Por Ercio Bemerguy
Tenho procurado, através deste blog, contar o que sei, o que guardo na
memória, do passado santareno. Isto, é bom esclarecer, sem preocupação e
compromisso com a exatidão de datas de fatos a que me refiro, inclusive
quanto aos nomes de pessoas citadas, pois isso é incumbência dos
historiadores.
Não esqueço, por exemplo, o quanto era movimentado, agradável e divertido o arraial da festa de Nossa Senhora da Conceição, em Santarém. Os “brotinhos” passeavam ao redor da praça da Matriz e a rapaziada em pé, à beira da calçada, dirigia galanteios e gracejos, tentando pegar na mão das jovens que lhes despertavam interesse. Na próxima volta já era fácil perceber pelo sorriso ou cara emburrada da pretendida, se haveria ou não alguma chance para namoro ou algo mais, ou se o resultado era um esculacho do tipo “Te enxerga, enxerido”!
Outra estratégia utilizada para as conquistas amorosas era o serviço de alto-falante Guarany, do Otávio Pereira, transmitindo as mensagens, os recados anônimos ou não: “Alô, alô, Margarida! Alguém muito apaixonado lhe dedica o postal sonoro...” – “Alô, alô Estefânia! Pra você que é a mais bela deste arraial, o Jonilson lhe oferece com muito amor e carinho o buquê musical...”. As reações por parte das pessoas nominadas eram diversificadas. Umas, ficavam satisfeitas, alegres; outras, não escondiam a fúria, a contrariedade. Entretanto, todas queriam saber quem havia mandado o galanteio. Tentativa inútil, uma vez que o Otávio guardava absoluto segredo, não identificava ninguém, daí a razão do seu expressivo faturamento.
Nessa onda de conquistar corações no clima festivo do arraial, atuava também o pombo-correio, ou seja, um molecote que levava e trazia recadinhos. Certa vez, um próspero comerciante que atuava no ramo de compra e venda de produtos regionais e era metido a ser um voraz garanhão, estava saboreando uma cerveja no Tapajós Bar, quando então recebeu um recado que o deixou eufórico: “A Zica chegou do Tapará e mandou lhe dizer que quer se encontrar com o senhor, às oito e meia, atrás da barraca do jogo da argolinha”. Ele, que há muito tempo estava “de olho” nessa morenaça que era casada e bonita demais, pediu ao garçom uma dose dupla de uísque puríssimo e sem gelo para festejar a boa nova e, ainda, um cálice de licor de catuaba para aumentar o seu vigor físico, pois tudo indicava que a noitada haveria de ser longa e prazerosa.
Dez minutos antes da hora marcada, o conhecido homem de negócios, endinheirado, é bom ressaltar, passou por uma das bancas de marreteiros e comprou um vidrinho de extrato à base de mutamba e se lambuzou todo. Cheiroso, penteou a cabeleira e esfregou os dedos no olho de boto (dizem que atrai mulher) que estava pendurado em seu pescoço e partiu, excitadíssimo, rumo à barraca indicada, com a certeza de que dominaria a fera e a levaria à praia da Vera Paz para abatê-la “numa boa”, dentro do barco de sua propriedade que estava ancorado para conserto no estaleiro do Capiberibe.
Precisamente às 8h30, no local combinado, a sua surpresa foi grande, pois lá estavam, a Zica, toda charmosa e sorridente, e o marido dela, um mulato grandalhão, e ela foi logo dizendo: “Descurpe nós lhe chateá, mas é porque é muito difircutoso encontrar e falar com o sinhô. Nós quer saber quanto o sinhô tá pagando o quilo da juta, porque agente trouxemo quatro fardos lá do Tapará pra vender”.
Não é preciso dizer que o comerciante, além de ficar p...da vida, ficou com o fardo na mão... Sem demora, ele retornou ao Tapajós Bar em busca de consolo nos braços de uma das muitas “raparigas” que ali faziam ponto, totalmente disponíveis aos homens dispostos a lhes dar dinheiro para ter prazeres e elas, por dinheiro, dispostas a dar a eles os prazeres que lhes eram negados por mulheres, como a Zica, “humirdes”, mas muito honestas e fieis aos seus parceiros, aos seus amores.
Naquela mesma noite de 1960, aconteceu um fato jocoso: Um “fresco” (assim era chamado, em Santarém, o homossexual), pessoa modesta e pouco “letrada”, estava tranqüilamente em um dos cantos da praça, tentando arranjar um parceiro, quando, de repente, o encarou um conceituado médico da cidade, que já havia tomado umas e outras, e lhe disse: “Boa noite, pederasta!” – Pensando que se tratava de um elogio à sua pessoa, pois ignorava o significado da palavra, respondeu: “Quem sou eu, doutor? Pederasta é o senhor, o seu pai, os seus filhos...”. Bons tempos aqueles!
Não esqueço, por exemplo, o quanto era movimentado, agradável e divertido o arraial da festa de Nossa Senhora da Conceição, em Santarém. Os “brotinhos” passeavam ao redor da praça da Matriz e a rapaziada em pé, à beira da calçada, dirigia galanteios e gracejos, tentando pegar na mão das jovens que lhes despertavam interesse. Na próxima volta já era fácil perceber pelo sorriso ou cara emburrada da pretendida, se haveria ou não alguma chance para namoro ou algo mais, ou se o resultado era um esculacho do tipo “Te enxerga, enxerido”!
Outra estratégia utilizada para as conquistas amorosas era o serviço de alto-falante Guarany, do Otávio Pereira, transmitindo as mensagens, os recados anônimos ou não: “Alô, alô, Margarida! Alguém muito apaixonado lhe dedica o postal sonoro...” – “Alô, alô Estefânia! Pra você que é a mais bela deste arraial, o Jonilson lhe oferece com muito amor e carinho o buquê musical...”. As reações por parte das pessoas nominadas eram diversificadas. Umas, ficavam satisfeitas, alegres; outras, não escondiam a fúria, a contrariedade. Entretanto, todas queriam saber quem havia mandado o galanteio. Tentativa inútil, uma vez que o Otávio guardava absoluto segredo, não identificava ninguém, daí a razão do seu expressivo faturamento.
Nessa onda de conquistar corações no clima festivo do arraial, atuava também o pombo-correio, ou seja, um molecote que levava e trazia recadinhos. Certa vez, um próspero comerciante que atuava no ramo de compra e venda de produtos regionais e era metido a ser um voraz garanhão, estava saboreando uma cerveja no Tapajós Bar, quando então recebeu um recado que o deixou eufórico: “A Zica chegou do Tapará e mandou lhe dizer que quer se encontrar com o senhor, às oito e meia, atrás da barraca do jogo da argolinha”. Ele, que há muito tempo estava “de olho” nessa morenaça que era casada e bonita demais, pediu ao garçom uma dose dupla de uísque puríssimo e sem gelo para festejar a boa nova e, ainda, um cálice de licor de catuaba para aumentar o seu vigor físico, pois tudo indicava que a noitada haveria de ser longa e prazerosa.
Dez minutos antes da hora marcada, o conhecido homem de negócios, endinheirado, é bom ressaltar, passou por uma das bancas de marreteiros e comprou um vidrinho de extrato à base de mutamba e se lambuzou todo. Cheiroso, penteou a cabeleira e esfregou os dedos no olho de boto (dizem que atrai mulher) que estava pendurado em seu pescoço e partiu, excitadíssimo, rumo à barraca indicada, com a certeza de que dominaria a fera e a levaria à praia da Vera Paz para abatê-la “numa boa”, dentro do barco de sua propriedade que estava ancorado para conserto no estaleiro do Capiberibe.
Precisamente às 8h30, no local combinado, a sua surpresa foi grande, pois lá estavam, a Zica, toda charmosa e sorridente, e o marido dela, um mulato grandalhão, e ela foi logo dizendo: “Descurpe nós lhe chateá, mas é porque é muito difircutoso encontrar e falar com o sinhô. Nós quer saber quanto o sinhô tá pagando o quilo da juta, porque agente trouxemo quatro fardos lá do Tapará pra vender”.
Não é preciso dizer que o comerciante, além de ficar p...da vida, ficou com o fardo na mão... Sem demora, ele retornou ao Tapajós Bar em busca de consolo nos braços de uma das muitas “raparigas” que ali faziam ponto, totalmente disponíveis aos homens dispostos a lhes dar dinheiro para ter prazeres e elas, por dinheiro, dispostas a dar a eles os prazeres que lhes eram negados por mulheres, como a Zica, “humirdes”, mas muito honestas e fieis aos seus parceiros, aos seus amores.
Naquela mesma noite de 1960, aconteceu um fato jocoso: Um “fresco” (assim era chamado, em Santarém, o homossexual), pessoa modesta e pouco “letrada”, estava tranqüilamente em um dos cantos da praça, tentando arranjar um parceiro, quando, de repente, o encarou um conceituado médico da cidade, que já havia tomado umas e outras, e lhe disse: “Boa noite, pederasta!” – Pensando que se tratava de um elogio à sua pessoa, pois ignorava o significado da palavra, respondeu: “Quem sou eu, doutor? Pederasta é o senhor, o seu pai, os seus filhos...”. Bons tempos aqueles!
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