Editorial - Folha de SP
Foi necessário um terremoto como o desencadeado pela Operação Lava Jato para abalar uma das máximas da política brasileira: eleições municipais seguem uma lógica própria, provinciana até, pouco influenciada pelo cenário federal. Com o resultado do segundo turno em várias das principais cidades do país, completa-se a estrondosa derrocada do PT. O partido que governou o país por 13 anos passou das 644 prefeituras que detinha em 2012 para 254 (-61%).
Não há dúvida de que tal decadência decorre da corrupção revelada nos governos de Lula e Dilma, bem como da crise social resultante de sua política econômica. O eleitorado responsabiliza o PT, com acerto, pelo desastre atual.
Bem mais difícil é delinear quais possam ser os ecos do cataclismo da esquerda no pleito de 2018.
As análises convergem para apontar o avanço da centro-direita, um movimento pendular que se observa em vários países.
No quadro brasileiro, coube ao PSDB ocupar o vácuo deixado pelo maior partido de esquerda. O número de prefeitos tucanos passa de 701 para 803, e a população governada salta de 25,8 milhões para 48,7 milhões (o PT encolheu de 38 milhões para 5,9 milhões).
Dentre os tucanos, ninguém se saiu melhor que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Seus aliados venceram na capital e nas principais cidades do Estado, enquanto os petistas foram varridos pela primeira vez de seu berço histórico, a região do ABCD.
Ao apresentar candidatos como gestores, a ala alckmista do tucanato explorou a irritação dos eleitores com políticos tradicionais. Com esse mote o afilhado João Doria empalmou a prefeitura paulistana no primeiro turno, um feito inédito.
Discurso similar ajudou Alexandre Kalil (PHS) a derrotar João Leite (PSDB) em Belo Horizonte, segunda derrota de Aécio Neves no próprio quintal. O percalço transfere alguns tentos para Alckmin fortalecer sua aspiração presidencial.
Todas essas análises, no entanto, dizem mais sobre a conjuntura do que sobre 2018. Os eleitos governarão em tempos de vacas esquálidas. Se 83% deles hoje apoiam o presidente Michel Temer (PMDB), em dois anos podem bem estar chamuscados justamente por isso.
Um aspecto tem inegável caráter estrutural: reforçou-se a fragmentação partidária, com 31 dos 35 partidos representados em prefeituras, 13 deles governando capitais. O fato chama a atenção porque alcaides controlam a rede mais capilar de cabos eleitorais. Suas máquinas têm grande peso nas campanhas de deputados estaduais e federais.
Pode-se prever, pois, que as Assembleias Legislativas e o Congresso Nacional sairão de 2018 ainda mais divididos do que agora. Passa da hora de uma reforma que desincentive essa proliferação tão infecunda para a democracia.
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