Editorial - Folha de SP
Deposta da Presidência sob acusações de fraudes na gestão do Orçamento, a petista Dilma Rousseff tinha à sua disposição o expediente retórico de apontar que, ao contrário de boa parte de seus algozes no Congresso, não era suspeita de envolvimento com o esquema investigado pela Lava Jato. Tal recurso de defesa política foi demolido, no entanto, com os depoimentos do marqueteiro João Santana e de sua mulher, a empresária Mônica Moura —em especial, com o espantoso relato desta sobre mensagens eletrônicas que recebia da ex-presidente.
"O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo. E o pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora também está doente, com o mesmo risco. Os médicos acompanham dia e noite."
Essas as palavras com que Dilma, então no Planalto, teria transmitido informação de que o casal estava prestes a ser preso.
Por ora, trata-se tão somente de delação premiada. O que se tem são indicações para uma apuração mais aprofundada, a partir da qual se verificará judicialmente a oportunidade de uma denúncia criminal propriamente dita.
São gravíssimas, no entanto, as implicações do relato da empresária —cujo marido estava, notoriamente, entre os conselheiros de maior confiança da petista.
A sequência de escândalos envolvendo licitações públicas, propinas e verbas de campanha não tinha posto em evidência, até agora, tamanho grau de participação direta de um presidente da República.
Com acesso privilegiado a informações sobre o andamento da Lava Jato, Dilma teria informado diretamente dois investigados de sua iminente prisão. Um ato desse tipo abre a seus beneficiários a possibilidade de destruir provas ou mesmo de escapar da Justiça. Apura-se aqui, portanto, o crime de obstrução da Justiça.
Preocupada com a revelação da origem ilícita de suas verbas de campanha, a ex-presidente teria, ademais, perguntado a Mônica Moura se não seria conveniente mudar, da Suíça para outro pais, a sede das contas secretas em poder de João Santana.
As delações do casal também atingem Luiz Inácio Lula da Silva e outros expoentes petistas, em particular o ex-ministro Antonio Palocci, também a caminho da delação. Nesses casos, porém, pouco se acrescenta de essencial ao conteúdo de outros depoimentos.
É a imagem da ex-presidente, portanto, que sofre o maior abalo com as novas informações. Este não é o momento de condenar, mas de esclarecer suspeitas, que estão entre as mais graves do vasto histórico de escândalos do petismo.
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