Por Maria Fernanda Ribeiro - Estadão
A notícia não é nova. Pelo contrário. Mas a barragem de Belo Monte, na bacia do rio Xingu, no Pará, é assunto que não pode entrar para alcova do silêncio constrangedor enquanto cerca de 40 mil pessoas são vítimas de uma das maiores violações de direitos humanos já registradas nesse país.
Crimes praticados para levantar em cinco anos aquilo que o governo chama da terceira maior hidrelétrica do mundo. E essa informação é reverberada, na maioria das vezes, sem o registro de uma única linha sobre a atrocidade em que ribeirinhos e povos indígenas foram submetidos para que essa grande obra pudesse ser concluída.
Sem contar as últimas denúncias por propina que rondam a construção, mas se Belo Monte fosse um livro ou uma série televisa, a corrupção seria apenas um episódio de sua trágica história. Há muito mais.
Também não é recente o lançamento do filme Belo Monte: Depois da Inundação, do cineasta Todd Southgate, que em 53 minutos dá voz aos personagens desse livro, que reúne também entre seus atributos ser um dos megaprojetos mais polêmicos do mundo. A barragem foi construída, a floresta inundada e agora ribeirinhos e povos indígenas precisam conviver com as promessas não cumpridas de que a vida seria bem melhor. Mas não está sendo.
Cerca de 40 mil pessoas foram removidas das suas casas, a cidade de Altamira se tornou irreconhecível e enquanto os engenheiros comemoravam o teste da primeira turbina, os moradores da região não encontraram nenhum motivo para celebrar.
Costuma-se confundir progresso com desenvolvimento, quando na verdade tem muito mais a ver com transformação e destruição. Obras faraônicas que chegam fantasiadas de benefícios para as populações tradicionais, quando elas são exatamente as mais prejudicadas. Desenvolvimento para a Amazônia ou na Amazônia, questiona Danicley Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace.
E não é só Belo Monte, não. Basta vermos exemplos como a construção de estradas, outras hidrelétricas ou atividades de mineração. As pessoas que vivem no entorno desses lugares continuam pobres e ainda mais vulneráveis à marginalização. Em alguns casos, a energia gerada pela barragem, por exemplo, nem mesmo chega até essas pessoas. Ou se chega não há dinheiro para pagar. Como diz Antonia Mello da Silva, do Movimento Xingu Vivo, não há pessoas impactadas direta ou indiretamente por Belo Monte. “Todas são impactadas diretamente.”
Perde-se o lugar de pertencimento, perde-se a capacidade de produzir, perde-se a cultura. E o passado dá lugar a um verdadeiro etnocídio e a um futuro fadado à catástrofe. Mas quem se importa? Aqueles que lutam pela causa são tachados de meros militantes por aqueles que fecham os olhos. Mas esse é um movimento que deveria sensibilizar a todos que almejam uma vida mais justa e igual. Se não, seremos todos cúmplices.
É aquela velha história de impormos aos outros uma sociedade que acreditamos ser a melhor para nós. Ouvimos com frequência “mas eles deixarão de morar em casa de madeira para ter uma casa de alvenaria” ou “qual o problema se não puder mais pescar se estarão na cidade e poderão comprar.” A reflexão que deveríamos fazer é se alguém perguntou a eles se é isso o que almejam? Não, eles não são ouvidos. Eles são personagens excluídos em nome do progresso, da política, do poder, de quem manda mais.
E assim vamos cedendo espaço a outras atrocidades que temos acompanhado, como a morte dos trabalhadores em Colniza, no Mato Grosso, e o ataque aos indígenas do povo Gamela, no Maranhão, em que a discussão atual é a de que a mão do índio não chegou ser amputada, mas teria sofrido apenas cortes profundos, numa tentativa rasa de minimizar mais uma barbárie na disputa por terra.
E o filme de Todd Southgate trata de todos esses aspectos e das mentiras que estão por trás da chamada pelas populações tradicionais de Belo Monstro. E ele está disponível para download, aqui. Convido todos a assistir para que ecoe sempre o som devastador dessas turbinas.
A notícia não é nova. Pelo contrário. Mas a barragem de Belo Monte, na bacia do rio Xingu, no Pará, é assunto que não pode entrar para alcova do silêncio constrangedor enquanto cerca de 40 mil pessoas são vítimas de uma das maiores violações de direitos humanos já registradas nesse país.
Crimes praticados para levantar em cinco anos aquilo que o governo chama da terceira maior hidrelétrica do mundo. E essa informação é reverberada, na maioria das vezes, sem o registro de uma única linha sobre a atrocidade em que ribeirinhos e povos indígenas foram submetidos para que essa grande obra pudesse ser concluída.
Sem contar as últimas denúncias por propina que rondam a construção, mas se Belo Monte fosse um livro ou uma série televisa, a corrupção seria apenas um episódio de sua trágica história. Há muito mais.
Também não é recente o lançamento do filme Belo Monte: Depois da Inundação, do cineasta Todd Southgate, que em 53 minutos dá voz aos personagens desse livro, que reúne também entre seus atributos ser um dos megaprojetos mais polêmicos do mundo. A barragem foi construída, a floresta inundada e agora ribeirinhos e povos indígenas precisam conviver com as promessas não cumpridas de que a vida seria bem melhor. Mas não está sendo.
Cerca de 40 mil pessoas foram removidas das suas casas, a cidade de Altamira se tornou irreconhecível e enquanto os engenheiros comemoravam o teste da primeira turbina, os moradores da região não encontraram nenhum motivo para celebrar.
Costuma-se confundir progresso com desenvolvimento, quando na verdade tem muito mais a ver com transformação e destruição. Obras faraônicas que chegam fantasiadas de benefícios para as populações tradicionais, quando elas são exatamente as mais prejudicadas. Desenvolvimento para a Amazônia ou na Amazônia, questiona Danicley Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace.
E não é só Belo Monte, não. Basta vermos exemplos como a construção de estradas, outras hidrelétricas ou atividades de mineração. As pessoas que vivem no entorno desses lugares continuam pobres e ainda mais vulneráveis à marginalização. Em alguns casos, a energia gerada pela barragem, por exemplo, nem mesmo chega até essas pessoas. Ou se chega não há dinheiro para pagar. Como diz Antonia Mello da Silva, do Movimento Xingu Vivo, não há pessoas impactadas direta ou indiretamente por Belo Monte. “Todas são impactadas diretamente.”
Perde-se o lugar de pertencimento, perde-se a capacidade de produzir, perde-se a cultura. E o passado dá lugar a um verdadeiro etnocídio e a um futuro fadado à catástrofe. Mas quem se importa? Aqueles que lutam pela causa são tachados de meros militantes por aqueles que fecham os olhos. Mas esse é um movimento que deveria sensibilizar a todos que almejam uma vida mais justa e igual. Se não, seremos todos cúmplices.
É aquela velha história de impormos aos outros uma sociedade que acreditamos ser a melhor para nós. Ouvimos com frequência “mas eles deixarão de morar em casa de madeira para ter uma casa de alvenaria” ou “qual o problema se não puder mais pescar se estarão na cidade e poderão comprar.” A reflexão que deveríamos fazer é se alguém perguntou a eles se é isso o que almejam? Não, eles não são ouvidos. Eles são personagens excluídos em nome do progresso, da política, do poder, de quem manda mais.
E assim vamos cedendo espaço a outras atrocidades que temos acompanhado, como a morte dos trabalhadores em Colniza, no Mato Grosso, e o ataque aos indígenas do povo Gamela, no Maranhão, em que a discussão atual é a de que a mão do índio não chegou ser amputada, mas teria sofrido apenas cortes profundos, numa tentativa rasa de minimizar mais uma barbárie na disputa por terra.
E o filme de Todd Southgate trata de todos esses aspectos e das mentiras que estão por trás da chamada pelas populações tradicionais de Belo Monstro. E ele está disponível para download, aqui. Convido todos a assistir para que ecoe sempre o som devastador dessas turbinas.
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