As sessões do Supremo continuam prolixas e
cansativas, porque os ministros, até mesmo o senhor, passam muito tempo
lendo os votos...
É enfadonho.
Ninguém merece, nem os senhores...
É verdade.
Alguma solução à vista?
Num dado momento de amadurecimento nós poderíamos estabelecer, até
regimentalmente, que aquele que estiver de acordo (com a questão em
discussão) manifeste essa posição em menos de um segundo. Quem não
estiver de acordo disporá, para discordar, o mesmo prazo dos advogados
que sobem à tribuna, 15 minutos. É uma regra que agiliza. Dá para
resolver mais uns cinco processos de repercussão geral por sessão.
O senhor não teria dificuldade pessoal para aceitar essa regra?
Não. Zero.
Porque às vezes, data vênia, parece que o senhor realmente gosta de ficar naquela leitura...
Não. A gente faz a mesma coisa que todo mundo faz, quando é relator (do
caso em pauta). Mas essa redução tem de acontecer. Eu acredito naquela
colocação do Rui Barbosa, acho que na Oração aos Moços: o juiz não tem
de mostrar quanto direito ele sabe, mas o direito que a parte pede.
Sem precisar exibir erudição...
A grande aflição do jurisdicionado deve ser essa. Ele ouve, ouve, ouve,
é um banho de cultura, mas o que ele quer mesmo saber é se deu
provimento ou negou provimento, se ganhou ou perdeu.
O senhor já conversou como outros ministros sobre essa ideia de limitar as intervenções ao tempo dos advogados?
Eu já tenho comentado isso com um ou outro ministro. Sempre é uma questão de você ir criando parâmetros novos.
Algum deles concorda?
O (Luís Roberto) Barroso, o Teori (Zavascki), o (Edson) Fachin, o (Dias) Toffoli, eu tenho certeza que aceitariam.
Já é quase uma maioria. E a presidente Cármen Lúcia?
Com ela eu ainda não conversei a respeito.
Outra crítica recorrente ao STF é que os senhores são 11 ilhas, que não conversam entre si.
Ainda são 11 ilhas, mas hoje é menos, melhorou um pouquinho. Os ministros tem de conversar. Vai melhorar mais.
Em que o senhor baseia esse otimismo?
Na necessidade de solução de casos muito difíceis, em que a sociedade
merece uma resposta que não é passível de ser obtida só com a soma de
votos. Estão começando a chegar ao Tribunal casos em que as escolhas são
trágicas, para usar a teoria dos filósofos Guido Calabresi e Philip
Bobbit.
O que são essas escolhas?
São soluções em que uma delas será necessariamente trágica, e então é
preciso conversar. Aqui no Supremo, debaixo da toga de todo mundo, bate
um coração. Nessa hora, todo mundo quer o apoio de todos.
Dê um exemplo de escolha trágica que tramita no Supremo Tribunal Federal.
Esse caso dos remédios (se o Estado deve bancar os medicamentos e
tratamentos de alto custo, julgamento interrompido em setembro por um
pedido de vista do ministro Teori Zavascki). Ninguém vai querer sair
daqui com fama de impiedoso. Nem pode. Ninguém quer. Essas escolhas
trágicas vão unir os ministros, vão trazer a necessidade de nos
reunirmos, para prover de maneira humana e jurídica. Para dar uma
caridade justa e uma justiça caridosa.
No caso dos remédios o senhor ainda não votou.
Ainda não. Tem de haver um pool da sociedade. O Supremo é o guardião da
Constituição desde o seu preâmbulo. E ela abre afirmando que o esforço
do Brasil é para criar uma sociedade fraterna e justa. Esse é o primeiro
mandamento. Depois vem o resto. Como é que nós vamos deixar a suposta
altivez, a ilha, a paz de cada um, superar o dever moral de trazer uma
solução humana nesses casos? Os ministros precisam conversar mais entre
si.
O relator da operação Lava Jato, aqui no Supremo, é o ministro Teori Zavascki. O senhor acha que está demorando ou não?
É uma operação complexa, tem várias fases. Eu acho que está andando num ritmo bastante razoável.
O que se ouve, volta e meia, é que, enquanto o
juiz Sérgio Moro já dá uma sentença, na média de seis meses, o Supremo
mal recebe uma denúncia...
Nem pode ser
diferente. O Moro tem uma competência limitada, o Supremo tem uma
competência ampla. Aqui nós somos 11 ministros, com jurisdição sobre
todo o território nacional, e para todos os ramos do direito. Não
recebemos só Lava Jato.
Quantos processos o senhor tem no gabinete hoje?
Uns 5 mil processos. Nós temos uma litigiosidade desenfreada. De cada
dois cidadãos, um litiga. São 200 milhões de brasileiros e 100 milhões
de ações. É inacreditável. No sistema brasileiro, o Judiciário não pode
negar justiça, em qualquer provocação ele deve se manifestar. Essa é a
razão pela qual o Supremo tem 70 mil casos para julgar, e a Suprema
Corte americana tem 70. O Superior Tribunal de Justiça tem 263 mil
processos para julgar, e o Terceiro Senado Alemão, que é equiparável ao
STJ, tem 3 mil.
O que o senhor acha das denúncias do Ministério
Público no caso da Lava Jato, seja na chamada espetacularização, seja,
às vezes, na pré-sentença condenatória que tem vindo junto com a
denúncia?
Teoricamente, o libelo é um projeto
de sentença. Mas o comportamento do Moro em relação aos procuradores tem
sido bem imparcial. Ele às vezes aceita, e às vezes não aceita.
E o que o senhor diz em relação ao
comportamento dos procuradores, ou de alguns procuradores que apresentam
a denúncia como se já fosse a sentença?
Nos
casos emblemáticos, a imprensa tem de ter o acesso, e tem manifestado um
interesse muito intenso nesse caso. Por vezes eles se sentem instados a
dar uma satisfação pública. Talvez nesse caso eles pequem mais pelo
excesso de atender aos reclamos da mídia.
O senhor tem alguma preocupação institucional com a Operação Lava Jato?
Eu não tenho preocupação institucional. Eu entendo que o Supremo
Tribunal Federal quando resolve uma questão objetiva, como, por exemplo,
marcha da maconha, união de casais homoafetivos, está resolvendo uma
questão sobre a qual há um desacordo moral na sociedade. Aí o juiz deve
aferir a percepção da sociedade com relação àquele tema. Mas, quando o
julgamento é subjetivo – Ministério Público versus A, B ou C –, aí
efetivamente o juiz tem de julgar de acordo com o seu grau de convicção e
a prova dos autos. Lava Jato é julgamento de réus de acordo com os
crimes que praticaram, processo subjetivo, portanto, processo que tem
apenas sujeitos.
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