segunda-feira, 14 de março de 2016

Depoimento de Lula

O delegado insistiu na pergunta sobre o Vaccari:
- Eu ouvi uma grande quantidade de colaboradores e fui ouvir João Vaccari. Quando gostaria de pedir que o João Vaccari me explicasse sobre essas situações ele falou: “Não vou falar nada” E eu respeito isso, de verdade. Eu acho mesmo que o Estado é que tem que provar, eu concordo com isso. Se da parte do senhor, ex­-presidente, falou: “Olha, eu não tinha conhecimento e não acredito que ele tinha”, eu vou respeitar essa posição, não é a tese que, pessoalmente, acredito, mas é a tese que eu vou respeitar.

Lula, então, responde:
- Está ótimo. Eu espero que quando terminar isso aqui alguém peça desculpas. Alguém fale: “Desculpa, pelo amor de Deus, foi um engano”.

Lula disse ainda, quando indagado sobre doações de campanha, que “um Presidente da República que se preze não discute dinheiro de campanha, se ele quiser ser presidente de fato e de direito ele não discute dinheiro de campanha”. Lula também foi questionado sobre a suposta compra de um tríplex do Guarujá, que recebeu reformas da OAS, uma das empreiteiras investigadas pela operação. Ele afirmou que se trata de uma "sacanagem homérica" inventada pela Polícia Federal e pela imprensa.

O petista foi levado a depor coercitivamente na 24ª fase da Operação Lava-Jato. A força-tarefa suspeita que Lula era um dos beneficiários dos crimes na Petrobras. Leia, abaixo, aqui a íntegra do depoimento.

O delegado da PF indagou no depoimento:­

- O senhor chegou a procurar alguma empresa para pedir dinheiro para esses projetos no Instituto Lula?

O ex-presidente respondeu:
- Não, porque não faz parte da minha vida política, ou seja, eu desde que estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas. Mas, o ex-presidente não descartou que assessores seus possam ter mantido alguma relação com essas empresas. Lula disse isso na continuidade do questionamento sobre a relação entre o instituto e as empresas.

O delegado questionou:
- Era só o diretor financeiro que pedia ou mais alguém fazia esse tipo de pedido?

Lula respondeu:- Deve ter mais gente que pedia, aí teria que perguntar para quem conhece.

O delegado continuou:
- Para quem o conhece?

O petista diz:
- Deveria perguntar para quem conhece.

O delegado indaga:
- Que seriam os diretores financeiros?

O ex-presidente responde:
- O Paulo Okamotto, pode perguntar para o Paulo quem é que pedia.

Lula afirmou que não conhece “ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro” e que, se precisa de recursos para fazer um projeto, "tem que pedir". No depoimento, colhido no Aeroporto de Congonhas, o ex-presidente ficou irritado, ao ser questionado sobre as doações ao Instituto Lula.

O delegado da PF perguntou:
- É comum as empresas procurarem espontaneamente o Instituto Lula para oferecer doações?

Lula respondeu que não:
- Aliás, eu não conheço ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro, nem o dízimo da igreja é espontâneo, se o padre ou o pastor não pedir, meu caro, o cristão vai embora, vira as costas e não dá o dinheiro, então dinheiro você tem que pedir, você tem que convencer as pessoas do projeto que você vai fazer, das coisas que você vai fazer. Lamentavelmente, no Brasil ainda não é uma coisa normal, mas no mundo desenvolvido isso já é uma coisa normal, ou seja, não é nem vergonha, nem crime, alguém dar dinheiro para uma fundação, aqui no Brasil a mediocridade ainda transforma tudo em coisas equivocadas.

Por mais de uma vez, o ex-presidente respondeu rispidamente as perguntas dos agentes da Polícia Federal. Um dos momentos que mais incomodou o ex-presidente foi quando questionado sobre quem era o responsável dentro do Instituto Lula por fazer o recolhimento das doações.

A Polícia Federal questiona:­
- Quem tem essa função de pedir dinheiro em nome do instituto?

Lula responde:
- A direção do instituto, isso é feito em qualquer instituto, isso vale...

O delegado da PF pergunta:­
- Alguma pessoa em específico?

O ex-presidente afirma:
- Isso vale, não, deve ser o tesoureiro e o diretor financeiro do instituto. Delegado da Polícia Federal:­ Quem são? Declarante:­ Hoje eu acho que é o Celso Marcondes, mas isso funciona como qualquer instituto, do Fernando Henrique Cardoso, do Sarney, do Bill Gates, do Bill Clinton, do Kofi Annan

Mais adiante, Lula continua a responder a perguntas sobre o instituto.

Delegado da Polícia Federal:
Então é possível, por exemplo, que o próprio Paulo Okamotto ou a Clara Ant tenham pedido doações a qualquer empresa, entre elas a Camargo Correa?

Lula:­ É possível, é possível.

Delegado da Polícia Federal:­ Certo. O mesmo se aplica à OAS, ou seja...

Lula: A todas.

Delegado da Polícia Federal:­ Odebrecht?

Lula:­ A todas.

Delegado da Polícia Federal:­ Andrade Gutierrez?

Lula:­ Aos bancos...

Delegado da Polícia Federal:­ À UTC?

Lula:­ Todas, todas, todas.

Delegado da Polícia Federal
:­ Queiroz Galvão...

Lula:­ Todas.

Delegado da Polícia Federal:­ Enfim, todas essas fizeram doações ao Instituto Lula...

Lula:­ Não sei se todas fizeram.

Delegado da Polícia Federal:­ Não sabe?

Lula:­ Não sei, querido.

Delegado da Polícia Federal:­ Certo.

Lula:­ Você perguntou da, da...

Delegado da Polícia Federal:
­ Camargo Correa...

Lula:­ Da Camargo Correa, eu disse que a imprensa já deu que a Camargo Correa tinha doado dinheiro para o instituto e disse que ela doou metade do que doou para o Fernando Henrique Cardoso, o restante...

Delegado da Polícia Federal:­ O senhor saberia dizer quem na Camargo Correa seria o interlocutor da Camargo Correa para fazer doação, ou da OAS?

Lula:­ Não sei. Não sei.

Delegado da Polícia Federal:­ Alguém da OAS, alguém da Andrade Gutierrez, que a gente possa verificar porque passou por essa pessoa?

Lula:­ Eu já disse para você que a mim não interessa discutir esses assuntos, não me interessa

Lula interrompeu o interrogatório para ir tomar café e chegou a bater com os papéis à mesa de acordo com relatos de agentes que participaram do depoimento.


Em depoimento, Lula compara tríplex a imóvel do Minha Casa, Minha Vida
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em depoimento à PF, que a investigação sobre a compra do tríplex do Guarujá é uma "sacanagem homérica" inventada pela Polícia Federal e pela imprensa. Lula admitiu ter ido visitar o apartamento com o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, acusado de ter pago reformas na cobertura e no sítio de Atibaia em benefício de Lula. Na visita, o ex-presidente comparou o imóvel a uma casa construída no programa "Minha Casa, Minha Vida":
Delegado da Polícia Federal: Qual era a intenção da segunda visita?

Lula: Quando eu fui a primeira vez, eu disse ao Léo que o prédio era inadequado porque além de ser pequeno, um triplex de 215 metros é um triplex “Minha Casa, Minha Vida”, era pequeno.

Delegado da Polícia Federal:­ Isso é bom ou é ruim?

Lula:­ Hein?

Delegado da Polícia Federal:­ Isso é bom ou é ruim?

Lula:­ Era muito pequeno, os quartos, era a escada muito, muito... Eu falei “Léo, é inadequado, para um velho como eu, é inadequado.” O Léo falou “Eu vou tentar pensar um projeto pra cá.” Quando a Marisa voltou lá não tinha sido feito nada ainda. Aí eu falei pra Marisa: “Olhe, vou tomar a decisão de não fazer, eu não quero” Uma das razões é porque eu cheguei à conclusão que seria inútil pra mim um apartamento na praia, eu só poderia frequentar a praia dia de finados, se tivesse chovendo. Então eu tomei a decisão de não ficar com o apartamento.

Delegado da Polícia Federal:­ Quanto tempo essa segunda visita da dona Marisa na...

O petista se mostrou bastante irritado com as perguntas sobre a obra e desabafou: Eu acho que eu estou participando do caso mais complicado da história jurídica do Brasil, porque tenho um apartamento que não é meu, eu não paguei, estou querendo receber o dinheiro que eu paguei, um procurador disse que é meu, a revista Veja diz que é meu, a Folha diz que é meu, a Polícia Federal inventa a história do triplex que foi uma sacanagem homérica, inventa história de triplex, inventa a história de uma off­shore do Panamá que veio pra cá, que tinha vendido o prédio, toda uma história pra tentar me ligar à Lava Jato, toda uma história pra me ligar à Lava Jato, porque foi essa a história do triplex. Ou seja, aí passado alguns dias descobrem que a empresa off­shore, não era dona do triplex, que dizem que é meu, mas era dono do triplex da Globo, era dono do helicóptero da Globo. Aí desaparece o noticiário da empresa de off­shore. A empresária panamenha é solta rapidamente, nem chegou a esquentar o banco da cadeia já foi solta porque não era dona do Solaris que dizem que é do Lula, ela é dona do Solaris que dizem que é do Roberto Marinho, lá em Parati. E desapareceu do noticiário. E eu fico aqui que nem um babaca respondendo coisas de um procurador, sabe, que não deve estar de boa fé, quando pega a revista Veja a pedido de um Deputado do PSDB do Acre e faz uma denúncia. Então eu não posso me conformar. Como cidadão brasileiro, eu não posso me conformar com esse gesto de leviandade.

No depoimento, o ex-presidente também negou ter procurado empresas investigadas pela Operação Lava-Jato para pedir doações ao Instituto Lula. O petista afirmou, no entanto, que funcionários do instituto podem ter pedido dinheiro “a todas” as empresas.

A defesa de Lula chegou a perguntar, em determinado momento, qual era o objeto da investigação, já que a Polícia Federal fez perguntas sobre o Instituto Lula, a LILS Palestras e pagamentos e recebimentos de ambos. 

Defesa de Lula:­ Doutor, o objeto da investigação o senhor pode esclarecer qual é?

Delegado da Polícia Federal:­ Sim. Como eu já adiantei para o expresidente, ele envolve reformas e aquisição e registro da propriedade do sítio em Atibaia, eventuais reformas e registro de propriedade do flat...

Lula se irritou e disse que deveriam perguntar ao Ministério Público e ao promotor Cássio Conserino: O senhor deveria estar entrevistando o Ministério Público, trazer o Conserino aqui e fazer pergunta para ele, para ele dizer que é meu, para ele dizer que o apartamento é meu, para ele dizer que eu paguei o apartamento, ele que tem que dizer, não eu.

Delegado da Polícia Federal:­ O que interessa para nós...

Lula:­ Que o cidadão conta uma mentira e eu sou obrigado a ficar respondendo a mentira dele.

O ex-presidente Lula pede para o delegado que prenda o promotor paulista.

Delegado da Polícia Federal:­ Eu, pessoalmente, presidente, eu estou atrás da verdade pessoalmente. Ouvi todos os colaboradores...

Lula:­ Se você está atrás da verdade, você mande prender um cidadão do Ministério Público, que diz que o apartamento é meu, mande prendê-­lo. 

Lula diz que se envergonha de falar em “pedalinho”
As perguntas sobre o sítio de Atibaia, que pertencem aos sócios do filho do ex-presidente Fernando Bittar e Jonas Suassuna, foram as que mais tiraram a paciência de Lula.



Advogados e investigadores chegaram a discutir mais de uma vez levando lula a desabafar: "Estou de saco cheio". O líder petistas afirmou que nunca soube de reforma do sítio e que não sabia da participação do pecuarista José Carlos Bumlai, da OAS e da Odebrecht na obra.

Delegado da Polícia Federal:­ Sabe se a OAS ou a Odebrecht foi procurada pra fazer alguma obra lá antes ou depois?
Lula, então, faz um sinal negativo com a cabeça.
Por mais de uma vez, o ex-presidente mandou o delegado da PF, que conduzia o interrogatório, perguntar ao Bittar sobre a compra.

Delegado da Polícia Federal:­ A quem pertence esse sítio tratado na nota do Instituto Lula?

Lula:­ Pertence a Fernando Bittar e pertence a Jonas Suassuna, com registro em cartório em Atibaia, comprado com cheque administrativo, isso já foi publicizado, já foi provado. Eu, na verdade, quero falar pouco do sítio, porque eu não vou falar do que não é meu. Quando vocês entrevistarem os donos do sítio eles falarão pelo sítio.
O ex-presidente afirmou que se sentia envergonhado em ter que responder sobre a compra de pedalinhos feitos por sua mulher, Marisa Letícia.

Lula:­ Eu fico chateado de ver um Delegado de Polícia Federal se preocupar com pedalinho (ininteligível).

Delegado da Polícia Federal:­ Eu só tenho uma preocupação aqui, é lhe dar oportunidade para o senhor responder isso.

Lula:­ É o pedalinho.

Defesa do ex-presidente:­ É o que eu acho, doutor, me desculpe, a questão da Defesa:­ É o que eu acho, doutor, me desculpe, a questão da propriedade, quer dizer, então existe uma escritura do sítio onde constam duas pessoas, “Ah, quem pagou?”, na escritura consta o cheque que pagou, então se tem esse caminho, quer dizer, a menos que haja algum tipo de vício nessas declarações, o fato de ter um pedalinho, de ter um barco, de ter o que for lá dentro, não pode tornar o ex-­presidente proprietário. Então, eu acho que, assim, o que eu pediria é que nós pelo menos levássemos em consideração que há esses documentos, que são públicos, têm fé pública, certo? Então fazer perguntas em torno de aspectos que não podem contribuir...

Delegado da Polícia Federal:­ Doutor, as perguntas que estão sendo feitas é para esclarecer justamente documentos que ainda não foram esclarecidos e isso só ajuda ao seu cliente a esclarecer. Isso chama ampla defesa. Então se eu estou com uma dúvida e eu estou conduzindo uma investigação, eu sou obrigado a perguntar, o seu cliente não é obrigado a responder.

Defesa:­ Eu sei disso, eu só estou colocando esta questão pra lembrar ao senhor de que há esses documentos que têm fé pública...

Lula:­ Agora, se eu não responder mais é porque eu me sinto envergonhado de falar no pedalinho.
As notas dos equipamentos foi feito em nome de um segurança militar que acompanha o casal desde que eles saíram do Planalto. Lula disse que a ex-primeira-dama tinha um acordo com funcionários: toda vez que eles precisavam comprar alguma coisa, ou ela dava o dinheiro antecipadamente, ou eles compravam e depois ela pagava.

Lula voltou a dizer que o sítio foi comprado pelo seu ex-companheiro de militância política Jocó Bittar, pai de Fernando Bittar, um dos donos da propriedade. Ele disse que só ficou sabendo que o imóvel foi comprado para ele usar em janeiro, após sair da Presidência da República.

Delegado da Polícia Federal:­ Certo. Em qual frequência o senhor frequenta esse sítio?

Lula:­ Menos do que eu gostaria.

Delegado da Polícia Federal:­ E o que... qual a frequência?

Lula:­ Não sei, eu não sei, às vezes eu vou duas vezes por mês.

Delegado da Polícia Federal:­ Desde 2011?

Lula:­ No final de semana. Eu fiquei sabendo desse sítio no dia 15 de janeiro de 2011, passei a frequentar até menos porque eu viajei muito, acabei de falar que eu viajei demais, então comecei a frequentar mais depois, quando eu estava com câncer, e depois passei a frequentar mais em 2013, em 2014, e pretendo continuar visitando se não destruírem o sítio, porque tudo que os companheiros que compraram o sítio fizeram foi tentar garantir que eu tivesse um lugar pra descansar, porque você sabe que eu não tenho.

Os investigadores insistiram perguntando se ele sabia da compra do sítio, e ele negou fazendo uma analogia a vazamentos de conversas da presidente Dilma Rousseff com assessores.

Delegado da Polícia Federal:­ Mas o senhor frequentava o sítio enquanto era presidente?

Lula:­ Não, não sabia que existia o sítio. Eu só fiquei sabendo do sítio dia, já falei pra você isso...

Delegado da Polícia Federal:­ Sim, sim.

Lula:­ No dia 12 de janeiro e só fui lá a primeira vez dia 15 de janeiro.

Delegado da Polícia Federal:­ Sim, sim. Essa pergunta foi só pra esclarecer.

Lula:­ Eu fui presidente durante 8 anos, a Dilma já está há 5. Até hoje ela se queixa do vazamento das reuniões que ela faz, termina a reunião tem uma coisinha no jornal. No meu tempo a gente dizia que tinha um anão embaixo da mesa da Presidência da República, porque com a gente lá acontecia, e esses companheiros conseguiram comprar um sítio e ficaram de agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro e janeiro sem vazar essa porra.
Lula se mostrou bastante irritado com os policiais que insistiam em saber sobre a compra da propriedade.


Delegado da Polícia Federal:­ Quando que os seus amigos compraram o sítio para o senhor usar para descanso ou pra qualquer outra atividade?

Lula:­ Eu sei que eles deram sinal, depois pagaram, e foi dividido, e eu fiquei sabendo no dia 13 de janeiro de 2011 e fui conhecer o local dia 15 de janeiro. Sei também, dito pelo companheiro Fernando, pelo Jacó Bittar e pelo Jonas, de que uma das ideias deles era, não só que eu tivesse um lugar pra descansar, mas também que tivesse alguma coisa pra guardar as tralhas de Brasília, que é muita tralha que a gente ganha.

Ao ser questionado novamente sobre a forma de pagamento, Lula se irritou.
Delegado da Polícia Federal:­ Só pra gente não esquecer aquela parte que o senhor comentou sobre o pagamento do sítio, pra deixar bem claro, o senhor disse que foi com cheque administrativo né, que foi...

Lula:­ Eu não sei, querido...

Delegado da Polícia Federal:­ Não, o senhor...

Lula:­ Deixa eu te falar, eu não vou entrar nisso porque quando você for entrevistar o Fernando e o Jonas, você pergunte pra ele, ele leva o cheque, mostra pra você e mostra a escritura.

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