Por que o PMDB saiu do governo?
O quadro da
economia é de extrema gravidade, o Brasil deve ter um ponto de
inflexão, caso contrário teremos um quadro de insolvência de alguns
setores. Em janeiro, não tivemos um deficit de R$ 10 bilhões porque
entraram
R$ 11 bilhões da arrecadação do ano passado. Em
fevereiro, o deficit do governo foi de R$ 25 bilhões, voltamos à era
pré-Real. A taxa de juros do cheque especial hoje é maior do que na
época anterior ao Plano Real, de 450% em média. Então são dados que,
agregados ao desemprego, à paralisação da economia e à venda de imoveis,
à inadimplência, os cinco maiores bancos do Brasil provisionaram R$
150 bilhões — isso de provisão de inadimplência. Temos uma situação
onde podemos ter um governo quebrado, os estados não estão pagando, e
essa é uma linha que tem que mudar.
O problema é só econômico?
Eu
não entro em questões pessoais com a Dilma, fui líder da Dilma durante
um ano e já havia sido líder do Lula também; não tenho nada contra a
Dilma, mas a questão é a seguinte: um país como o Brasil funciona
calcado em algumas bases, que são a segurança jurídica, credibilidade do
governo e expectativa. Hoje, o governo não tem segurança jurídica, não
fornece credibilidade. Os últimos anos foram intervencionistas na
economia e, por conta de tudo isso, o governo não consegue dar um
cenário para a economia, então não se tem uma previsibilidade. Toda vez
que um agente econômico tende a não prever, ele tende a ser mais
conservador do que deveria ser.
Qual a parcela de culpa do PMDB nesse quadro?
Primeiro,
no governo do presidente Lula ajudamos bastante e ocupamos alguns
ministérios setoriais. Eu era líder do governo, sempre disse as coisas
que eu achei que deveria. O Brasil virou um player mundial, calcado em
expectativas positivas. No governo da presidente Dilma, o PMDB continuou
em ministérios setoriais, mas a política econômica recrudesceu, ela
virou uma política econômica ideológica, passou a discutir tabelamento
de lucro, a discutir regulação do mercado, de preços, ela passou a fazer
coisas que foram corroendo o sistema de credibilidade. O PMDB não tem
nenhuma inferência na política econômica do governo. O Michel (Temer)
nunca foi ouvido para nada, fez-se apenas uma tentativa de colocar o
Michel na coordenação política. Com alguns meses se retirou isso,
terminou em conflito. Então, se você disser que o PMDB tem
responsabilidade no governo, tem. Em 2014 o PMDB disputou a chapa?
Disputou, mas quero lembrar que, em 2014, 40% dos votos foram contrários
à coligação, quase metade do partido já estava rachado. De lá para cá,
a situação piorou, o isolamento do Michel foi maior e a visão do
governo se fechou nela mesma. E me permitam lembrar o seguinte: no
começo do governo da Dilma, a política era de escantear o PMDB e
construir um novo Brasil que era a área do Lula querendo criar um
centrão calcado em Cid Gomes, que era do Pros, e do Kassab, do PSD.
Sair agora não pode parecer oportunismo?
De
forma nenhuma. Pelo seguinte: desde 2014, no dia em que Eduardo Campos
morreu, eu anunciei o meu apoio ao Aécio. Se você pegar a minha
entrevista, você vai ver que eu falo que a economia está equivocada, que
o governo era intervencionista e eu não apoiaria. Fui até o Michel e
disse: “Michel, meu amigo, eu não vou votar em você. Se eu votar em
você, estou votando na Dilma, essa política econômica não está dando
certo e o país vai quebrar”.
Neste momento há uma perspectiva de poder real do PMDB, e vocês desembarcam justamente nesse momento…
Mas porque o quadro foi se agravando.
Por que agora?
Vamos
desconstruir aqui o discurso do PT. Eles dizem: vocês têm
responsabilidade porque vocês estavam juntos. Se estivéssemos no mesmo
avião, o PT era o piloto e nós eramos os comissários de bordo. A gente
apenas dizia: apertem os cintos, aqui está seu saquinho para vomitar e,
se acontecer alguma coisa, é para enganar os passageiros, então pilotos
nós não fomos. Segundo, o PMDB não está saindo só agora, nós não
estamos ungindo um golpe, isso está errado. O PMDB está se posicionando
de acordo com a cobrança da sociedade. Não foi o PMDB quem colocou 1,4
milhão de pessoas na Avenida Paulista, nenhum partido faria isso. Não
foi o PMDB que pegou os empresários e fez com que eles pagassem
anúncios clamando o impeachment, como fizeram ontem com aquelas páginas
amarelas. Então veja bem, os partidos políticos representam a
sociedade, se manifestam da forma como está se manifestando. Se os
partidos não se reorientarem para interpretar o desejo dessa sociedade,
nós não estaríamos representando essa sociedade.
Muitas
das pessoas que estão na rua levam cartazes contra a corrupção. E
muitos dos atores do PMDB estão envolvidos na Lava-Jato...
Espera
aí, ninguém está envolvido, as pessoas foram citadas. Eu repito um
mantra que é fundamental para as pessoas entenderem isso: estamos em uma
democracia, todo mundo é igual. Então qualquer um, em uma democracia,
pode ser investigado. Do presidente da República ao menor funcionário,
se houver alguma dúvida, tem que se prestar conta disso. Não há nenhum
demérito em ser investigado, eu fui. Falaram três coisas ao meu
respeito, uma delas é que eu estava em um almoço e o Paulo Roberto
chegou. Eu não tenho nenhuma relação com o Paulo Roberto, zero. Segundo,
que a UTC fez uma doação para a campanha do meu filho, o Ricardo fez a
doação, eu tenho o recibo e, junto com o recibo, eu peço uma
declaração de que o dinheiro é legítimo, é regular, que não tem nada de
errado, eu agreguei isso na declaração, por cuidado meu. O que eu
quero dizer é o seguinte, ser mencionado não é o problema, agora o
demérito não é ser investigado, é ser condenado, na hora das
condenações, os condenados caem fora. Você não pode dizer que o Brasil
vai parar e que o centro do país vai ser a Lava-Jato, a operação é
muito importante…
A Lava-Jato não atrapalhou o governo Dilma então?
Atrapalhou, claro.
E por que não vai atrapalhar o futuro governo do PMDB?
Não vai atrapalhar o futuro governo do PMDB.
Qual é a diferença?
Porque
nós temos uma operação que foi detectada pelo tesoureiro do PT e pelo
partido operando o governo, você não tem isso no PMDB. Nos temos alguns
nomes citados que estão sendo investigados, a Lava-Jato tem
investigações em CPF e em CNPJ, o CNPJ do PT está na Lava-Jato, o do
PMDB não está, são algumas pessoas do PMDB que estão sendo investigadas.
Não parece reducionismo o senhor falar em algo pontual quando tem um vice-presidente da República citado…
Citado, não acusado. Não tem acusações contra o Michel.
Mas
o senhor, por exemplo, o senhor aparece em três momentos da Lava-Jato,
na lista do Janot, onde o Paulo Roberto fala que o senhor é um dos
beneficiados…
Ele não diz que eu sou um dos beneficiados, ele diz que foi lá pedir um apoio…
O senhor é citado na Delação do Delcídio…
Dizendo
o quê? Que ele me considera um cara preparado, que eu conheço bem o
sistema financeiro e que o grupo do PMDB indicou bem. Eu não indiquei
ninguém, eu sou oposição ao governo. Agora se o delírio do Delcídio vai
paralisar o país é vocês quem vão escolher.
Qual a sua opinião em relação ao impeachment da presidente, o senhor é a favor?
Hoje, eu sou a favor do impedimento.
Por quê?
Porque
hoje ela perdeu todas as condições de governabilidade e de conduzir o
país. A credibilidade, o risco financeiro, o risco social, as pedaladas
fiscais, juntando tudo isso…
Há quem defenda que, nas pedaladas, o Michel Temer também estaria envolvido.
Olha,
assinando um decreto (de crédito suplementar). Você já tem
jurisprudência sobre isso. Vocês me desculpem, mas o Michel Temer não
responde por isso.
Então ele não poderia ser questionado sobre isso em um eventual governo?
Não poderia.
Qual a diferença?
Quem
determina as operações é a cadeia de comando, o Michel não está na
cadeia de comando. A cadeia de comanda era a Fazenda, a Secretaria do
Tesouro e a Dilma. A questão é a seguinte, não se tira um governo por um
fato indeterminado, não se tirou o Collor por causa do Fiat Elba. O
governo apodrece e cai, o governo está caindo por culpa dele, não é o
PMDB nem o PSDB que está tirando.
Mas o impeachment será mais jurídico do que político?
Não,
a decisão é política, os questionamentos é que são de cunho jurídico e
político. O Collor foi tirado por uma decisão política ou jurídica?
Foi uma decisão política. Ele foi julgado no Supremo depois disso, e o
que aconteceu com ele? Ele foi absolvido. O Supremo mandou devolver o
mandato do Collor?
Qual vai ser a diferença do governo Temer?
Não
sei, porque ainda não tem governo Temer. Eu acho que, se o Temer
assumir, teremos mais condições de reconstruir uma base política com
outro eixo, que não é o eixo do PT e fazer uma mudança de rumo para o
Brasil, mudança que o PMDB tem condições para fazer.
Na avaliação do senhor, o país não vai ficar muito conflagrado na eventual gestão do Temer?
O
país já está conflagrado. A questão é a seguinte, quem estará de um
lado, quem vai ficar do outro e onde estará a maioria. Hoje, nós temos
uma conflagração e o governo não tem a maioria. Então, não adianta
colocar um embate, porque na hora em que o PT coloca para votar ele não
ganha, perde.
E qual é o tamanho que o Lula sai dessa história?
Não
sei. Não terminou. Agora não gosto de ver o Lula na situação que ele
está, porque ele fez um grande trabalho, é um grande brasileiro, ele
contribuiu com o país, entrou nessa correnteza de erros.
Foi um erro nomeá-lo?
Não sei. Mas é lamentável ver Lula nessa situação.
E se a Dilma escapar?
Não
sei. Depende. Deixa eu te fazer uma pergunta. O PMDB está entregando
os cargos, vão fazer um loteamento e vão vender para os partidos para
tentar ter votos? Estão tentando pegar os votos e estão construindo uma
tática, que no meu entender, é vergonhosa e equivocada, que é a tática
da covardia? É fazer com que os caras não apareçam para votar. Então,
veja a situação em que o governo está. Não é dizer vá lá defender, é se
esconder e não vir aqui (no Congresso). Eu quero saber qual parlamentar
vai fazer este papel. Então vai se ter um ministério, que sexta-feira
anunciarão, e eu não sei quem vai ser o ministro, quem vai aceitar. E
este ministério que ela vai nomear com 45 dias, é um ministério que tem
prazo de validade, ela está dando só em troca de voto. Será que depois
que ela construir, ela vai manter estas pessoas ou ela vai fazer de
novo, dizer uma coisa e depois da campanha vai fazer outra? Agora ela
está numa campanha para ficar e depois vai jogar fora os ministros com
quem ela negociou votos? Ou ela vai governar com este time que ela
acabou de montar para ter 180 votos? Se ela vai ter base parlamentar e
discurso político para reconstruir o país, não sei.
Eduardo Cunha não causa constrangimento?
O
Eduardo Cunha está respondendo a uma série de investigações, ele está
lá tocando a Câmara dos Deputados. Mas veja bem, o PMDB não é Eduardo
Cunha, e não estamos discutindo nada de grupo de governo com o Michel.
Não tem essa discussão. Nós vamos aguardar os fatos.