quinta-feira, 8 de junho de 2017

Homenagem ainda que tardia a Joaquim

Por Frederico Vasconcelos - Folha de SP
Vem da advocacia uma crítica à ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, porque, “em meio ao burburinho que está o país”, agendou para esta quarta-feira (7) o ato de aposição dos retratos dos ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski na galeria de ex-presidentes.

A galeria de ex-presidentes fica no hall de entrada do STF, com fotografias em preto e branco dos componentes da Corte desde o Império.

“Não podia ser gesto mais significativo da falta de percepção do momento que atravessamos”, comenta o site “Migalhas“, que circula entre escritórios de advocacia. Esquece a homenagem a Lewandowski e concentra a reprovação em relação ao retrato de Barbosa, “justo um ministro que largou o Supremo em plena presidência”.

Joaquim Barbosa, como se sabe, não foi um ministro cortejado pela banca.

O Judiciário, de fato, perde muito tempo com cerimônias, “firulas” e “rapapés”, como dizia o relator do mensalão.

Em seu discurso de posse, Joaquim Barbosa afirmou que “gastam-se bilhões de reais anualmente para que tenhamos um bom funcionamento da máquina judiciária. Porém, é importante que se diga: o Judiciário a que aspiramos ter é um Judiciário sem firulas, sem floreios, sem rapapés. O que buscamos é um Judiciário célere, efetivo e justo”.

Se a aposição dos retratos é uma praxe para preservar a memória do STF, Lewandowski –de quem Barbosa várias vezes divergiu– não manteve a tradição em relação ao antecessor.

Deve-se principalmente a Joaquim Barbosa o avanço no combate à corrupção, quando o relator quebrou o sigilo da ação penal do mensalão, permitindo à sociedade acompanhar o julgamento do que foi considerado na época o maior escândalo político do país.

Cármen Lúcia homenageia o ministro que, segundo insinuou, daria “um salto social” como relator da Ação Penal 470.

“Quem deu um ‘salto social’ não foi o ministro Joaquim Barbosa, foi o Supremo Tribunal Federal”, escreveu Elio Gaspari na Folha, em 2007.

“Primeiro, porque teve no relator do processo dos mensaleiros um magistrado seco, impessoal, daqueles que não tiram prazer ao ouvir a própria voz. Segundo, porque sua exposição, livre de juridiquês, podia ser entendida por qualquer desafortunado que assistisse às sessões da Corte. Falou no idioma dos contribuintes”, disse Gaspari.

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