataques” da imprensa e afirmou: “A questão não é o tamanho da multidão. São os ataques e a tentativa de deslegitimar o presidente. Não aceitaremos isso. Vamos lutar com unhas e dentes todos os dias”. Por sua vez, a assessora Conway procurou minimizar a importância das informações falsas sobre o público da posse fornecidas por Spicer com o argumento de que se tratava apenas de “fatos alternativos”.

A atitude de Trump em relação aos jornalistas e ao jornalismo leva a supor que, doravante, no que depender da Casa Branca, haverá um permanente confronto entre a realidade do país e a verdade oficial. Os tais “fatos alternativos” deverão proliferar. Experiência que o Brasil conhece bem. Mas, para consolo dos amantes da liberdade, as bravatas e trapaças de Trump estão condenadas ao destino que lhes reserva a sabedoria de um de seus mais ilustres antecessores, Abraham Lincoln: “Pode-se enganar a todos por pouco tempo; a poucos por todo o tempo; jamais a todos por todo o tempo”. Já aconteceu por aqui.

Entrevista de Rodrigo Silva

Pode explicar melhor a história dessa carta?
Nós tínhamos brigado feio e resolvi passar uns dias na casa da minha mãe por conta da minha filha, que mora no interior. Quando cheguei em casa para ter notícias dela, porque já havia ouvido sobre o acidente, encontrei a carta em cima da mesa da sala. Ela estava embaixo de um peso — ainda a rasguei quando puxei. Fizemos um ano [de relacionamento] na semana da morte dela. Estou muito triste e arrasado. É como se ela soubesse o que aconteceria…. ela disse “na tristeza e nos pesares”…
Você também devia estar no avião? Como assim?
Sim. Essa viagem estava marcada desde novembro. Iria ela, eu e alguns amigos do Carlos Alberto [Filgueiras]. Só não fomos antes por causa da agenda apertada dele. A Maíra era uma pessoa muito cativante que conquistava as pessoas. Ela fez uma grande amizade com o Carlos Alberto porque tinha sido a única a tirar as dores que ele tinha. Segundo ele próprio contou, tinha uma fisioterapeuta que tentava há dois dois anos tirar as dores, algo que a Maíra conseguiu em dois meses. Ela sempre o atendia, e ele o convidou para ir a Paraty. Ela, então, disse que não poderia ir sozinha, pois namorava. O Carlos Alberto autorizou me levar, mas queria me conhecer antes. Em novembro, eu o conheci em um jantar em seu apartamento. Era uma pessoa muita humilde e gentil e tinha um grande apreço por ela. Soube também que ele tratava muito bem os funcionários, oferecendo, inclusive, um almoço por ano em seu apartamento. Por mais que ela tivesse uma imensa amizade com o Carlos, jamais viajaria sozinha com ele. Ou iria comigo ou com a mãe. Eu só não fui porque brigamos feio uns dias antes. Agora penso que essa briga pode ter salvado minha vida. Será que, se eu tivesse morrido também, a história seria diferente, não teria tanta especulação?”
Brigaram por quê?
Por coisas bobas. Sou ciumento. Ela também. Ela era ainda muito nova [24 anos], eu nem tanto. Eram brigas frequentes, mas sempre voltávamos atrás e ficávamos bem. O nosso amor era muito intenso.
Sabe como ela conheceu o Carlos Alberto Filgueiras?
Eles se conheceram há uns 6, 7 meses por indicação de um amigo dele que era cliente dela. Eu tinha montado uma sala de massoterapia para ela em casa. Uma ressalva: é preciso tirar esse estigma de que massagem tem a ver com putaria… Isso não é verdade. São profissionais super sérios. Pessoas que praticam massoterapia são habilitadas em vários tipos de massagem — shiatsu, modeladora, quik, sueca, quiropraxia e outras mais. Ela havia feito um curso de masso com um massagista famoso do Spa Blue Garden. Ela também tinha entrado na faculdade de fisioterapia por ter ligação com a massoterapia. Para complementar a renda, nós também vendíamos sucos detox que produzíamos. O Carlos também era cliente dela nisso.
Ela também dava aulas de dança, não?
Sim, dança era a paixão da vida dela. Dançava desde os 16 anos. E tinha montado a primeira escola de dança da cidade dela [Juína, no interior do Mato Grosso]. Depois, veio para São Paulo para conseguir melhores oportunidades na dança. Só que ela teve uma lesão no pé, o que atrapalhou a carreira dela como dançarina. Um médico indicou a massagem. Ela melhorou e acabou se interessando e se especializando nisso depois.
Vocês tinham planos para o futuro?
Tínhamos planos de montar uma clínica. Ela já tinha muitos clientes, desde pessoas com problemas de lesões até outros com doenças graves. Ela era muito boa no que fazia. Ela queria que eu fizesse o curso [de massagem] também e pensávamos em montar uma clínica assim que ela terminasse o segundo semestre da faculdade.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

PT mergulha na ficção

Editorial - Estadão
Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva dá tratos à bola para se livrar da cadeia, os intelectuais petistas preparam propostas para “resgatar” a imagem do PT, a serem apresentadas ao 6.º Congresso Nacional do partido, marcado para abril. Nesse contexto, duas questões se destacam: a que é objeto dos textos Balanço de Governo Estrutura e Funcionamento, voltados para uma avaliação crítica da atuação do PT desde a primeira eleição de Lula à Presidência da República, e Luta Contra a Corrupção, dedicado à análise dos desvios éticos dos petistas desde que chegaram ao poder. Trata-se, de um lado, de elucubrações requentadas sobre o papel da esquerda na política brasileira. De outra parte, a que cuida de corrupção, todo o conteúdo também é puramente ficcional.

Para entender melhor a enrascada em que o PT está metido desde que o povo brasileiro descobriu quem são de verdade Lula e sua turma, convém rememorar os primórdios da fundação daquele que se propunha a ser “o” partido dos trabalhadores. Empenhados no combate à ditadura militar, intelectuais de esquerda, aliados a setores ditos “progressistas” da Igreja Católica, chegaram à conclusão, em meados dos anos 70, de que precisavam de alguém que personificasse a luta pela democratização do País e que este papel era perfeito para um jovem e aguerrido líder sindical que então se destacava no comando da elite do movimento operário: Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

Naquela época Lula não queria nem ouvir falar de política e políticos, pelos quais nutria indisfarçável desprezo, comparável apenas ao que dedicava a intelectuais e acadêmicos. Mas logo descobriu que a liderança de um partido político “de operários” lhe cairia bem, até porque estava certo – como demonstrou acima de qualquer dúvida – de que não teria nenhuma dificuldade para enquadrar devidamente os “professores” que imaginavam poder manipulá-lo.

Durante mais de 20 anos, o PT lutou contra tudo e contra todos, inclusive contra a Constituição de 1988, o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e, principalmente, contra a economia de mercado. Até que Lula se deu conta de que estava tudo errado, mas com o próprio PT. E que, para ganhar uma eleição presidencial – a terceira que disputaria, em 2002 –, era preciso fazer aquilo que hoje, no documento Estrutura e Funcionamento, a esquerda petista critica: “deslocou-se para o centro” e “deixou vago o espaço político de esquerda”. O instrumento dessa guinada foi a famosa Carta ao Povo Brasileiro, por meio da qual – denuncia agora o documento Balanço de Governo – Lula propôs “um pacto de não agressão em relação aos capitalistas” e, em vez da “ruptura” até então defendida pelo PT, optou por promover programas sociais “sem confrontar o capital”.

Fica claro, assim, que a esquerda do PT continua mais bolivariana do que nunca e defende para o Brasil a mesma “ruptura” com a economia de mercado que colocou Cuba e Venezuela onde estão hoje. Para esses salvadores da Pátria nostálgicos dos anos 50 do século passado, o Brasil precisa de um regime “democrático” totalmente controlado pelo Estado, com “proibição de bancos privados, limites regionais para propriedades rurais”, além, é claro, de um bom controle da mídia por meio da criação de um “Fundo de Defesa da Liberdade de Imprensa e do horário sindical gratuito na TV”.

Essa é uma pregação até capaz de ainda animar corações e mentes de jovens sonhadores, generosos e mal informados. E assim esse ideário poderá voltar ao programa partidário. O mais difícil, na verdade, impossível, é o PT chegar a um acordo sobre o tema “Combate à Corrupção”. A ideia é criar um “tribunal de honra” no qual personalidades do partido sejam julgadas internamente por eventuais transgressões éticas e legais. Dá para imaginar Lula sentado no banco dos réus desse tribunal?

O notório Marco Aurélio Garcia, um dos donos do partido que cultivam irrepreensível fidelidade ao Grande Chefe, deu o recado: “O 6.° Congresso do PT não é um tribunal nem será ocasião para um ajuste de contas mesquinhas entre tendências”. Perfeitamente claro.

domingo, 22 de janeiro de 2017

E agora?

Por Eliane Cantanhede - Estadão
Se até as leis e os próprios artigos da Constituição são passíveis de interpretação e adaptações às circunstâncias ou ao interesse do País, imaginem-se os regimentos... Não fosse assim, os julgamentos do Supremo Tribunal Federal, que reúne, em tese, os mais brilhantes juristas, seriam sempre por unanimidade. Não são e, até por isso, há 11 ministros, um número ímpar, para evitar constrangedores empates.

Nestes dias de luto pela morte do ministro Teori Zavascki, justo ele!, a presidente Cármen Lúcia e seus colegas têm se debruçado menos sobre leis e mais sobre o regimento da Corte, buscando algo essencial em política, mas teoricamente evitado no Direito: o consenso. A escolha do novo relator da Lava Jato, a maior investigação de corrupção de todos os tempos, tem de seguir o regimento, mas deve também recorrer às brechas para evitar uma pessoa errada, na hora errada, no lugar errado – o oposto de Teori.

Aguardar a nomeação do novo ministro do tribunal pelo presidente Michel Temer? Fazer um sorteio eletrônico incluindo todo o plenário? Ou um sorteio entre os integrantes da Segunda Turma? Remanejar um ministro da Primeira para a Segunda Turma e ungi-lo relator? Ou Cármen Lúcia analisar as brechas, ouvir os seus pares, recorrer ao seu decantado bom senso e avocar poderes para “determinar a redistribuição” da relatoria da Lava Jato (artigo 68)?

Cada uma dessas soluções, contempladas nos artigos 38 e 68 do regimento, tem problemas, suscita dúvidas e pode gerar desgaste. Mas a menos responsável é a do sorteio. Sorteio em casos dessa gravidade é falta de critério, comodismo, até covardia. Aperta-se um botão e sai de lá o sortudo – ou azarado? – relator da Lava Jato? Pode estar no regimento, mas não parece razoável. Todos os ministros, em tese, têm preparo técnico para a função, mas a questão envolve também independência, serenidade, discrição e credibilidade na opinião pública.

Uma trapaça da sorte

Por Luiz Roberto Barroso - Ministro do STF
"Quem faz grandes coisas,
E delas não se envaidece,
Esse realiza o céu em si mesmo"
Lao Tsé, Tao Te Ching

É muito difícil fugir do lugar comum nos momentos de perdas trágicas. A impermanência é o símbolo maior da nossa humanidade. A morte, a única certeza plena dessa vida. Pode acontecer a qualquer um, a qualquer momento. Mas nunca é hora. O Brasil, o Supremo e os amigos não estavam preparados para viver sem Teori Zavascki.

Subitamente, nos demos conta de como precisávamos dele. Discreto, avesso a holofotes, Teori ficaria imensamente incomodado com a comoção que causou e a atenção que está recebendo.

Não foram poucas as decisões emblemáticas que passaram por suas mãos em tempos recentes. Entre elas, a possibilidade de execução da pena após a condenação em segundo grau; o afastamento da presidência da Câmara dos Deputados de parlamentar sob acusações graves; a prisão de um senador da República acusado de interferir com investigação em curso. Para citar as que tiveram mais visibilidade.

O Brasil vive um momento difícil e grave. Parece haver uma conspiração de circunstâncias negativas. Mas é possível, também, interpretar os acontecimentos como uma virada histórica na direção de um país melhor e maior.

Teori tinha essa percepção, e supervisionava a Operação Lava Jato aristotelicamente: com virtude, razão prática e coragem moral. Continuar o trabalho de mudar o patamar ético do Brasil, com a mesma determinação e serenidade, será a forma mais digna de homenageá-lo.

Teori foi também um professor de primeira linha, que ensinou por muitos anos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e produziu alguns livros clássicos. Há poucos meses, por insistência minha, ele havia se integrado ao Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), onde lecionaríamos juntos. Também lá fará uma falta imensa.

Enfim, caberá ao noticiário enumerar os fatos da sua vida pública e de sua trajetória como magistrado e acadêmico. Aproveito o espaço que resta para um breve depoimento pessoal.

Éramos amigos próximos, mas recentes. Fomos nomeados para o Supremo Tribunal Federal com poucos meses de distância. Antes de virar juiz, estive despachando com ele diversas vezes, postulando direitos que me pareciam legítimos.

Admirava-o tanto pela cortesia e consideração com que tratava advogados anônimos quanto pela nossa fraterna e espirituosa convivência no Tribunal. A gente na vida ensina sendo. Teori Zavascki era um bom exemplo disso.

Teori tinha a simplicidade das pessoas profundas. O senso de humor de quem é verdadeiramente sério. A desafetação intelectual de quem sabe bem do que está falando. Amigo é a pessoa com quem você pode simplesmente ficar calado, contar uma derrota ou chorar mágoas. Seguro de ouvir uma palavra de alento de um interlocutor de boa-fé.

Teori era mais de prudências do que de ousadias. Mais de tradições do que de modernidades. Talvez, por isso mesmo, de uma forma dialética e afetuosa, nos completávamos.

Não faz muitas semanas que eu disse a ele, em plenário: "O país teve muita sorte de tê-lo como relator da Lava Jato". Com o estilo de sempre, e um sorriso maroto, respondeu: "Quem não teve sorte fui eu". Olhando agora, a constatação é inevitável: nenhum de nós teve.

Sentado em um restaurante longe de casa, devastado de tristeza, a comida esfriando na minha frente, escrevo essas palavras como quem chora. Com tinta, em vez de lágrimas. Ajude-nos aí de cima, amigo.

Sigamos a Luz do Mundo

Por Cardeal Orani Tempesta
A primeira leitura da missa do III Domingo do Tempo Comum (Is 8,23b-9,3) nos fala que “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu! Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade! Todos se regozijam em tua presença”. Esse texto nos recorda o Natal e também a Páscoa! Irmãos, esta luz que ilumina as trevas, que dissipa as sombras da morte, que traz a felicidade é Jesus.

O texto do Evangelho deste domingo (Mt 4,12-23) no-lo confirma: Jesus é a bendita luz de Deus que brilhou neste mundo! Ele mesmo afirmou: “Eu sou a luz do mundo! Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”! (Jo 8,12). Já escutamos tanto tais afirmações que corremos o risco de não perceber o quanto são revolucionárias, o quanto nos comprometem, o quanto são capazes de transformar a nossa vida.

Pois esse Jesus, hoje, no Evangelho, nos convida a convertermo-nos a Ele, a segui-Lo de verdade, a colocar os passos de nossa vida no Seu caminho: “Convertei-vos! O Reino dos céus está próximo”! (cf. Mt 4,17). Eis o apelo que Jesus nos faz – far-nos-á sempre! Converter-se significa mudar totalmente o rumo de nossa existência, alicerçando-a Nele e não em nós, abraçando o Seu modo de pensar e deixando o nosso, seguindo Sua Palavra e não nossa razão, nossas ideias, nossa cabeça dura, nosso entendimento curto. Quem vai arriscar? Quem vai caminhar com Ele? Quem vai abraçar Sua Palavra, tão diferente do que o mundo quer, do que o mundo prega, do que o mundo valoriza? “Convertei-vos”! Jesus nos exorta porque sabe que também nós andamos em trevas, também nós, simplesmente entregues à nossa vontade e aos nossos pensamentos, jamais poderemos acolher o Reino dos céus! Não nos iludamos! Não pensemos que somos sábios, centrados e imunes! Somos, nós também, cegos, curtos de entendimento, pecadores duros e teimosos! Nosso coração é embotado por tantas paixões e por tantas cegueiras! “Convertei-vos”!

Queridos irmãos e irmãs, como não recordar a exortação do Apóstolo? “Não andeis como andam os pagãos, na futilidade de seus pensamentos, com entendimento entenebrecido, alienados da vida de Deus”! (Ef 4,17). Quando aceitamos esse desafio, esse convite, o sentido de nossa existência muda, porque começamos a enxergar e avaliar as coisas de um modo novo, um modo diferente: o modo de Cristo Jesus! Aí se realiza em nós a palavra da Escritura: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor! Andai como filhos da luz”! (Ef 5,8).

O Evangelho também nos apresenta o chamamento dos primeiros Apóstolos: “Ele chamou enquanto caminhava junto ao mar da Galiléia. Estes homens experimentaram o fascínio da luz que emanava d´Ele e seguiram-na sem demora para que iluminasse, com o seu fulgor, o caminho das suas vidas. Mas essa luz de Jesus resplandece para todos. Jesus Cristo, luz do mundo, chamou primeiro uns homens simples da Galiléia, iluminou as suas vidas, ganhou-os para a Sua causa e pediu-lhes uma entrega sem condições. Aqueles pescadores da Galiléia saíram da penumbra de uma vida sem relevo nem horizonte para seguirem o Mestre, tal como outros o fariam logo após, e depois já não cessariam de fazê-lo inúmeros homens e mulheres ao longo dos séculos. Seguiram-No até darem a vida por Ele. Nós também somos chamados a segui-Lo!

Jesus inicia o Seu ministério e prega a conversão: “Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo” (Mt 4, 17). A conversão (Doc. de Aparecida, nº 278b) “é a resposta inicial de quem escutou o Senhor com admiração, crê Nele pela ação do Espírito Santo, decide ser Seu amigo e ir após Ele, mudando a sua forma de pensar e de viver, aceitando a cruz de Cristo, consciente de que morrer para o pecado é alcançar a vida. No Batismo e no sacramento da Reconciliação se atualiza para nós a redenção de Cristo”. (Retirado do site: http://noticias.cancaonova.com/mundo/resumo-do-documento-final-da-v-conferencia-de-aparecida/ Último acesso em: 11/01/2017)

A mensagem de Cristo sempre entrará em choque com uma sociedade contagiada pelo materialismo e por uma atitude conformista e aburguesada perante a vida. “Sê forte” (Sl 26, 14). Poderíamos perguntar-nos hoje se no nosso círculo de relações somos conhecidos por essa coerência de vida, pelo exemplo na atuação profissional, ou no estudo, se somos estudantes; pelo exercício diário das virtudes humanas e sobrenaturais, com a coragem e o esforço perseverante a que nos incita o Espírito Santo. Deus chama-nos a todos para que sejamos reflexos da luz do mundo, que não pode ficar escondida: “Somos lâmpadas que foram acesas com a luz da verdade”. (Santo Agostinho)

Peçamos a Deus o dom de ser “luz”. Assim, sejamos luz de Cristo na nossa profissão e em todos os ambientes de que participamos. “Como discípulos e missionários de Jesus, queremos e devemos proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo. Nós, cristãos, somos portadores de boas novas para a humanidade, não profetas de desventuras”. (Aparecida nº 30)

sábado, 21 de janeiro de 2017

Discurso de posse de Donald Trump

"Chefe de Justiça Roberts, presidente Carter, presidente Clinton, presidente Bush, presidente Obama, colegas americanos e pessoas do mundo: obrigado.

Nós, os cidadãos da América, estamos agora unidos em um grande esforço nacional para construir nosso país e restaurar sua promessa para todo o nosso povo. Juntos, iremos determinar o curso da América e do mundo por muitos, muitos anos. Enfrentaremos desafios, confrontaremos dificuldades. Mas faremos o serviço.

A cada quatro anos nos reunimos nesta escadaria para conduzir a ordeira e pacífica transferência de poder. E somos gratos ao presidente Obama e à primeira-dama Michelle Obama por sua graciosa ajuda durante essa transição. Eles foram magníficos. Obrigado.

A cerimônia de hoje, no entanto, tem um significado muito especial porque hoje não estamos apenas transmitindo o poder de uma administração a outra ou de um partido ao outro, mas estamos transferindo o poder de Washington, D.C., e o devolvendo a vocês, o povo.

Por muito tempo, um pequeno grupo na capital de nossa nação colheu as recompensas do governo enquanto o povo assumiu o custo. Washington floresceu, mas o povo não compartilhou sua riqueza. Políticos prosperaram mas os empregos foram embora e as fábricas fecharam. O sistema se protegeu, mas não aos cidadãos de nosso país.

As vitórias dele não foram as suas vitórias. O triunfo dele não foi o de vocês. E enquanto eles celebravam em nossa capital, havia pouco para celebrar para famílias em dificuldade ao redor de todo o país. Tudo isso muda, começando aqui e agora, porque este momento é seu momento: ele pertence a vocês. Ele pertence a todos reunidos aqui hoje e todos assistindo em todos os Estados Unidos. Este é seu dia. Esta é sua celebração. E este, os Estados Unidos da América, é seu país.


O que realmente importa não é qual partido controla nosso governo, mas se nosso governo é controlado pelo povo. 20 de janeiro de 2017 será lembrado como dia em que o povo se tornou o comandante desta nação novamente. Os homens e mulheres esquecidos de nosso país não serão mais esquecidos. Todos estão ouvindo vocês agora. Vocês vieram aos milhões para se tornar parte de um movimento histórico, do tipo que o mundo nunca viu antes. Ao centro deste movimento está uma convicção crucial de que uma nação existe para servir aos seus cidadãos.

Americanos querem ótimas escolas para seus filhos, vizinhanças seguras para suas famílias e bons empregos para si. Essas são demandas justas e razoáveis de pessoas direitas e de um público direito.

Mas, para muitos de nossos cidadãos, uma realidade diferente existe. Mães e crianças presas na pobreza das zonas carentes de nossas cidades, fábricas enferrujadas espalhadas como lápides pela paisagem de nosso país. Um sistema educacional cheio de dinheiro, mas que deixa nossos jovens e belos estudantes desprovidos de conhecimento. E o crime as gangues e as drogas que roubaram tantas vidas e roubaram tanto potencial não realizado de nosso país. Essa carnificina americana acaba aqui e acaba agora.

Somos uma única nação - e a dor deles é nossa dor. Os sonhos deles são nossos sonhos, e o sucesso deles será nosso sucesso. Dividimos um único coração, um lar e um glorioso destino. O juramento do cargo que faço hoje é um juramento de lealdade a todos os americanos. Por muitas décadas enriquecemos a indústria estrangeira às custas da indústria americana. Subsidiamos os exércitos de outros países enquanto permitíamos ao muito triste esgotamento de nosso poder militar. Nós defendemos as fronteiras de outros países enquanto nos recusamos a defender as nossas próprias. E gastamos trilhões e trilhões de dólares além mar, enquanto a infraestrutura dos Estados Unidos caiu em degradação e deterioração.

Nós tornamos outros países ricos enquanto a riqueza, a força e a confiança do nosso país se dissipou no horizonte. Uma por uma, as fábricas fecharam e deixaram nosso solo sem nem pensar nos milhões e milhões de trabalhadores americanos que foram deixados para trás. A riqueza da nossa classe média foi arrancada de suas casas e depois redistribuída ao redor do mundo. Mas isso é o passado, e agora nós estamos olhando só para o futuro.

Nós reunidos aqui hoje estamos emitindo um novo decreto a ser ouvido em todas as cidades, em todas as capitais estrangeiras e em todos os corredores do poder. Deste dia em diante, uma nova visão vai governar nossa terra. Deste dia em diante, vai ser só a América primeiro, a América primeiro.

Todas as decisões sobre comércio, sobre taxas, sobre imigração, sobre relações exteriores serão feitas para beneficiar os trabalhadores americanos e as famílias americanas.

Devemos proteger nossas fronteiras das devastações dos outros países fazendo nossos produtos, roubando nossas empresas e destruindo nossos empregos. A proteção vai levar a grande prosperidade e força. Vou lutar por vocês com todo o fôlego do meu corpo, e nunca vou decepcionar vocês. A América vai começar a vencer de novo, vencer como nunca antes.

Vamos trazer de volta nossos empregos. Vamos trazer de volta nossas fronteiras. Vamos trazer de volta nossa riqueza, e vamos trazer de volta nossos sonhos. Vamos construir novas estradas e rodovias e pontes e aeroportos e túneis e ferrovias ao redor da nossa nação maravilhosa.

Vamos tirar nosso povo do seguro-desemprego e colocá-los de volta ao trabalho, reconstruindo nosso país com mãos americanas e trabalho americano. Vamos seguir duas regras simples: Comprar [produtos] americanos e contratar americanos.

Vamos procurar amizade e boa vontade com as nações do mundo - mas vamos fazer isso com o entendimento de que é o direito de todas as nações colocar seus próprios interesses em primeiro lugar. Nós não buscamos impor nossa maneira de viver sobre ninguém, mas, em vez disso, deixar que ela brilhe como um exemplo a ser seguido.

Nós vamos reforçar alianças antigas e formar novas - e unir o mundo civilizado contra o terrorismo radical islâmico, que vamos erradicar completamente da face da Terra.

No alicerce das nossas políticas haverá uma lealdade total aos Estados Unidos da América, e através de nossa lealdade ao nosso país nós vamos redescobrir nossa lealdade um ao outro. Quando você abre seu coração ao patriotismo, não há lugar ao preconceito. A Bíblia nos diz "quão bom e agradável é quando o povo de Deus vive junto em unidade".

Devemos falar abertamente, debater nossos desentendimentos honestamente, mas sempre buscar a solidariedade. Quando a América está unida, a América é totalmente invencível. Não deve haver medo - estamos protegidos e sempre estaremos protegidos.

Seremos protegidos pelos grandes homens e mulheres de nossas forças armadas e da aplicação da lei. E mais importante, sempre seremos protegidos por Deus. Finalmente, devemos pensar grande e sonhar ainda maior.

Na América, entendemos que uma nação só vive enquanto estiver se esforçando. Não iremos mais aceitar políticos que são apenas discurso e nenhuma ação - constantemente reclamando, mas nunca fazendo nada a respeito. O tempo para conversas vazias acabou. Agora chega a hora da ação.


Não permitam que ninguém diga a vocês que isso não pode ser feita. Nenhum desafio pode equivaler ao coração, e à luta e ao espírito da América. Não iremos falhar. Nosso país irá crescer e prosperar novamente.

Estamos perante o nascimento de um novo milênio, prontos para desbloquear os mistérios do espaço, para libertar a terra das misérias da doença, e controlar as energias, indústrias e tecnologias de amanhã. Um novo orgulho nacional irá nos agitar, elevar nossas vistas e curar nossas divisões.

É hora de lembrar daquele ditado que nossos soldados nunca esquecerão, de que não importa se somos, negros, de outra cor ou brancos, todo sangramos o mesmo sangue vermelho dos patriotas. Todos desfrutamos das mesmas gloriosas liberdades e saudamos a mesma grande bandeira americana.
E se uma criança nasce num subúrbio de Detroit ou nas planícies varridas pelo vento de Nebraska, elas olham para o mesmo céu à noite, elas enchem seus corações com os mesmos sonhos e são insufladas com a brisa da vida pelo mesmo poderoso Criador. Então a todos os americanos, em todas as cidades próximas e distantes, de montanha a montanha, de oceano a oceano, ouçam estas palavras. Vocês nunca serão ignorados novamente. Sua voz, suas esperanças e sonhos irão definir nosso destino americano. E sua coragem, bondade e amor irão para sempre nos guiar pelo caminho. Juntos iremos tornar a América forte novamente.

Tornaremos a América rica novamente. Faremos a América orgulhosa novamente. Faremos a América segura novamente. E, sim, juntos iremos tornar a América grande novamente. Obrigado. Deus abençoe vocês. E Deus abençoe a América."

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Origens do colapso das prisões

Editorial - Estadão
O crônico déficit de vagas nos 1,4 mil estabelecimentos penais brasileiros tem sido objeto de planos destinados a reduzir a superlotação das penitenciárias. Com um orçamento de R$ 1,2 bilhão, o último foi lançado no final de 2011 pela presidente Dilma Rousseff. Intitulado Plano Nacional de Apoio ao Sistema Prisional, ele previa a criação de 42,5 mil novas vagas nas penitenciárias e a redução do número de presos em delegacias de polícia.

O Plano também oferecia um banco de projetos arquitetônicos a serem adotados como modelos pelos Estados. Autorizava ainda a constituição de grupos de trabalho para estimular a aplicação de penas alternativas e a instituição de um sistema de acompanhamento da execução das penas, medidas de segurança e prisão provisória. E, sob a justificativa de que o País não podia mais tolerar a violação da dignidade humana, prometia assistência integral aos presos. “Não podemos mais conviver com cadeias e presídios que são verdadeiras escolas de criminalidade, com infrações aos direitos humanos. Não podemos mais tolerar situações como essas, em que pessoas são tratadas como animais”, disse, na época, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Seis anos depois, o saldo do Plano Nacional de Apoio ao Sistema Prisional é pífio. Das 42,5 mil vagas prometidas, somente 2,8% foram entregues. Das 92 obras financiadas pelo governo federal, 34 estão paradas, 40 não têm nem 10% do serviço executado e 9 não saíram da estaca zero. Nas restantes, a única providência foi a delimitação das respectivas áreas. Em 2015, o Ministério da Justiça já estimava que, no melhor dos cenários, conseguiria entregar apenas 1,5 mil vagas naquele ano e outras tantas em 2016.

Entre os convênios com os governos estaduais, dois foram firmados para a expansão do sistema prisional do Rio Grande do Norte e do Amazonas, em cujos estabelecimentos penais as rebeliões dos últimos dias resultaram em 90 presos decapitados e carbonizados. Nos dois Estados, as obras financiadas pelo Plano estão bastante atrasadas, tendo sido executados 35,8% das do Rio Grande do Norte e 75,9% das do Amazonas. Em Roraima, como informa o jornal [ITALIC]O Globo,[/ITALIC] os convênios tiveram de ser suspensos por falta de prestação de contas entre os anos de 2012 e 2013. Depois de esse problema ter sido sanado, as obras voltaram a ser suspensas, por falhas na parte elétrica e hidráulica dos projetos. Em seguida, o governo de Roraima teve de abrir nova licitação para retomar as obras.

As razões do fracasso do Plano Nacional de Apoio ao Sistema Prisional são conhecidas há muito tempo. Elas envolvem resistência das prefeituras à criação de presídios em sua jurisdição, dificuldades jurídicas na desapropriação de áreas para a construção de penitenciárias, documentação irregular, cancelamento de licitações, desistência de empresas, inépcia administrativa dos governos estaduais, morosidade do agente financeiro encarregado do pagamento das empreiteiras e falhas da própria concepção do Plano, que, por ter sido feito às pressas, incorporou contratos de construção firmados no segundo mandato do presidente Lula para a criação de presídios destinados a jovens e adultos. Um desses contratos, assinado em 2007, previa a construção de uma cadeia pública em Gericinó, zona oeste do Rio de Janeiro. Até 2015, nada havia sido erguido no local. A implementação do Plano também foi afetada por atrasos na liberação de recursos, pois entre 2013 e 2014 o governo federal desviou 34% das verbas destinadas à expansão do sistema prisional para construir estádios para a Copa do Mundo.

O colapso do sistema carcerário, evidenciado pela trágica onda de sangrentos motins, é o resultado da inépcia dos governantes, que são pródigos em lançar planos inconsistentes e despreparados para gerir a máquina pública e cumprir promessas.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Entrevista de Casagrande

Glamurama: Por que fazer o bate-papo sobre o livro só agora, anos depois de sua publicação?
Casagrande:
“Eu já faço parte de um projeto no Ceará que chama ‘Ceará sem Drogas’, em que giro o Ceará todo dando uma palestra contando a minha história. Uma ação espetacular da Assembleia Legislativa com o problema do estado porque, no Brasil, o governo federal nunca se preocupou com isso. Ninguém tenta fazer um projeto oficial sobre isso. E aí eu tive a ideia de relançar o livro e fazer um debate em SP com profissionais da área pra eu contar a minha história e esclarecer a parte psicológica e ver se assim alguém se mexe pra fazer algo no resto do país como tem sido feito no Ceará.”
Glamurama: O que você acha do projeto de João Dória para o combate às drogas em São Paulo?
Casagrande: “Acho que tudo o que se faz no Brasil é muito pequeno em relação ao adversário que no caso é a droga. O adversário é muito grande. Não é trabalhinho deste tamanho que vai resolver. É preciso combate forte mesmo porque é uma guerra. Tem traficante do outro lado que não quer que as pessoas se recuperem, né ‘meu’?  Eles querem que o pessoal se detone porque querem vender droga. E é preciso puxar os caras para o lado do bem. É preciso falar direto com as pessoas. Esclarecer, mostrar a elas o que vai acontecer no futuro se continuar dessa maneira. É assim que a situação vai melhorar.”
Glamurama: Você é a favor ou contra a legalização de drogas?
Casagrande: “Não sou a favor e nem contra. O Brasil tem outras coisas muito mais importantes pra se pensar do que se vai liberar a maconha ou não. Eu quero que resolva a Lava Jato, o Mensalão, a segurança pública, o transporte público, saúde. O que menos me interessa e o que devia menos interessar ao governo é isso. Essa discussão é pra país desenvolvido, o que não é o nosso caso.”
Glamurama: O vício parte da curiosidade. Como enfrentá-la? 
Casagrande: “Eu não faço campanha contra a droga porque se eu for falar que a droga é ruim seria uma hipocrisia. A gente só se vicia em coisas boas. Se eu virei um dependente químico, foi porque eu adoro a droga. Então o que eu posso dizer é: você tem o livre arbítrio pra fazer o que quiser. Eu conto a minha história, que começou igual a sua curiosidade e veio parar dentro de uma clínica de psiquiatria, onde eu fiquei um ano. Se é este o risco que você quer correr, que corra. Eu não sou super herói pra falar ‘não faça isso’ ou ‘não faça aquilo’. Isso é bobagem e também não funciona. Esse negócio de ‘diga não às drogas’ não funciona porque ninguém vai dizer ‘não’. É preciso mostrar os riscos e jogar o futuro na mão de cada um. A briga que eu comprei foi essa: eu sou um dependente químico. Eu sei da dificuldade. Eu sei o que quem está usando droga está sofrendo e eu sei a dificuldade pra sair e pra ter uma vida decente. E eu tô conseguindo fazer isso e não vou ficar assistindo de camarote outros dependentes se matando enquanto eu, que sou igual, estou me recuperando. Me sinto no dever de ajudar.” 
Glamurama: Você sente uma melhora diária em sua recuperação?
Casagrande: “Sim. Hoje eu tô bem, tô ótimo. E a cada vez que eu faço um evento desse eu fico melhor. Sempre mais seguro.”
Glamurama: Se dar alta um dia e largar o tratamento está nos seus planos?
Casagrande:
“De forma nenhuma. Eu faço tratamento há 10 anos e tive por vários anos altos e baixos. Achava que podia beber, que usar um pouquinho não daria nada… Foi de um tempo pra cá que a coisa se estabilizou. Não uso mais, não bebo mais, faço todas as coisas direito e regradas e não vou abandonar [o tratamento] nunca. Eu tô numa fase ótima da minha vida. Está tudo funcionando, e tá tudo funcionando porque eu tô sóbrio. Esse é o detalhe. Minhas conquistas eu devo a minha sobriedade.”
Glamurama: Como é ser um dos comentaristas que mais virou manchete no jornalismo brasileiro?
Casagrande: “Eu vivo a minha vida. Se algumas coisas que eu faço são tão importante assim pra chamar a atenção pública… De algumas coisas eu acho graça e levo na boa. Levo minha vida de forma muito simples. Me dou com todo mundo e não tenho a mínima separação em nada, sabe?”
Glamurama: E quais são seus programas favoritos?
Casagrande: “Amo ir ao teatro e ao cinema. Vejo todos os filmes estrangeiros. O último que vi foi um iraniano chamado “O Apartamento”. Amei!”
Glamurama: Sempre bem acompanhado? 
Casagrande: “Sempre bem acompanhado. Tô feliz… repete ele.”
Baby do Brasil foi assunto vetado na ocasião por Casagrande. Já Graziela, acompanhante terapêutica do ex-jogador, falou sobre o namoro: “Ela tem feito muito bem a ele. Foi um encontro de almas”, completou em tom de alívio. “Ela não usa drogas e não bebe. Ele precisava de alguém assim na vida dele. Ela o tem ajudado muito. O acompanha em tudo.”
*
Hoje, quase dez anos depois, ele ainda se interna aos domingos e fica na clínica até terça-feira, às vezes quarta, fazendo terapia de grupo e se consultando com psicólogos e psiquiatras. Diariamente, inclusive nos fins de semana, se reúne com sua terapeuta que virou também uma grande amiga, Graziela Maria. Juntos, vão ao cinema, ao teatro às quintas, a cafés, restaurantes e etc. Lembrada por Mariana Godoy durante o debate de que o sacerdócio tornara impossível manter uma vida pessoal, Graziela riu, sem graça, e disse que faz o que gosta.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

'Sim, nós fizemos'; leia a íntegra do discurso de despedida de Obama

É bom estar em casa. Meus concidadãos americanos, Michelle e eu estamos comovidos com todos os bons votos que recebemos nas últimas semanas. Mas hoje é minha vez de dizer obrigado. Quer tenhamos coincidido em nossas posições ou raramente tenhamos concordado, minhas conversas com vocês, americanos –em salas de estar e escolas; em fazendas e fábricas; em restaurantes populares ou em postos avançados distantes– são o que me mantiveram honesto, me mantiveram inspirado e me deram força para seguir adiante. Aprendi com vocês todos os dias. Vocês me fizeram um presidente melhor e vocês me fizeram um homem melhor.

Vim para Chicago originalmente quando tinha 20 e poucos anos, ainda tentando decifrar quem eu era, ainda à procura de um objetivo na vida. Foi em bairros não muito distantes daqui que comecei a trabalhar com grupos de igreja à sombra de siderúrgicas fechadas. Foi nestas ruas que testemunhei o poder da fé e a dignidade discreta de pessoas trabalhadoras confrontadas com dificuldades e perdas. Foi aqui que aprendi que a transformação só acontece quando pessoas comuns se envolvem, se engajam e se unem para reivindicá-la.

Após oito anos como seu presidente, ainda acredito nisso. E não sou apenas eu quem acredita. Esse é o coração latejante de nossa ideia americana –nosso experimento ousado com o autogoverno.

É a convicção de que todos fomos criados iguais, dotados por nosso Criador de certos direitos



inalienáveis, entre os quais estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.

É a insistência em que esses direitos, embora sejam manifestos, nunca foram autoexecutados; que nós, o povo, por meio do instrumento de nossa democracia, podemos formar uma união mais perfeita.

Essa é a grande dádiva que nossos fundadores nos legaram. A liberdade de correr atrás de nossos sonhos individuais, com nossa suor, trabalho e imaginação –e o imperativo de lutarmos juntos, também, para alcançar um bem maior.

Há 240 anos o chamado de nossa nação à cidadania confere trabalho e objetivos a cada nova geração. Foi esse chamado que levou patriotas a escolher a república e não a tirania, que levou os pioneiros a abrir caminho rumo ao oeste do país, que inspirou escravos a aventurar-se naquele caminho arriscado rumo à liberdade. Foi o que atraiu imigrantes e refugiados a cruzar oceanos e o rio Grande, que impeliu mulheres a buscar o direito de votar, que inspirou trabalhadores a se organizar. Foi por isso que soldados americanos sacrificaram suas vidas na praia de Omaha e em Iwo Jima, no Iraque e no Afeganistão; foi por isso que homens e mulheres de Selma a Stonewall se dispuseram de sacrificar as suas, também.

Então é isso o que queremos dizer quando falamos que a América é excepcional. Não que nosso país tenha sido perfeito desde o começo, mas que demonstramos a capacidade de mudar e de melhorar a vida daqueles que vêm depois.

Sim, nosso progresso tem sido desigual. O trabalho da democracia sempre foi árduo, contencioso e por vezes sangrento. Para cada dois passos à frente, muitas vezes temos a impressão de termos recuado um. Mas o longo avanço da América vem sendo definido pelo movimento para frente, por uma constante ampliação de nosso credo fundador, de modo a abraçar todos, e não apenas alguns.

Se eu tivesse lhes dito oito anos atrás que a América reverteria uma grande recessão, revigoraria nossa indústria automotiva e daria início à fase mais longa de geração de empregos de nossa história... se eu tivesse dito que abriríamos um capítulo novo com o povo cubano, que fecharíamos o programa iraniano de armas nucleares sem disparar um único tiro e que eliminaríamos o arquiteto do 11 de setembro... se eu tivesse dito que conquistaríamos o casamento entre pessoas do mesmo sexo e que garantiríamos a outros 20 milhões de nossos concidadãos o direito a um plano de saúde –vocês talvez tivessem dito que estávamos querendo demais.

Mas foi o que fizemos. Foi o que vocês fizeram. Vocês foram a transformação. Vocês responderam às esperanças das pessoas, e por causa de vocês, segundo praticamente qualquer critério, a América é um lugar melhor e mais forte hoje do que era quando começamos.

Dentro de dez dias o mundo vai assistir a um ato que caracteriza nossa democracia: a transferência pacífica de poder de um presidente livremente eleito a outro. Prometi ao presidente eleito Trump que minha administração asseguraria a transição mais tranquila possível, como o presidente Bush fez comigo. Porque cabe a todos nós assegurar que nosso governo possa nos ajudar a fazer frente aos muitos desafios que ainda enfrentamos.

Dispomos do que precisamos para isso. Afinal, ainda somos o país mais rico, mais poderoso e mais respeitado da Terra. Nossa juventude e garra, nossa diversidade e abertura, nossa capacidade ilimitada de risco e reinvenção significam que o futuro deve nos pertencer.

Mas esse potencial só será realizado se nossa democracia funcionar. Será realizado apenas se nossa política refletir a decência de nosso povo. Apenas se todos nós, independentemente de nossa filiação partidária ou de nossos interesses particulares, ajudarmos a restaurar o senso de objetivos comuns que nos é tão seriamente necessário agora.

É disso que quero tratar hoje: o estado de nossa democracia.

Entendam que a democracia não requer uniformidade. Nossos fundadores brigaram, fizeram concessões e esperaram que fizéssemos o mesmo. Mas eles sabiam que a democracia requer, sim, um senso básico de solidariedade –a ideia de que, não obstante todas nossas diferenças externas, estamos nesta juntos; que nos elevamos ou tombamos com um só.

Houve momentos ao longo de nossa história que ameaçaram romper essa solidariedade. O início deste século tem sido um desses momentos. Um mundo cada vez menor, a desigualdade crescente; as mudanças demográficas e o espectro do terrorismo –essas forças puseram à prova não apenas nossa segurança e prosperidade, mas também nossa democracia. E o modo como enfrentamos esses desafios à nossa democracia vai determinar nossa capacidade de educar nossos filhos, gerar bons empregos e proteger nossa pátria.

Em outras palavras, vai determinar nosso futuro.

Nossa democracia não vai funcionar sem a ideia de que todos têm oportunidades econômicas. Hoje a economia está crescendo outra vez; os salários, as rendas, o valor dos imóveis e as aposentadorias estão voltando a subir, e a pobreza voltou a diminuir. Os ricos estão pagando uma parcela mais justa de impostos, ao mesmo tempo em que o mercado acionário quebra recordes. O índice de desemprego se aproxima do nível mais baixo em dez anos. O índice de pessoas sem seguro nunca foi mais baixo. Os custos da saúde estão subindo no ritmo mais lento em 50 anos. E, se alguém puder montar um plano que seja comprovadamente melhor que as melhorias que promovemos ao nosso sistema de saúde –que cubra o mesmo número de pessoas a um custo mais baixo-, eu darei apoio público.

É por isso, afinal, que servimos nosso país –para fazer a vida da população ser melhor, não pior.

Mas, apesar de todos os avanços reais que conquistamos, sabemos que não são o suficiente. Nossa economia não funciona tão bem nem cresce tanto quando poucos prosperam às expensas de uma classe média crescente. A desigualdade gritante também corrói nossos princípios democráticos. Enquanto os 10% mais ricos acumularam uma parcela maior da riqueza e receita, muitas famílias demais, nos centros pobres das grandes cidades e nos condados rurais, ficaram para trás: operários de fábricas demitidos, garçonetes e profissionais de saúde que têm dificuldade em pagar suas contas, convencidos de que a situação é armada para ser desfavorável a eles, que seu governo defende apenas os interesses dos poderosos. É uma receita de mais cinismo e polarização de nossa política.

Não existem soluções fáceis para esta tendência de longo prazo. Concordo que nosso comércio deve ser justo, e não apenas livre. Mas a próxima onda de deslocamento econômico não virá dó exterior. Virá como consequência do avanço implacável da automatização, que torna obsoletos muitos empregos bons da classe média.

Por isso precisamos forjar um novo pacto social –para garantir a todos nossos filhos a educação que necessitam; para conferir aos trabalhadores o poder de se sindicalizarem em busca de salários melhores; para modernizar a rede de segurança social de modo a refletir o modo como vivemos hoje e empreender mais reformas tributárias, para que as empresas e os indivíduos que lucram mais com a nova economia não evitem cumprir suas obrigações ao país que possibilitou seu sucesso. Podemos discutir sobre as melhores maneiras de alcançar esses objetivos. Mas não podemos transigir em relação aos próprios objetivos. Pois, se não gerarmos oportunidades para todas as pessoas, os desafetos e divisões que paralisaram nosso progresso vão apenas se intensificar nos próximos anos.

Existe uma segunda ameaça à nossa democracia, uma ameaça que é tão velha quanto nosso próprio país. Após minha eleição, falou-se em uma América pós-racial. Por bem-intencionada que fosse, essa visão nunca foi realista. A raça continua a ser uma força poderosa e divisiva em nossa sociedade. Já vivi o suficiente para saber que as relações raciais estão melhores hoje do que eram dez, 20 ou 30 anos atrás –isso é visível não apenas nas estatísticas, mas nas atitudes de jovens americanos de todo o espectro político.

Mas não chegamos onde precisamos chegar. Todos nós temos mais trabalho a fazer. Afinal, se todo problema econômico é apresentado como uma luta entre uma classe média branca que trabalha arduamente e minorias que não são merecedoras, então trabalhadores de todas as cores serão relegados a disputar as sobras, enquanto os ricos se retiram ainda mais dentro de seus enclaves privados. Se nos negarmos a investir nos filhos de imigrantes, apenas porque eles não se parecem conosco, prejudicaremos as perspectivas futuras de nossos próprios filhos –porque essas crianças morenas vão representar uma parcela maior da força de trabalho da América. E nossa economia não precisa ser um cálculo em que alguns ganham tudo e outros ficam com nada. No ano passado houve um aumento de renda para todas as raças, todas as faixas etárias, para homens e mulheres.

Daqui em diante, precisamos respeitar e implementar as leis contra a discriminação –nas contratações, no setor habitacional, na educação e no sistema de justiça criminal. É o que exigem nossa Constituição e nossos ideais mais elevados. Mas as leis não serão o bastante, por si sós. É preciso que os corações mudem. Para que nossa democracia funcione neste país cada vez mais diversificado, é preciso que cada um de nós dê ouvidos ao conselho de um dos grandes personagens da ficção americana, Atticus Finch, que disse: "Você nunca compreende uma pessoa realmente enquanto não considera as coisas desde seu ponto de vista... enquanto não entra em sua pele e caminha nela".

Para os negros e outras minorias, isso significa vincular nossas próprias lutas por justiça aos desafios que muitas pessoas neste país enfrentam: o refugiado, o imigrante, o pobre rural, o americano transgênero e também o homem branco e de meia idade que, visto de fora, pode parecer que desfruta de todas as vantagens, mas que tem visto seu mundo virado do avesso pelas transformações econômicas, culturais e tecnológicas.

Para os americanos brancos, isso significa reconhecer que os efeitos da escravidão e das leis Jim Crow não desapareceram de repente na década de 1960; que, quando grupos minoritários manifestam insatisfação, não estão apenas fazendo racismo ao inverso ou praticando correção política; que, quando promovem protestos pacíficos, não estão reivindicando tratamento especial, mas o tratamento igual prometido pelos fundadores de nossa nação.

Para os americanos natos, isso significa recordar que os estereótipos manifestados hoje sobre imigrantes foram expressos, em termos quase idênticos, em relação aos imigrantes irlandeses, italianos e poloneses. A América não foi enfraquecida pela presença desses imigrantes; eles abraçaram o credo deste país, e o país saiu fortalecido.

Assim, independentemente da posição que ocupamos, precisamos nos esforçar mais; para partir da premissa de que cada um de nossos concidadãos ama este país tanto quanto nós o amamos; que eles valorizam o trabalho e a família como nós; que seus filhos são tão curiosos, cheios de esperança e dignos de amor quanto são os nossos.

Nada disto é fácil. Para muitos de nós, tornou-se mais seguro recuar para dentro de nossas próprias bolhas, quer sejam nossos bairros, nossas universidades, nossos lugares de oração ou nossos feeds de mídias sociais, cercados por pessoas de aparência semelhante à nossa, que compartilham nossa visão política e nunca contestam nossas premissas. A polarização crescente de opiniões, a crescente estratificação econômica e regional, a fragmentação de nossa mídia em canais para todos os gostos –tudo isso faz com que esse grande processo de divisão em categorias distintas pareça natural, até inevitável. E, cada vez mais, nos sentimos tão seguros envoltos em nossas bolhas que só aceitamos informações, verídicas ou não, que se enquadram com nossas opiniões, em vez de basear nossas opiniões nas evidências existentes.

Esta tendência representa uma terceira ameaça à nossa democracia. A política é uma batalha de ideias; ao longo de um debate sadio, priorizamos metas diferentes e meios distintos de alcançar essas metas. Mas, sem alguma base comum de fatos, sem a disposição de aceitar novas informações e reconhecer que nosso adversário está apresentando um argumento justo e que a ciência e a razão têm importância, vamos continuar a falar sem ouvir ou ser ouvidos por nossos interlocutores, impossibilitando qualquer consenso.

Isso não faz parte daquilo que torna a política tão desanimadora? Como podem os políticos ficar falando em déficits quando propomos que se gaste dinheiro com pré-escola para nossas crianças, mas não quando reduzimos os impostos pagos pelas grandes empresas? Como podemos desculpar os lapsos éticos cometidos em nosso próprio partido, mas criticar arduamente o outro partido quando ele faz o mesmo? Essa classificação desonesta de fatos não é apenas desonesta –ela acaba derrotando sua própria finalidade. Porque, como me dizia minha mãe, a realidade costuma nos cobrar a conta.

Tomemos o desafio das mudanças climáticas. Em apenas oito anos, reduzimos nossa dependência do petróleo estrangeiro pela metade, dobramos nossa energia renovável e levamos o mundo a um acordo que encerra a promessa de salvar este planeta. Mas, sem ação mais ousada, nossos filhos não terão tempo para discutir a existência das mudanças climáticas: estarão ocupados enfrentando seus efeitos –desastres ambientais, turbulências econômicas e ondas de refugiados climáticos buscando abrigo em outros países.

Podemos e devemos discutir sobre a melhor maneira de abordar o problema. Mas simplesmente negar o problema significa não apenas trair as gerações futuras: é trair o espírito essencial de inovação e resolução prática de problemas que guiou os fundadores de nosso país.

Foi esse espírito, nascido do iluminismo, que nos converteu em grande potência econômica; foi esse espírito que decolou do Kitty Hawk e de Cabo Canaveral; é esse o espírito que cura doenças e coloca um computador em cada bolso.

É esse espírito –a crença na razão, no empreendedorismo e na primazia do direito, não da força, que nos permitiu resistir à atração do fascismo e da tirania durante a Grande Depressão e a construir uma ordem pós-Segunda Guerra Mundial com outras democracias, uma ordem baseada não apenas no poderio militar e em filiações nacionais, mas em princípios: o estado de direito, os direitos humanos, as liberdades de religião, de expressão, de reunião e de imprensa.

Essa ordem está sendo desafiada hoje –primeiramente por fanáticos violentos que alegam falar em nome do islã; mais recentemente, por autocratas em capitais estrangeiras que enxergam o mercado livre, as democracias abertas e a própria sociedade civil como ameaça ao seu poder. O perigo que cada um representa à nossa democracia tem alcance maior que um carro-bomba ou um míssil. Ele representa o medo das mudanças; o medo das pessoas de aparência diferente à nossa, que falam ou oram de modo diferente; o desprezo pelo estado de direito, que obriga os líderes a prestar conta de seus atos; a intolerância da dissensão e do livre pensamento; a crença de que a espada, a arma de fogo, a bomba ou a máquina de propaganda política são os árbitros finais do que é certo ou errado.

Graças à coragem extraordinária de nossos homens e mulheres nas Forças Armadas e aos agentes de inteligência, policiais e diplomatas que os apoiam, nenhuma organização terrorista estrangeira planejou e executou com sucesso um ataque em nosso país nos últimos oito anos; e, embora Boston e Orlando nos recordem de quão perigosa pode ser a radicalização, nossas agências policiais estão mais vigilantes e são mais eficazes que nunca. Eliminamos milhares de terroristas, incluindo Osama bin Laden. A coalizão global que lideramos contra o Estado Islâmico eliminou seus líderes e arrancou metade de seu território. O EI será destruído, e ninguém que ameaça a América estará em segurança, jamais. A todos os membros das Forças Armadas, ser seu comandante em chefe tem sido a grande honra de minha vida.

Mas proteger nosso modo de vida requer mais que nossos militares. A democracia pode sucumbir quando cedemos ao medo. Assim, do mesmo modo que nós, cidadãos, precisamos nos manter vigilantes contra a agressão externa, precisamos nos precaver contra o enfraquecimento dos valores que nos tornam quem somos. Foi por isso que trabalhei nos últimos oito anos para colocar a luta contra o terrorismo em posição legal mais firme. Foi por isso que acabamos com a tortura, trabalhamos para fechar Guantánamo e reformar nossas leis de vigilância, de modo a proteger a privacidade e as liberdades civis. É por isso que rejeito a discriminação contra americanos muçulmanos. É por isso que não podemos deixar de participar de lutas globais –para ampliar a democracia, os direitos humanos, os direitos das mulheres e os direitos LGBT–, por mais que nossos esforços sejam imperfeitos, por mais que possa parecer conveniente ignorar esses valores. Pois a luta contra o extremismo, a intolerância e o sectarismo faz parte da luta contra o autoritarismo e a agressão nacionalista. Se o alcance da liberdade e do respeito pelas leis encolher em todo o mundo, aumentará a probabilidade de guerras dentro e entre países, e nossas próprias liberdades acabarão ameaçadas.

Portanto, sejamos vigilantes, mas não tenhamos medo. O EI vai tentar matar inocentes. Mas não poderá derrotar a América, a não ser que traiamos nossa Constituição e nossos princípios na luta contra ele. Rivais como Rússia e China não poderão equiparar-se à nossa influência em todo o mundo –a não ser que abrirmos mão daquilo que representamos e nos convertermos em apenas mais um país grande que oprime seus vizinhos menores.

E isso me conduz à questão final que quero abordar: nossa democracia é ameaçada sempre que nós a damos como garantida. Todos nós, independentemente de nossa filiação partidária, devemos nos engajar na tarefa de reconstrução de nossas instituições democráticas. Quando nossos índices de participação eleitoral estão entre os mais baixos entre as democracias avançadas, precisamos facilitar o voto, e não dificultá-lo. Quando a confiança em nossas instituições está baixa, devemos reduzir a influência corrosiva do dinheiro em nossa política e fazer questão que os princípios de transparência e ética sejam respeitados por nossos políticos. Quando o Congresso está disfuncional, precisamos levar nossos distritos a incentivar os políticos a agirem pautados pelo bom senso, e não por posições extremas e rígidas.

E tudo isso depende de nossa participação; depende de cada um de nós aceitar a responsabilidade da cidadania, independentemente do rumo seguido pelo pêndulo do poder.

Nossa Constituição é uma dádiva notável e bela. Mas, na realidade, é apenas um pergaminho. Ela não possui poder, por si própria. Somos nós, o povo, que lhe damos poder –com nossa participação e com as escolhas que fazemos. Se nos posicionamos ou não em defesa de nossas liberdades. Se respeitamos e aplicamos as leis, ou não. A América não é algo frágil. Mas as conquistas de nossa longa jornada rumo à liberdade não são garantidas.

Em seu próprio discurso de despedida, George Washington escreveu que o autogoverno é a base de nossa segurança, prosperidade e liberdade, mas que "muitos esforços serão feitos, a partir de causas e de origens diferentes, para enfraquecer a convicção desta verdade em vossas mentes"; que devemos preservar essa convicção "com ansiedade zelosa"; que devemos rejeitar "a primeira aurora de cada tentativa de alienar qualquer parcela de nosso país do restante dele ou de enfraquecer os laços sagrados" que nos unem.

Enfraquecemos esses laços quando deixamos nosso diálogo político ficar tão corrosivo que pessoas de bom caráter são desencorajadas de atuar na política; tão grosseiro e rancoroso que enxergamos americanos com os quais discordamos como não apenas estando enganados, mas sendo malévolos, de alguma maneira. Enfraquecemos esses laços quando definimos alguns de nós como sendo mais americanos que outros; quando tachamos o sistema por inteiro como sendo inevitavelmente corrupto e atribuímos a culpa por isso aos líderes que elegemos, sem analisar nosso próprio papel em sua eleição.

Cabe a cada um de nós ser um daqueles guardiões ansiosos e zelosos de nossa democracia e abraçar a tarefa compensadora que nos foi dada de procurar continuamente melhorar esta nossa grande nação. Porque, não obstante todas nossas diferenças externas, todos compartilhamos o mesmo título que é motivo de orgulho: cidadão.

Em última análise, é isso o que nossa democracia exige. Ela precisa de você. Não apenas quando há uma eleição, não apenas quando seus próprios interesses limitados estão em jogo, mas ao longo de toda sua vida. Se você está cansado de argumentar com desconhecidos na internet, experimente conversar com um desconhecido na vida real. Se alguma coisa precisa ser consertada, arregace as mangas e organize pessoas para consertá-la. Se você está decepcionado com os políticos que elegeu, agarre uma prancheta, colete algumas assinaturas e candidate-se a um cargo na política, você mesmo. Compareça. Mergulhe fundo. Persevere. Às vezes você vencerá. Às vezes perderá. Supor que há uma reserva enorme de bondade nos outros pode ser um risco, e haverá momentos em que o processo o decepcionará. Mas, para aqueles de nós que tivemos a sorte de fazer parte desse trabalho, de vê-lo de perto, ele pode energizar e inspirar as pessoas, garanto a vocês. E, na maioria das vezes, sua fé na América e nos americanos será confirmada.

A minha o foi, sem dúvida alguma. Nos últimos oito anos pude ver os rostos esperançosos de jovens recém-formados e de nossos oficiais militares mais recentes. Chorei com famílias enlutadas, em busca de respostas, e encontrei a graça divina numa igreja de Charleston. Vi nossos cientistas ajudarem um paralítico a recobrar o senso de tato e vi nossos guerreiros feridos voltarem a andar. Vi nossos médicos e voluntários reconstruir após terremotos e impedir o avanço de pandemias. Vi as crianças menores nos fazerem lembrar de nossas obrigações de cuidar de refugiados, de trabalhar em paz e, sobretudo, de velar pelo bem uns dos outros.

A fé que depositei todos aqueles anos atrás, não longe daqui, no poder dos americanos comuns de efetuarem mudanças –essa fé foi recompensada de maneiras que eu jamais poderia ter imaginado. Espero que a sua também tenha sido. Alguns de vocês que estão aqui hoje ou que estão assistindo em casa estiveram conosco em 2004, em 2008, em 2012 –e talvez vocês ainda mal acreditem que conseguimos realizar tudo isto.

Vocês não são os únicos. Michelle –há 25 anos você é não apenas minha mulher e a mãe de minhas filhas, mas também minha melhor amiga. Você assumiu um papel que não tinha pedido e o fez seu, com graça, garra, estilo e bom humor. Você fez da Casa Branca um lugar que pertence a todos. E uma nova geração passou a ter aspirações maiores por ter você como exemplo a seguir. Você me deixou orgulhoso. Deixou o país orgulhoso.

Malia e Sasha, sob as circunstâncias mais estranhas possíveis vocês se tornaram duas jovens surpreendentes, inteligentes e lindas, mas, o que é mais importante, gentis, profundas e cheias de paixão. Vocês conviveram tão facilmente com o peso dos anos passados sob os holofotes. De tudo o que eu já fiz em minha vida, o que me dá maior orgulho é ser seu pai.

A Joe Biden, o garoto briguento de Scranton que se tornou o filho favorito de Delaware: você foi o primeiro nome que escolhi para minha equipe e foi minha melhor escolha. Não apenas porque você foi um vice-presidente fantástico, mas porque, com isso, acabei ganhando um irmão. Amamos você e Jill como se fossem de nossa família, e a amizade com vocês tem sido uma das grandes alegrias de nossa vida.

A meus assessores excepcionais: por oito anos –e, no caso de alguns de vocês, há muito mais tempo que isso– venho me fortalecendo com sua energia e procurando refletir de volta aquilo que vocês demonstraram diariamente: coração, caráter e idealismo. Vi vocês crescerem, se casarem, ter filhos e iniciar jornadas próprias, novas e incríveis. Mesmo quando as coisas ficaram árduas e frustrantes, vocês nunca deixaram que Washington os dominasse. A única coisa que me dá orgulho maior que tudo o que realizamos é pensar em todas as coisas notáveis que vocês vão realizar daqui em diante.

E a todos vocês aí fora –a cada organizador que se mudou para uma cidade desconhecida, a cada família gentil que o acolheu, a cada voluntário que já foi de porta em porta, a cada jovem que foi votar pela primeira vez, a cada americano que viveu e respirou o trabalho árduo de conquistar mudanças –vocês são os melhores partidários e organizadores que seria possível desejar, e serei eternamente grato. Porque, sim, vocês mudaram o mundo.

É por isso que deixo este palco esta noite ainda mais otimista em relação a este país do que estava quando começamos. Porque sei que nosso trabalho não apenas ajudou tantos americanos; ele inspirou tantos americanos –especialmente tantos jovens aí fora– a acreditar que vocês podem fazer uma diferença; a atrelar suas esperanças a algo maior que vocês mesmos. Esta geração que está chegando –uma geração altruísta, criativa, patriótica–, eu vi vocês em todos os cantos do país. Vocês acreditam em uma América justa e inclusive; sabem que as transformações constantes têm sido a marca registrada da América, algo não a ser temido, mas abraçado, e vocês estão dispostos a levar adiante este trabalho árduo da democracia. Dentro em breve vocês vão nos superar em número, e acredito que, graças a isso, o futuro estará em boas mãos.

Meus concidadãos americanos, servir a vocês tem sido a maior honra de minha vida. Não vou deixar de fazê-lo; na verdade, estarei à sua disposição, como cidadão, por todos os dias de vida que me restarem. Por enquanto, quer você seja jovem ou jovem de coração, tenho um último pedido a lhe fazer como seu presidente –a mesma coisa que lhe pedi quando você apostou em mim, oito anos atrás.

Estou pedindo que você acredite. Não em minha capacidade de trazer mudanças, mas na de vocês.

Estou pedindo que vocês se aferrem à fé inscrita em nossos documentos fundadores; aquela ideia sussurrada por escravos e abolicionistas; o espírito cantado por imigrantes, lavradores e aqueles que marcharam pela justiça; o credo reafirmado por aqueles que plantaram bandeiras em lugares desde campos de batalha no exterior até a superfície da Lua; um credo que está ao cerne de todo americano cuja história ainda não foi escrita:

Sim, nós podemos.

Sim, nós fizemos.

Sim, nós podemos.

Obrigado. Deus os abençoe. E que Deus continue a abençoar os Estados Unidos da América.