A lógica econômica da abertura do Arco Norte está no fato de os
portos da região serem mais próximos de EUA, Europa e Ásia. A distância
em navio entre o Porto de Itaqui (MA), por exemplo, e o Japão, via canal
do Panamá, é 23% menor do que o percurso entre o Porto de Santos (SP),
de onde saem 85% da produção agrícola do país, e Tóquio. Isso significa
menos custo de combustível e menos tempo de viagem.
Os projetos
atraem, obviamente, investidores chineses, que já estão estudando a
ferrovia que liga o Mato Grosso ao Pacífico, por exemplo, e querem
assegurar uma oferta de bens agropecuários a preços acessíveis de
maneira permanente. Mas a onda de projetos também atrai outros
estrangeiros, como os europeus. Mais tímidas nesse movimento estão as
empreiteiras brasileiras envolvidas na Operação Lava-Jato, mas há um
conjunto de grupos menores negociando com estrangeiros.
No dia 31 haverá um leilão de áreas de portos no Pará pela Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). No último leilão, uma área
no estado não teve interessados. Mas, desta vez, o governo promoveu
adequações e prevê uma concorrência acirrada. Entre os terminais que
serão leiloados, estão áreas para transporte de granéis sólidos vegetais
vindos do interior do país. — Só o terminal de Outeiro (PA) tem potencial para movimentar quase
tudo o que já passa por Paranaguá (PR) hoje — disse o consultor de
logística da CNA, Luiz Antonio Fayet.
Essa saída pelo Norte, porém, depende de um arranjo logístico
multimodal que o governo e os empresários brasileiros tentam destravar
há anos. Os projetos, basicamente, procuram conectar por rodovias,
trilhos ou hidrovias a produção do Centro-Oeste aos portos do Norte.
O lançamento, em fevereiro, do edital para derrocamento (retirada de
rochas do fundo do leito) do Pedral do Lourenço no Rio Tocantins, para
que ele seja navegável durante todo o ano, era esperado há mais de uma
década pelo porto do Pará, explicou o ministro dos Portos, Hélder
Barbalho. A hidrovia, quando perene, tende a ser mais barata e menos
poluente do que outros modais. — Enquanto a (ferrovia) Norte-Sul não chega a Barcarena (PA), essa
pode ser a alternativa de ligação entre o ponto atual da ferrovia e
Marabá, onde estão os portos — disse Barbalho.
RODOVIA, HIDROVIA E FERROVIA
Segundo Valter
Casimiro Silveira, diretor-geral do Departamento Nacional de
Infraestrutura Terrestre (Dnit), a abertura da hidrovia do Tocantins,
que é licitada pelo órgão, representará uma redução significativa dos
fretes do agronegócio daqui a cinco anos, quando a obra deve ficar
pronta. O custo é estimado em R$ 560 milhões. A licitação já apontou um
vencedor para elaboração de projetos, a DTA Engenharia, e a fase atual é
de análise dos documentos da empresa. — Você diminui o custo do frete e
aumenta a competitividade dos nossos fornecedores no mercado
internacional — disse Casimiro.
Além da obra que deve perenizar a hidrovia, que hoje só funciona
poucos meses do ano, o governo levou a audiências públicas, em
fevereiro, a concessão do trecho da BR-163 entre Sinop (MT) e Miritituba
(PA), de onde os grãos podem partir em hidrovia até o exterior. O valor
estimado da concessão é de R$ 6,6 bilhões. Também foi anunciado para
2016 o leilão da ferrovia entre Lucas do Rio Verde (MT) e Miritituba,
com previsão de investimentos de R$ 9,9 bilhões, a chamada Ferrogrão,
que deve correr paralelamente à rodovia.
Os produtores brasileiros veem com animação a saída Norte, mas
apontam cuidados a serem tomados na construção e concessão. Edeon Vaz
Ferreira, consultor de logística da Associação dos Produtores de Soja e
Milho do Mato Grosso (Aprosoja) criticou na audiência pública do leilão
da BR-163 o teto das tarifas de pedágio, que fariam o trecho de Sinop a
Miritituba custar até R$ 880 por caminhão. A associação criticou também a
redução do ritmo das obras de pavimentação da BR-163, enquanto o leilão
não ocorre.
Os movimentos pelos modais de transporte no interior do país também
vêm estimulando a instalação e a contratação de terminais nos portos nos
estados do Amazonas (Itacoatiara), da Bahia (Salvador e Ilhéus), do
Maranhão (Itaqui) e do Pará (Santarém e Vila do Conde). A CNA prevê que o
fluxo por esses portos quase triplique até 2025.
Segundo Barbalho, essas iniciativas na abertura do Arco Norte
representam um avanço logístico no país no sentido da intermodalidade, o
uso conjunto e concorrência dos diversos tipos de modais, aumentando a
atratividade dos terminais portuários da região Norte. Ferreira, da
Aprosoja, destaca, porém, que leva pelo menos cinco anos para os
terminais saírem do papel: — O projeto (de porto) que for licitado agora só começará a operar em 2021.
MAIS DA METADE DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
A redução
do valor do frete na abertura da saída Norte do país está ligada também
ao local onde tem se concentrado — e deve avançar — a maior parte da
produção agropecuária do país. Segundo estudo de Fayet, é acima do
paralelo geográfico 16° Sul de onde sai mais da metade da produção
nacional, mas o consumo interno naquela região é de um quinto do
verificado na área brasileira mais ao sul. Além disso, um estudo técnico
que circulou no governo no ano passado apontou que essa área do
Centro-Oeste tem uma produção agrícola menos vulnerável a variações
climáticas mais severas.
A articulação dos empreendimentos para abertura do Arco Norte foi
acompanhado diretamente pela presidente Dilma Rousseff, que vê nessas
ações um potencial legado logístico. Com os soluços do Programa de
Investimentos em Logística (PIL), que ainda não conseguiu leiloar uma
ferrovia, por exemplo, o governo vem, cada vez mais, concentrando
esforços nos principais eixos de transportes, dos quais o Arco Norte é o
de investimentos mais vultuosos.
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