Editorial - Estadão
O pedido de impeachment protocolado pelo PSOL contra o presidente Michel Temer tem peso equivalente ao da representatividade daquele partido – isto é, zero. No entanto, a atitude serve para reafirmar o quão irresponsáveis são os que, mesmo desprovidos de votos, se julgam os verdadeiros intérpretes da vontade popular e guardiães da democracia. O autoritarismo desses movimentos os impede de ver que o momento do País é crítico e demanda, mais do que nunca, disposição para a negociação política. Para PSOL, PT et caterva, jamais interessou dialogar, pois a única linguagem que conhecem é a do confronto – no qual o adversário é um inimigo que deve ser aniquilado e não apenas derrotado. Nesse ambiente deletério, não interessa se os eventuais deslizes de Temer no caso de seu ex-ministro Geddel Lima, objeto do pedido do PSOL, seriam suficientes para sequer cogitar de interromper o mandato do presidente. Para quem é hostil à democracia e só está interessado em conquistar o poder e fazer o diabo para dele nunca mais sair, como é o caso do PT e de seus subprodutos, qualquer pretexto basta para tentar inviabilizar o governo.
O argumento usado pelo PSOL, e que provavelmente embasará o pedido de impeachment que o PT também pretende encaminhar, é patético. Para resumir, o partido considera que Temer deveria ter repreendido Geddel porque seu ministro estava pressionando um colega, Marcelo Calero, da Cultura, em razão de interesses imobiliários frustrados pelo Iphan, órgão de proteção do patrimônio histórico. Ao não fazê-lo, diz a peça, Temer “tolerou que autoridades sob sua subordinação imediata (...) praticassem abuso de poder sem repressão sua” e, portanto, “praticou crime de responsabilidade”.
Ora, o desfecho do caso todo – Geddel perdeu o cargo e a decisão do Iphan foi mantida – mostra que é preciso realizar um formidável contorcionismo mental para ver aí o tal “crime de responsabilidade” que o PSOL atribui a Temer. Mas é ocioso dispor-se a sustentar uma argumentação racional com quem pretende apenas causar confusão.
A tigrada é useira e vezeira em sabotar sistematicamente os governos aos quais faz oposição. O PT entrou com pedidos de impeachment contra Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Seria surpreendente se não o fizesse, na primeira oportunidade que aparecesse, também contra Michel Temer, a quem acusa de ter dado um “golpe” para tirar a petista Dilma Rousseff da Presidência.
Essa mesma turma que hoje se diz indignada com o caso de conflito de interesses protagonizado por Geddel Vieira Lima e que pretende derrubar Temer por causa de um prédio em Salvador é a mesma que não viu nada de mais nos cabeludos crimes cometidos por Dilma na administração do País – sem mencionar, é claro, o oceano de lama no qual petistas de alto coturno se afogaram.
Assim, o PT e seus associados confirmam sua extraordinária vocação para explorar a chamada “pós-verdade” na política, fenômeno em que os fatos são considerados irrelevantes para a formação da opinião pública. A bem da verdade, o PT nunca foi diferente. O discurso messiânico e redentor do demiurgo petista Lula da Silva jamais se baseou na realidade – e, quando ficou evidente para todos que por trás do palavrório lulopetista não havia nada senão corrupção e incompetência, os petistas foram enxotados do poder e a outrora poderosíssima legenda ananicou-se.
Mas é claro que os petistas, Lula à frente, jamais aceitarão as regras do jogo democrático, muito menos os limites da responsabilidade política. Não é da sua natureza. Eles só prosperam onde há colapso moral. Por isso, não surpreende que, depois de tudo o que seu partido fez ao País, o chefão petista tenha tido a caradura de vir a público e exigir que Temer deixe o governo, nestes termos: “Se eles não sabem governar, pede desculpa, vai embora, e deixa a gente governar, porque a gente sabe”. A profunda crise econômica, social e moral que nos infelicita é a prova da sapiência desse indivíduo.
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