Por Jorge Oliveira, jornalista
O Brasil está comovido com a alma caridosa da senadora Vanessa
Grazziotin (PCdoB-AM). Quando apareceu o seu nome na lista do
propinoduto da Odebrecht, a parlamentar declarou que toda grana que
recebeu da empreiteira teve um fim filantrópico. E que fim! Foi
“socializado com os pobres”, justificou. Ah, ainda bem que a parlamentar
confessou para onde foi o suborno antes que algum eleitor maldoso
duvidasse da sua honestidade.
É assim que deveriam se comportar os outros comunistas do partido da
senadora quando flagrados com a mão na massa: contar uma história como
essa para convencer seus eleitores de que a corrupção teve uma causa
nobre. Não foi um dinheiro usado pelo partido para esbórnia ou para
enriquecimento ilícito de alguns dos seus integrantes.
Grazziotin – a esquerda infantil do parlamento – acredita realmente
no que disse. Se é assim, devemos, todos nós brasileiros, fazermos
orações diárias para o São Odebrecht e agradecê-lo pela preocupação em
socializar os lucros da sua empresa com os mais necessitados pelas mãos
generosas da senadora. Agora, sabemos porque os eleitores de Grazziotin
mantêm-se fiel à sua representante no Congresso. São pessoas de bem com o
mundo: felizes, prósperas e sem preocupação financeira porque passaram a
viver dos milagres da Odebrecht desde que ela assumiu o mandato.
Mas não pense o leitor que Grazziotin é uma política despreparada,
ingênua, que ignora os problemas do país. Ela se apega aos princípios
socialistas e à doutrina marxista para fundamentar as razões que a
levaram à distribuição da riqueza no país. Veja quanta profundidade nos
seus argumentos para explicar o seu nome na lista da Odebrecht: "Todo
mundo sabe que nós, comunistas, fazemos militância política por
ideologia e não por qualquer vantagem financeira. O dinheiro que eu
recebi era considerado por mim e pelos meus camaradas de Partido como um
ato de expropriação contra a burguesia e por isso nós socializávamos (o
dinheiro) com os pobres”.
Viu? A senadora não é egoísta nem sovina. Prefere multiplicar os pães
entre os seus fiéis eleitores amazonenses. Ela faz também uma revelação
surpreendente. Diz que seus camaradas de partido também estavam na
caixinha da empreiteira. Portanto, divide com os parceiros as suas ações
caridosas numa versão moderna da Madre Teresa de Calcutá. Se é assim,
pelo que entendi, o PCdoB deixou de ser um partido político para se
transformar numa entidade filantrópica, cujo objetivo é proteger os seus
eleitores da fome, da crise econômica e do caos político, distribuindo
igualitariamente entre os seus filiados o dinheiro da empreiteira.
Grazziotin está convicta de que a Odebrecht não exigia contrapartida
para os agrados que faziam a alegria do partido. Os malotes que
abasteciam o PCdoB nas campanhas eleitorais caracterizavam-se como
“expropriação contra a burguesia”, segundo a senadora. Aos mais jovens
uma explicação: era assim que a esquerda denominava os assaltos a bancos
na ditadura. E agora? O que dizer da grana que chegou à senadora via
Odebrecht, dinheiro que deixou de ir para a merenda escolar e para a
saúde? É a expropriação ao inverso, aquela que tira o alimento das
crianças e sacrifica os doentes nos hospitais públicos.
Não tem óleo de peroba para tanta desfaçatez da senadora quando ela
culpa também a mídia pelos seus danos morais na política. Veja a
profundidade da sua análise: “A imprensa burguesa tenta instrumentalizar
a divulgação da lista para macular a imagem dos comunistas em evidente
deslealdade tática e estratégica dentro do campo da luta de classes”.
Entendeu? Se entendeu, me explique.
Toda essa bobagem da senadora não é fantasia. Foi realmente dita por
uma representante do povo, com assento no Senado Federal. Que coisa
lamentável. A esquerda brasileira adoeceu, está decadente, contaminada
pela mediocridade, se dissolvendo em idiotices e se desmilinguido
intelectualmente. Quanto vazio político. É esta pessoa, alienada, que se
propõe a pensar o Brasil. Uma senhora que parece zombar dos seus
eleitores vomitando sandices para justificar o injustificável: o
dinheiro da corrupção da Odebrecht que abasteceu a ela e o seu partido.
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