Como seu pai, aos 50 anos de idade, resolveu passar para os filhos a empresa que construiu do zero?
Isso
é muito moderno. Mas, acredite, não foi nada programado. Aliás, quando
comecei a trabalhar no Grupo, meu pai já não estava mais na empresa.
Estava só o Júnior, meu irmão mais velho. Eu tinha sido gerente de uma
fábrica pequena em Goiás e gerente-geral de um frigorífico nosso.
As meninas também trabalham na empresa?
Trabalham sim, os cunhados, não. Minha mãe
criou os filhos praticamente sozinha. Meu pai viajava muito. A partir
dos meus 16 anos, ele assumiu a responsabilidade pelos filhos homens e
minha mãe continuou a cuidar das meninas. Ele nunca foi de levar os
filhos para ver boi. Pelo contrário, até bem grandinho eu não sabia
diferenciar boi de vaca. Foi só aos 16 anos que começamos a
acompanhá-lo. Meu pai sempre foi um homem duro e prático. Nunca
adiantava pedir opinião para ele. Achava que tínhamos de resolver tudo
sozinhos. E até hoje é assim.
Mas ele não participou da decisão de comprar frigoríficos e crescer?
Claro que sim, ele sabe de tudo. Mas o que decidimos ele topa.
Como vocês fazem para chegar a um acordo na empresa?
Não há nada formal, sentamos e trocamos
idéias. Somos quatro: meu pai e três filhos. Decidimos tudo juntos. A
confiança é total. Acho que isso se deve muito à estratégia adotada pela
minha mãe. Apesar de sempre termos morado em casa grande, com cinco,
seis quartos, ela nunca deixou cada filho ter um quarto só para ele.
Fazíamos tudo juntos: dormíamos, tomávamos banho, brigávamos. E eu sigo
essa estratégia com meus dois filhos. É a mesma televisão e o mesmo
videogame para todo mundo. Eles brigam, claro, mas ao mesmo tempo ficam
unidos, passam a confiar e saber tudo um do outro.
Na empresa, vocês cresceram de forma ousada. Foi uma decisão dos quatro?
Não foi uma coisa pensada, programada. Temos
um estado de espírito comum: não temos medo de riscos. Tem empresa que
compramos e somos obrigados a trocar o dirigente porque ele não quer
crescer. Tem medo de arriscar e isso contagia a equipe. Nós estamos em
uma fase de grandes aquisições, chegamos a comprar quatro empresas em um
só dia. Foram seis meses de adrenalina, negociação, busca por recursos,
até depressão. Só agora é que tudo começa a voltar ao normal. Considero
este momento o real começo da nossa empresa.
Você é o presidente do conselho?
Olha, muita gente fica tentando descobrir
quem é 0 cara. A cabeça da JBS. Mas aqui não tem génio, só muita gente
trabalhando junto e sério. Não tem um oráculo. Só nós mesmos mais os
bancos que se envolveram. Nos negócios, um dos irmãos apresenta uma
opção, outro traz uma outra, aí pesamos: essa não, aquela dá mais certo.
Vamos discutindo, criando. Em resumo, as coisas são mais simples do que
parecem. Quanto mais perto você chega do problema, mais fácil é
resolvê-lo.
Vocês compraram a Swift, tornando-se os primeiros no mercado americano. O Cade de lá já aprovou?
Temos hoje um terço do mercado de carne dos
EUA e já conseguimos aprovar nossa compra. Na Austrália, não passamos
por esse processo porque só ficamos com 25% do mercado no país.
Há cinco anos vocês imaginavam que teriam hoje uma empresa deste tamanho?
Jamais. Como também não tenho a menor noção do tamanho que vamos ter daqui a cinco anos.
Vocês têm consultores externos ajudando nesse plano de crescimento?
Não, não gostamos de consultores. Poderíamos até ter uma placa na nossa porta: Proibida a Entrada de Consultores.
Mas como vocês conseguiram crescer tanto sem ajuda?
Temos uma habilidade, que acho que é
genética, de ver um problema e descomplicá-lo. Toda a família é assim.
Esse é o ponto: para nós, tudo dá certo, é apenas uma questão de
enxergar como. Aqui, nunca pensamos se vamos dar conta ou não, mas sim o
que temos de fazer para dar conta. Iniciamos a compra da Swift Company
em maio de 2005. Fui a uma reunião no BNDES, que estava com presidente
novo, o Guido Mantega. Ele chamou todos os vice-presiden-tes para verem
os planos.
Que planos?
Falei de nossa idéia de internacionalização,
falei da Swift argentina, da Swift americana. Na época, faturávamos US$ 1
bilhão e arrumar um empréstimo grande era algo insano para o nosso
tamanho. Mas chegamos lá. Começamos comprando a Swift argentina, em
outubro de 2005, com apoio do BNDES. Foi só depois de dois anos que
compramos a empresa nos EUA, que trouxe junto a da Austrália.
Como foi a equação financeira?
Quando fomos ao BNDES em busca de apoio,
discutimos a hipótese de uma operação semelhante à que haviam feito com o
Bertin. Ou seja, antes de a JBS abrir capital, eles virariam sócios.
Fomos aprofundando a conversa com eles, sem tirar o olho da Swift
americana, pois sabíamos que a empresa pertencia a um fundo que costuma
manter uma empresa somente por cinco anos. E esses cinco anos venciam em
2007. Ficamos um ano e meio discutindo valores com o BNDES. Só que
nesse meio tempo o mercado ficou muito aquecido e optamos por fazer um
IPO direto.
O BNDES não entrou, então?
O mercado acabou pagando quase o dobro do
valor que o banco estava disposto a desembolsar. Capitalizamos a empresa
em US$ 600 milhões. Quando, três meses depois, a Swift foi posta à
venda, estávamos com esse dinheiro na mão. E o BNDES, que já estava
careca de saber do nosso plano, acabou entrando com US$ 580 milhões.
Acrescentando os recursos dos minoritários, somamos cerca de USS 750
milhões. Mais os US$ 700 milhões de dívidas da empresa que assumimos, dá
os US$ 2 bilhões que pagamos por ela.
Mas não ficaram por aí, não é?
Não, passados mais seis meses, compramos a
National Beef e a Smithfield Beef. Com isso, passamos a dominar o
mercado de boi, que antes era dominado pela Tyson Foods e pela Cargill,
com a gente em terceiro. Nessa operação, tivemos novamente participação
do BNDES, mais Funcef, Petros e todos os minoritários que exerceram
direito de compra. Nossa família entrou com US$ 150 milhões nessa
operação, além dos US$ 150 milhões da anterior. Ao subscrevermos as
ações, elas estavam em R$ 5 e pagamos R$ 7. No dia da subscrição, ela
saiu por R$ 8,50. Nós hoje temos maioria, 51%, o BNDES tem 25% e o
mercado mais 25%.”
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