quarta-feira, 31 de agosto de 2016

'Impeachment leva insegurança a prefeitos'

Folha - O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, falou que o impeachment tem gerado um clima de insegurança jurídica entre os prefeitos neste ano de fim de mandatos. O sr. concorda com essa avaliação?
Gilberto Perre - É um entendimento geral, razoável e quase óbvio que, uma vez que o presidente da República pode ser afastado por não atendimento a preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal, imagine o que não seria, obviamente, o caso para prefeitos? O precedente do impeachment de um governante por não atendimento à lei fiscal nos leva a considerar que os demais governantes, sejam prefeitos ou governadores, também estão com seus mandatos ameaçados. Não dá para deixar os governantes com esse grau de insegurança em relação à interpretação da lei.
Como mudar esse quadro?
O artigo 42 da lei é o que disciplina o fechamento de exercício, que é este ano. Ele traz a expressão "contrair obrigação de despesa", mas é um conceito sem definição clara e como ele é aferido. O não cumprimento do artigo sujeita o governante à lei de improbidade, inclusive com pena de prisão até quatro anos. Mas como cumpri-lo se este conceito não é claro? O governante depende da interpretação de quem está julgando suas contas.
Como assim?
Para se ter uma ideia, os tribunais de contas de todo o país têm dado diferentes interpretações para o conceito. Às vezes, dentro de um mesmo tribunal, os conselheiros divergem. A insegurança jurídica é muito grande porque a sorte do prefeito está lançada a saber com que conselheiro sua conta vai cair. Clarear este conceito é fundamental para que diminua a insegurança jurídica dos prefeitos. Os prefeitos têm trabalhado para essa revisão junto ao governo.
A Lei de Responsabilidade Fiscal tem 16 anos. Por que só agora essa discussão? Ele é mais grave agora porque, em uma circunstância de queda do PIB tão agressiva e persistente, cria-se ainda mais dificuldades para se encerrar as contas dentro da lei. Se estivéssemos em um momento de estabilidade econômica, talvez isso fosse um pouco menos grave. O ajuste de contas fica impossível, não por um desdém do prefeito ou má gestão. Não é disso que se trata. Estamos perante a uma inequação. Os prefeitos estão apertando o cinto, mas é insuficiente.
A FNP tem a avaliação que muitos municípios podem fechar suas contas no vermelho. A situação é muito grave porque, quando se tem um momento de crescimento econômico, as receitas crescem em uma velocidade maior do que o próprio PIB. Quando a economia está crescendo, há o incentivo à formalização, a arrecadação de impostos avança rapidamente. Isso proporcionou em um passado recente a ampliação dos serviços públicos, especialmente nas áreas de saúde e educação. Estamos assistindo a um fenômeno inverso, dois anos de recessão grave seguidos, a queda na receita é mais acelerada do que na queda do PIB.

O fim do torpor

Editorial - Estadão
O impeachment da presidente Dilma Rousseff será visto como o ponto final de um período iniciado com a chegada ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, em que a consciência crítica da Nação ficou anestesiada. A partir de agora, será preciso entender como foi possível que tantos tenham se deixado enganar por um político que jamais se preocupou senão consigo mesmo, com sua imagem e com seu projeto de poder; por um demagogo que explorou de forma inescrupulosa a imensa pobreza nacional para se colocar moralmente acima das instituições republicanas; por um líder cuja aversão à democracia implodiu seu próprio partido, transformando-o em sinônimo de corrupção e de inépcia. De alguém, enfim, cuja arrogância chegou a ponto de humilhar os brasileiros honestos, elegendo o que ele mesmo chamava de “postes” – nulidades políticas e administrativas que ele alçava aos mais altos cargos eletivos apenas para demonstrar o tamanho, e a estupidez, de seu carisma.

Muito antes de Dilma ser apeada da Presidência já estava claro o mal que o lulopetismo causou ao País. Com exceção dos que ou perderam a capacidade de pensar ou tinham alguma boquinha estatal, os cidadãos reservaram ao PT e a Lula o mais profundo desprezo e indignação. Mas o fato é que a maioria dos brasileiros passou uma década a acreditar nas lorotas que o ex-metalúrgico contou para os eleitores daqui. Fomos acompanhados por incautos no exterior.

Raros foram os que se deram conta de seus planos para sequestrar a democracia e desmoralizar o debate político, bem ao estilo do gangsterismo sindical que ele tão bem representa. Lula construiu meticulosamente a fraude segundo a qual seu partido tinha vindo à luz para moralizar os costumes políticos e liderar uma revolução social contra a miséria no País.

Quando o ex-retirante nordestino chegou ao poder, criou-se uma atmosfera de otimismo no País. Lá estava um autêntico representante da classe trabalhadora, um político capaz de falar e entender a linguagem popular e, portanto, de interpretar as verdadeiras aspirações da gente simples. Lula alimentava a fábula de que era a encarnação do próprio povo, e sua vontade seria a vontade das massas.

O mundo estendeu um tapete vermelho para Lula. Era o homem que garantia ter encontrado a fórmula mágica para acabar com a fome no Brasil e, por que não?, no mundo: bastava, como ele mesmo dizia, ter “vontade política”. Simples assim. Nem o fracasso de seu programa Fome Zero nem as óbvias limitações do Bolsa Família arranharam o mito. Em cada viagem ao exterior, o chefão petista foi recebido como grande líder do mundo emergente, mesmo que seus grandiosos projetos fossem apenas expressão de megalomania, mesmo que os sintomas da corrupção endêmica de seu governo já estivessem suficientemente claros, mesmo diante da retórica debochada que menosprezava qualquer manifestação de oposição. Embalados pela onda de simpatia internacional, seus acólitos chegaram a lançar seu nome para o Nobel da Paz e para a Secretaria-Geral da ONU.

Nunca antes na história deste país um charlatão foi tão longe. Quando tinha influência real e podia liderar a tão desejada mudança de paradigma na política e na administração pública, preferiu os truques populistas. Enquanto isso, seus comparsas tentavam reduzir o Congresso a um mero puxadinho do gabinete presidencial, por meio da cooptação de parlamentares, convidados a participar do assalto aos cofres de estatais. A intenção era óbvia: deixar o caminho livre para a perpetuação do PT no poder.

O processo de destruição da democracia foi interrompido por um erro de Lula: julgando-se um kingmaker, escolheu a desconhecida Dilma Rousseff para suceder-lhe na Presidência e esquentar o lugar para sua volta triunfal quatro anos depois. Pois Dilma não apenas contrariou seu criador, ao insistir em concorrer à reeleição, como o enterrou de vez, ao provar-se a maior incompetente que já passou pelo Palácio do Planalto.

Assim, embora a história já tenha reservado a Dilma um lugar de destaque por ser a responsável pela mais profunda crise econômica que este país já enfrentou, será justo lembrar dela no futuro porque, com seu fracasso retumbante, ajudou a desmascarar Lula e o PT. Eis seu grande legado, pelo qual todo brasileiro de bem será eternamente grato.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

O dia "D" de Dilma

Por Arnaldo Jabor
Eu vos escrevo do passado. Hoje é o dia D de Dilma. Como terá sido o discurso de Dilma no Senado? Bem, fazer ‘mea culpa’, nem pensar. Eu a entendo. Ninguém sai na rua ou vai ao Senado para bater no peito e dizer: “Eu sou um(a) incompetente, eu sou responsável pela quebra do País!”. Tudo bem, mas a autocrítica era um hábito recorrente durante aquele ex-socialismo que ainda viceja nas cabeças petistas. Lembro-me da hilariante autocrítica de um alto dirigente chinês durante a Revolução Cultural: “Eu sou um cão imperialista, eu sou o verme dos arrozais!...”.

E, como estou no domingo passado, me pergunto: como terá sido o discurso? Sem dúvida, Dilma falou com sinceridade total (não é ironia), falou de sua alma revolucionária.

O discurso de Dilma é para ela mesma. Para se convencer fundamente de que não cometeu erro algum. Vocês já viram. Eu imagino:

“Começo dizendo que minha consciência está em paz. Quando entrei em 2010, o Brasil estava ameaçado por ideologias reacionárias: a social-democracia, neoliberalismo, mas eu restaurei o essencial: a luta contra o imperialismo norte-americano, contra a desnacionalização de nossas riquezas, contra essa sociedade de empresários irresponsáveis e também contra o lucro. Fiz o fundamental: coloquei o Estado no topo, no centro de tudo, pois de lá emana a verdade para essa sociedade de ignorantes, essa classe média reacionária, como bem acusou nossa filosofa. O Brasil é tão frágil que só um grande Estado provedor pode proteger as massas nas lutas sociais, que elas nem sabem que estão travando; mas eu sei, porque nós somos a consciência do povo.

Sou acusada de ter dilapidado as contas do País, rompendo a Lei de Responsabilidade Fiscal. Rompi, sim. Pois eu tive orgulho de usar o Estado e seu tesouro acumulado para estimular o consumo tão ansiado pelos pobres-diabos, sim, mesmo que os cofres públicos tenham ficado vazios para investir. Populismo? Eu chamo de catequese, conquista de adeptos para o grande futuro que virá! Gasto público é vida! Eu não podia ficar aprisionada naquela leizinha de responsabilidade neoliberal que o FHC inventou. Fiz isso, sim, porque meus fins justificavam esse meio; o fim era garantir apoio para próximas eleições do nosso PT, para ficarmos no poder desse país alienado, até a chegada do futuro socialista.


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Eu fiz tudo certo. Distribuí cargos sem fim, dei verbas gordas para seus currais, nobres senadores. Fiz isso porque sei que, às vezes, é preciso praticar o mal para atingir o bem. Será que o Maquiavel disse isso?

Eu sabia de tudo, eu sabia que a compra da refinaria de Pasadena ia ser um rombo pavoroso, confesso, mas como conseguir dinheiro para minha reeleição sem propinas? Propinas de esquerda, é claro. Por isso, fiz vista grossa, sim, quando aquele Cerveró me entregou uma página solta, com uma piscadinha do olhinho vesgo.

Tenho orgulho de tudo que fiz. Menti na campanha, dizendo que não ia ter comida no prato do povo, menti nos bilhões que arranquei dos bancos para esconder o déficit público. Mas foram mentiras que chamo de ‘corrupção revolucionária’. Ahh, esse meu povo, tão ignorante, desvalido. A miséria me fazia feliz. Explico: denunciar a miséria era um alívio para minha consciência. Desculpem a emoção (chora), mas há uma pureza doce na miséria que me comove muito (lágrimas). Mas, nós do PT, somos os sujeitos da História e, apesar de vossa injustiça contra nós, vamos construir o paraíso social.

Meus fins uniram o País. Sim, uni vocês até mesmo contra mim, porque confundiram minha sutileza ideológica com incompetência, acharam que eu errava, sem saber que meu acerto era no futuro. Nunca errei. Não me arrependo de nada. Houve corrupção? Sim, mas adstrita a alguns elementos desonestos, que traíram nossa missão. Dizem que roubamos; não, a palavra não é essa – é apenas a ‘desapropriação’ de um tesouro comprometido com metas neoliberais... isso é que fizemos.

É muito difícil desenvolver esse país de merda, desculpem o termo. Por isso, temos de destruir o capitalismo por dentro, já que não dá mais pé uma revolução russa. Mesmo uma avacalhação é mais revolucionária – seria uma espécie de ‘esculhambação criativa’ para arrasar administrações de direita.

Foi isso que fez nosso líder Chávez, assassinado pelos imperialistas, que lhe injetaram câncer no corpo, e, depois que ele virou passarinho, passaram a roubar até os alimentos do povo, botando a culpa em nossos irmãos bolivarianos.

Nosso povo também não sabe se governar. Por isso, digo, democracia clássica como? Para nós, ‘democracia’ sempre foi uma estratégia para tomada do poder. E não era hipocrisia; era dialética histórica. Tínhamos de apoiar a democracia burguesa para depois fazer o centralismo democrático, que tanto usou nosso grande irmão Stalin, injustiçado por aqueles dois fascistas Kruchev e Gorbachev.

Eu sou inocente, pura, não tenho dinheiro na Suíça e toda minha paixão lancinante pelo povo brasileiro foi confundida com desonestidade e incompetência. As massas ainda vão sentir a minha falta, debaixo de um governo neoliberal que só pensa em contabilidade.

Vocês hoje me baniram, mas vão se arrepender no futuro, pois o Brasil nasceu torto e nunca será consertado nem por Temer nem por ninguém.

Arrependei-vos, fariseus do templo, pois, como disse a querida Gleisi Hoffmann: esse Senado não tem moral para me julgar.

Estou sofrendo um golpe. Sim, não adiantam rituais, votações; repito, sim, que é golpe tramado por essas instituições de direita, como o STF, o Congresso, o Ministério Público, a OAB, a Polícia Federal.

Estou orgulhosa de mim. Como Getúlio, saio da presidência para entrar na História. E, para terminar, cito o líder maoista João Pedro Stédile, quando disse aos camponeses: ‘Tenham filhos – eles conhecerão o socialismo!’. E eu acrescento: Seus filhos vão respeitar minha imagem no futuro. Adeus!”

Estou no passado, amigos leitores, mas deve ter sido algo mais ou menos assim. Que acham?

Defesa de Dilma teve embates com adversários e afagos de aliados

A presidente afastada Dilma Rousseff faz nesta segunda-feira (29), no Senado, sua defesa no processo de impeachment. Depois de seu discurso inicial, a petista passou a responder a perguntas feitas pelos senadores, favoráveis e contrários ao impeachment.

Diferente do que analistas esperavam, não houve confusões e, no geral, o tom foi de cordialidade.

Os senadores que defendem a saída de Dilma reforçaram as acusações do processo de impeachment: de que a presidente afastada cometeu crime de responsabilidade ao desrespeitar a meta fiscal abrindo crédito sem autorização do Congresso e ao atrasar pagamentos do governo para bancos públicos nas chamadas "pedaladas fiscais".

Alguns ainda a acusaram de cometer "estelionato eleitoral" em 2014 e rejeitaram o rótulo de 'golpe' para o impeachment.

Já Dilma e seus aliados voltaram a negar que ela tenha cometido crimes e defenderam a legalidade de seus atos como presidente.

Veja os embates entre a petista e alguns de seus adversários e afagos feitos por aliados.

*
OS ADVERSÁRIOS
ANTÔNIO ANASTASIA (PSDB-MG), relator do processo "Em 22 de julho, foi enviado ao Congresso Nacional o PLM 5, alterando a meta de R$ 55 bilhões para R$ 5 bilhões. Portanto, a partir desta data, a senhora já tinha plena consciência que a meta não seria mais cumprida.

Ainda assim, em 27 de julho, crédito [suplementar] foi aberto. Por que esse decreto foi assinado por Vossa Excelência, em evidente confronto com a meta?"

RESPOSTA DE DILMA
"Nós abrimos crédito suplementar por decreto porque a LOA [Lei Orçamentária Anual] autorizou. O último decreto que editamos é de 20 de agosto, e decisão do plenário [do Congresso], a única que conta, é de outubro.

Então a não ser que a gente passe a aceitar aqui a retroatividade da lei, fica muito difícil de dizer que há um crime de responsabilidade"


Senator Aecio Neves (R) speaks next to Senator Antonio Anastasia, rapporteur of the special senate committee during a voting session on the impeachment of President Dilma Rousseff in Brasilia, Brazil, August 29, 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino ORG XMIT: BRA124
Senador Aécio Neves fala ao lado de Antonio Anastasia em sessão no Senado

AÉCIO NEVES (PSDB-MG), ex-candidato à Presidência

"Não poderia imaginar que depois do debate nos encontraríamos no Senado Federal nesta posição"
"Não é desonra alguma perder eleições, sobretudo quando se defende ideias e se cumpre a lei. Eu não diria o mesmo quando se vence as eleições faltando com a verdade e cometendo ilegalidades"
RESPOSTA DE DILMA
"Respeito todos que concorreram comigo. Agora, não respeito a eleição indireta que é produto de processo de impeachment sem crime de responsabilidade"
AÉCIO NEVES, ao comentar as respostas de Dilma
As respostas dela independem da pergunta. Como disse o Cássio (Cunha Lima), se você perguntar se ela pedalou ou se matou a Odete Roitman [personagem da novela 'Vale Tudo", de 1988] a resposta vai ser a mesma.

RONALDO CAIADO (DEM-GO), líder do DEM no Senado


Eduardo Anizelli/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 11-05-2016: O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), discursa durante sessao do impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Senado Federal. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)

"Todos os bancos privados [envolvidos no Plano Safra] foram pagos mensalmente [...] Os bancos oficiais tiveram de bancar 60 bilhões de reais de pedalada."
"A opção do governo da senhora foi de emprestar dinheiro para países governados por tiranetes e penalizar os programas sociais."
RESPOSTA DE DILMA
"O Plano Safra é fundamentalmente executado pelo Banco do Brasil. Os bancos privados têm uma participação menor do que 10% no total dos empréstimos, e os demais bancos privados entram via BB. Não é possível dizer que nós tivemos um tratamento diferente."
"Na minha campanha era criminoso que o Brasil tivesse financiado o Porto de Mariel. O presidente Obama tem no registro do seu mandato, reestabelecer as relações comerciais com Cuba. [...] E o nosso Porto de Mariel é disputado por todo aqueles que querem investir em Cuba"
-

MAGNO MALTA (PR-ES), senador

Presidente da Itatiaia, Victor Penna Costa, e senador Magno Malta em evento da empresa
O senador Magno Malta (à dir.)
"Quem mentiu no processo eleitoral? Foram os marqueteiros? A senhora não tinha as informações? A senhora mentiu no processo eleitoral?"
RESPOSTA DE DILMA
"Eu não menti no processo eleitoral, senhor senador. Mas não é possível que só nós [governo] prevíssemos a crise que estava por vir. Nós não temos uma bola de cristal. Ninguém sabia disso. [...] Ninguém controla a política do Banco Central americano. Não sabíamos que teríamos uma desvalorização tão grande do Real."
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ALOYSIO NUNES (PSDB), líder do governo Temer


Alan Marques - 11.mai.2016/Folhapress
Senador Aloysio Nunes Ferreira, novo líder do governo na Casa

"[O impeachment é um] golpe? Com supervisão do Supremo Tribunal Federal? Com a senhora exercendo todo o direito de defesa em todas as instâncias?
RESPOSTA DE DILMA
"Se me julgarem sem crime de responsabilidade, senador, é golpe. Um golpe integral"

OS ALIADOS

KÁTIA ABREU


Alan Marques/Folhapress
#multimidia - Brasilia,DF,Brasil 29.04.2016 Os ministros da Fazenda, Nelson Barbosa, da AGU, Jose Eduardo Cardozo, e da Agricultura, Katia Abreu, fazem a defesa da Dilma Rousseff na Comissao do Impeachment no Senado. Foto: Alan Marques/Folhapress 0619
O ex-ministros Nelson Barbosa, Kátia Abreu e José Eduardo Cardozo
"Não tenho dúvida que esse impeachment é um processo que nasceu da vingança sórdida de Eduardo Cunha e da ganância de um pequeno grupo pelo poder"

JORGE VIANNA (PT-AC)

"A oposição brasileira tem medo da palavra golpe. Ou é golpe ou é farsa [...] A oposição está sendo desleal com a Constituição"

ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR)

"Não é a presidente que está sendo julgada no Senado. É a democracia"

GLEISI HOFFMANN

"Aqui não tem tanques, não tem baionetas, não tem tortura física, mas não faltaram a tortura emocional, psicológica, política [...] A política não tem saias presidenta, por enquanto, não ainda. Ainda é um ambiente misógino"

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O que disse Jady

MEIA HORA: O que mudou na sua vida depois de conhecer Usain Bolt?
Jady Duarte: Tudo. Está tudo conturbado, não tenho mais tempo pra nada. Agora estou mais tranquila, mas na hora foi difícil. Fiquei com medo, nervosa, com dor de barriga. Já me pedem foto, me seguem no Instagram.
Algum famoso?
O Zezé di Camargo me seguiu. A Nicole Bahls também.
Você não esperava essa repercussão toda mesmo?
Lógico que mostrei a foto pra mostrar com quem eu fiquei, pra tirar onda. Mandei num grupo de meninas do meu bairro que só tem sete pessoas. Só gente que não conhece ninguém. Não sei quem passou, elas não me dizem. Acho que foram passando pros amigos e chegou longe.
Acha que foi ruim isso?
No início eu achei ruim. Soube que ele tinha namorada, me xingaram, criticaram. Meu Instagram encheu de gente xingando. Hackearam meu Face, publicaram que rolou até vídeo, mas é mentira.
Ele viu você tirando as fotos e deixou de boa?
Viu, claro. Posou e tudo. Pedi e ele deixou. Ele estava tranquilo, me seguiu no Instagram, ele não se preservou, não teve medo. Tanto que depois ele já estava com duas.
Ele pediu para você fazer alguma coisa estranha?
Não, foi tudo normal. Ele dançou de short preto uma música da Rihanna. O quarto tinha duas camas de solteiro, mas uma estava com as coisas dele.
E depois, ele já te procurou?
Ele mandou mensagem no meu Instagram. Coloquei no Google Tradutor, ele me chamou de muito linda. Quando fui responder, me hackearam e não consegui responder. E agora está cheio de seguidores, mais de 100 mil
Esse papo de estudante é verdadeiro ou a imprensa não sabia como te chamar e meteu esse caô?
(Risos) Falaram que eu era estudante de Direito, mas não sou. Faço curso de maquiagem e estou terminando o segundo grau.
Bater papo pelo Google Tradutor é meio bizarro. Rolou isso mesmo?
Foi, ué. Ele estava com o computador no colo, ia escrevendo e eu lendo. Aí colocou uma música da Rihanna. Foi normal.
E essa história que ele não tem o Boltinho grande?
Ué, é normal, ora. Ele é normal. Nada de outro mundo e nada pequenininho.
Quantas medalhas ele conseguiu junto com você?
Ai, que pergunta. Foram duas medalhas. Ele fez duas vezes. E foi bom, sim. Se fosse ruim eu falaria.
Teria vontade de vê-lo de novo?
Teria, claro. Queria falar que não tive culpa de nada. Ele não se preservou, não se preserva. Então não tive culpa. Se eu encontrasse com ele, até pediria obrigada.
Mas se soubesse que ele tem namorada você não pegaria ele? Duvido! O Bolt é o Bolt.
Eu estava meio bêbada, nem pensei que fosse rolar alguma coisa, só achei engraçado. Mas não fiquei deslumbrada.
Vai dizer que você não é fã dele? Não viu as provas dele?
Vi o básico. Mas a minha mãe é muito fã, vibrou muito com ele.
Então ele conquistou a sogra antes da filha?
Ela é fã demais. Gritava: ‘Vai, Bolt! Vai, Bolt!’. Eu só ria. Quando ela viu a repercussão, ficou assustada. Meu nome começou a bombar no grupo da família no WhatsApp. Mas ela ficou do meu lado.
E como as primas invejosas reagiram?
Teve isso mesmo. Mas a minha irmã é que ficou assustada. Mas depois entendeu.
Mas não teria graça pegar o Bolt e não contar pra ninguém.
Pois é. Eu falei no grupo que só ia mostrar para elas e só quem viu a Olimpíada ia saber quem era.
A nota de 100 euros que ele te deu foi pro táxi mesmo?
Foi pro táxi. Ele me deu o dinheiro, peguei o táxi e fui pra casa. Cheguei umas 10h, tomei banho, mandei a foto e fui dormir. Quando acordei, o celular tinha até travado. Foi uma loucura. Mais de 60 conversas, grupo, apareceu prima, amigo, ex-amigo.
Falando em ex, e o traficante Diná Terror? Qual foi o seu lance com ele?
Falaram que tenho dois filhos com ele. Mas ele foi uma aventura. Não tenho filho com ele.
Você gosta de famoso? Me conta aí outro com quem já tenha saído?
Não sou tiete. Mas já peguei um famosíssimo. É um jogador. Ele jogou no Rio, parou há pouco tempo. Mas não posso falar o nome. Aqui no Rio ele é mais famoso do que o Bolt.
Qual é o seu time?
Flamengo.
Ele já te deu alegrias?
(Risos) Muitas. Jogou no meu time. Só posso falar que ele adora andar em comunidade, é atacante e lindo.
Ah, é o Adriano...
Não posso falar, não faz isso.
E quem fica em primeiro lugar, o Imperador ou Bolt?
O jogador é melhor. Ele é o primeiro, e o Bolt vem depois.

‘Chamar impeachment de golpe é desserviço’, diz presidente da OAB

O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, que representa quase mil advogados, classifica de “desserviço” a tese de Dilma Rousseff e aliados de que o impeachment é um golpe. “O STF regrou o processo. É absolutamente democrático”. Ele revela que, para a Ordem, tomar a iniciativa de pedir a cassação da petista foi mais difícil do que na época do Collor, quando havia consenso. Porém, definida a posição, “em nenhum momento se pensou em retroceder.” Desta vez, o protagonismo foi menor, diz, porque se optou por não entrar no debate ideológico.
Impeachment X Golpe.
Não tem golpe. O STF regrou o processo. É absolutamente democrático. É um desserviço com o Brasil essa ideia de golpe. Parece que não temos Corte, que não temos regras.
O julgamento.
Qualquer cidadão num processo judicial é analisado pelo conjunto da obra, conjunto probatório, de defesa e também de acusação.
Protagonismo.
A OAB apresentou o pedido de abertura de impeachment, se posicionou abertamente, ofertou tecnicamente quatro razões para a Câmara. Não fomos autores do pedido aceito, só legitimamos todo o processo. Não temos que entrar no debate político ideológico.
(O impeachment foi aberto com base na peça dos juristas Janaína Paschoal, Miguel Reali e Hélio Bicudo).
Collor x Dilma.
No caso da Dilma, a decisão da Ordem foi muito mais relevante, séria, conflituosa frente à sociedade do que foi a do Collor. A Dilma tem base, militância, isso criou uma divisão. Houve advogados que foram contra o pedido de impeachment. No caso do Collor, não tivemos isso, ele não tinha base, havia consenso. Era o Brasil todo querendo o impeachment do Collor.
Mudança de posição.
Depois que decidimos apoiar o impeachment de Dilma Rousseff, em nenhum momento a Ordem pensou em reavaliar, em retroceder.
Polêmica na Lava Jato.
A Lava Jato tem provocado uma reflexão profunda sobre alguns temas, como a delação premiada, a prisão provisória. Esse debate é saudável, mas sempre de acordo com as regras.
Mudança legal.
Não vamos encontrar uma forma de combater um crime sem respeitar o processo legal. Ultrapassar isso é um retrocesso inaceitável.
Medidas contra corrupção.
Algumas dessas medidas defendidas pelo Ministério Público são inaceitáveis. Por exemplo, a utilização de prova ilícita desde que colhida de boa fé. Prova ilícita é prova ilícita. Algo inaceitável.
Redução de Habeas Corpus.
Também está entre as 10 medidas restringir a utilização do HC. Isso é algo inimaginável. Só na ditadura trabalhamos contra o HC. É um recurso que lida diretamente com a liberdade. Alguém pode ser preso de forma arbitrária e vamos pensar em restringir?
Morosidade da Justiça.
O juiz que conduz a Lava Jato está sendo moroso? Não. Essa ideia de que precisamos de regras mais duras para combater o crime e a morosidade não se sustenta porque temos um exemplo claro. As leis que temos são suficientes, em que pese a necessidade de um ou outro ajuste, como criminalizar o caixa 2.
Direito de defesa.
Um processo legislativo em desconformidade com as garantias individuais vai afetar também o cidadão comum. Há poucos dias o Brasil foi acusado por um nadador de que havia tido um assalto. Se nós não tivéssemos o direito de defesa, o Brasil não teria se recomposto mundialmente. O direito de defesa é um equilíbrio para a democracia.
Campanha contra.
Esse projeto das 10 medidas foi submetido à sociedade para que assinasse, mas é preciso leitura detalhada, temos que ver a que preço vamos combater a corrupção. Mas a Ordem não fará campanha contra. Vai trabalhar a favor do Brasil.
Mais poder ao MP.
A sociedade não precisa de heróis, mas de homens responsáveis e de solução para se chegar ao fim disso tudo.

Carta contra impeachment de Dilma

Artistas e Intelectuais brasileiros pedem que senadores respeitem o resultado das eleições de 2014

O Brasil vive um dos momentos mais dramáticos de sua história, com a proximidade da votação final sobre o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

O mundo assiste com preocupação a essa ameaça à democracia, como no caso de nossos colegas do Reino Unido, Estados Unidos, Canada e Índia, que publicaram uma declaração alertando que o impeachment representaria "um ataque as instituições democráticas", que levaria ao retrocesso econômico e social.

Os senadores que defendem o impeachment ficarão marcados na história por protagonizar o ataque mais cruel à nossa democracia desde o golpe militar de 1964. A história cobrará explicações, já que não existe base legal para justificar o impeachment.

De acordo com o Ministério Público Federal, a presidenta Dilma Rousseff não cometeu crime. Por isso, seu afastamento é claramente uma manobra política para tomada de poder sem a aprovação das urnas.

Esse ataque aos processos democráticos representa uma ameaça aos direitos humanos e levará o Brasil a uma situação de maior instabilidade política e desigualdade social e econômica.

O ator Wagner Moura afirmou: "Estamos profundamente agradecidos por essas importantes palavras de apoio de nossos colegas na Grã-Bretanha, Estados Unidos, Canada e Índia. Os políticos corruptos que lideram a articulação para depor Dilma têm de saber que há um holofote internacional iluminando suas ações. Se eles derem continuidade ao seu plano, serão lembrados pela história como os responsáveis pelo mais sinistro ataque à democracia desde o Golpe de 1964".

A manifestação de Wagner Moura contra o impedimento de Dilma recebeu adesões de:
1. Adair Rocha, professor
2. Aderbal Freire Filho, diretor teatral
3, Alice Ruiz, poeta
4. André Lázaro, professor
5.Augusto Sampaio, professor
6. Bete Mendes, atriz
7. Biel Rocha, militante de direitos humanos
8. Caetano Veloso, compositor e cantor
9. Camila Pitanga, atriz
10. Carla Marins, atriz
11. Cecília Boal, psicanalista
12. Cesar Kuzma, teólogo e professor
13. Célia Costa, historiadora e documentarista
14. Charles Fricks, ator
15. Chico Buarque, compositor e cantor
16. Clarisse Sette Troisgros, produtora
17. Cristina Pereira, atriz
18. Dira Paes, atriz
19. Dulce Pandolfi, cientista política
20. Eleny Guimarães-Teixeira, médica
21. Generosa de Oliveira Silva, socióloga
22. Gilberto Miranda, ator
23. Gaudêncio Frigotto - escritor e professor
24. Isaac Bernat, ator
25. José Sérgio Leite Lopes, antropólogo
26 Julia Barreto, produtora Julia Barreto
27. Jurandir Freire Costa, psicanalista e professor
28. Leonardo Vieira, ator
29. Leticia Sabatella, cantora e compositora
30. Luis Carlos Barreto, cineasta e produtor
31. Luiz Fernando Lobo, diretor artístico
32. Marco Luchesi, poeta e professor
33. Maria Luisa Mendonça, professora e jornalista
34. Marieta Severo, atriz
35. Paulo Betti, ator
36. Ricardo Rezende Figueira, padre e professor
37. Roberto Amaral, escritor
38. Sílvia Buarque, atriz
39. Tuca Moraes, atriz e produtora
40. Virginia Dirami Berriel, jornalista
41. Xico Teixeira, jornalista

Dá para confiar nas pesquisas eleitorais?

Por Ronaldo Lemos - Folha de SP
Um sinal vermelho acendeu nos EUA. As pesquisas eleitorais estão cada vez mais imprecisas. A crise dos institutos tradicionais agrava-se há anos. Há mais de uma década a disparidade entre as previsões eleitorais e o resultado das eleições cresce.

São muitos os exemplos. Nas primárias da campanha presidencial, todos os grandes institutos de pesquisa apontavam Hillary Clinton liderando em Michigan por no mínimo cinco pontos. No entanto, foi Bernie Sanders quem levou a disputa, com quatro delegados a mais que Clinton. Um deslize bem acima da chamada "margem de erro".

O que estaria acontecendo então? Nos EUA a crise vem sendo explicada por um declínio imenso no índice de retorno das pesquisas. A principal metodologia para consultar eleitores lá é via telefone fixo. A regulamentação impede que sejam feitas ligações de pesquisas diretamente no celular dos eleitores. Com isso, a taxa de resposta a essas ligações, que era de 78% na década de 1980, é agora de apenas 0,9% em 2016.

No entanto, a questão não se esgota por aí. Outro fator crucial é que as pesquisas tradicionais não funcionam tão bem no mundo de hoje. Elas produzem um "instantâneo" da situação. Uma fotografia estática do momento eleitoral que não dá conta de sua dimensão dinâmica.

Essa limitação tornou-se especialmente problemática em um mundo hoje hiperconectado. As mudanças de opinião e transformações sociais são vorazes. Um bom exemplo está no artigo "Living At Pokémon Go Speeds" (Vivendo na Velocidade do "Pokémon Go"), do escritor Ferrett Steinmetz. Ele usa o game para exemplificar a velocidade atual. No dia 6 de julho de 2016, o joguinho era virtualmente desconhecido. Em 12 de julho, ele já contava com 12 milhões de usuários ativos só nos EUA.

Steinmetz diz que essa mesma dinâmica afeta as informações que circulam publicamente (incluindo informações falsas). Nas palavras dele: "Se todo o mundo na internet está falando alguma coisa e as fontes oficiais de notícias não estão nem confirmando nem negando aquela informação, você acaba cedendo e acreditando que aquilo é verdadeiro porque 'todo o mundo' está falando sobre aquilo". Ou seja, "velocidade Pokémon" de hoje provoca mudanças massivas de opinião que influenciam também os processos eleitorais.

Por causa disso, há uma busca de novos modelos de pesquisa eleitoral. Novas empresas estão usando a chamada "ciência dos dados" (como o "big data") para avaliar preferências eleitorais. Um exemplo é a Civis Analytics, start-up ligada ao Partido Democrata. Usando apenas modelagem de dados, a empresa previu que Obama obteria 57,68% dos votos em Ohio em 2012. O resultado final foi 57,16%.

Muitas dessas questões aplicam-se ao Brasil. Aqui também vem ocorrendo uma discrepância entre pesquisas e resultados. Está na hora de diversificar os métodos de mensuração eleitoral no país para dar conta da sociedade contemporânea. Sob pena de nos orientarmos por uma bússola cada vez mais imprecisa.

domingo, 28 de agosto de 2016

Cena de cinema

Por Dora Kramer - Estadão
A expectativa em torno da presença de Dilma Rousseff amanhã no Senado para fazer sua defesa e responder a perguntas dos parlamentares é grande, mas não tem a ver com a possibilidade de virada de votos em favor da volta dela à Presidência da República.

Tal missão é impossível. Por três motivos: a firme consolidação da posição majoritária pró-afastamento, a já proverbial falta de traquejo da presidente afastada no manejo do raciocínio argumentativo e a ausência de empatia entre ela e a plateia do caso. Dilma, então, vai apenas cumprir uma tabela? Sim e não.

Poderia optar por não ir, dada a inutilidade prática da ação. Mas vai – acompanhada de grande elenco, Luiz Inácio da Silva à frente – para fazer jus ao roteiro da mulher de “coração valente” que luta até o fim e assim propiciar um fecho apoteótico ao documentário que está sendo produzido sobre o processo de impeachment no qual terá o papel de vítima injustiçada e injuriada. Na impossibilidade de exibir um final feliz, exibe-se como mártir. Uma cena para o cinema.

Feito isso, Dilma desocupa a ribalta e volta ao ostracismo de onde Luiz Inácio da Silva a resgatou, num ato posto pelos fatos na condição de erro crasso que ficará marcado na história como exemplo das consequências do pecado da soberba. Nunca antes neste País terá sido visto um equívoco de tal magnitude, cometido por considerado mestre na matéria. Ainda que involuntariamente e por mais que acredite na fantasia, na vida real Dilma derrubou o mito do grande articulador, do político sensitivo de instinto infalível.

Com esse passo em falso, Lula se colocou em posição semelhante à de Paulo Maluf na eleição municipal de 1996, em São Paulo. Maluf inventou Celso Pitta convocando os eleitores a nunca mais votar nele caso a criatura desse errado. Deu e ficou mais ou menos por isso mesmo. O inventor nunca mais recuperou condições de competitividade em eleições majoritárias, mas seguiu recebendo da população delegação para representá-la na Câmara dos Deputados, a despeito de seus desacertos com a lei.

Lula garantiu ao eleitor de 2010 que Dilma Rousseff era um gênio da administração, sendo desmentido ao passar do tempo pela realidade da inépcia de sua criatura. Juntando-se a ineficácia da pessoa com a eficácia do PT na infração ao Código Penal, tem-se uma fatura robusta espetada na conta do criador na forma de queda na popularidade e perda da credibilidade.

Não obstante a posição de ponta nas pesquisas para a eleição presidencial de 2018, Lula é campeão no quesito rejeição. Não será candidato, pelo simples fato de que correria o risco de perder e/ou de relegar ao esquecimento os 80% de aprovação popular que ostentava ao fim de seu segundo mandato, patrimônio indispensável à sua biografia.

Por essa e várias outras é que o PT vê chegar a hora tão adiada: vai precisar se reinventar a partir de rigorosa autocrítica, mudança de procedimentos e abertura de espaço para novas lideranças, abandonando a dinâmica de partido de uma só estrela. No caso, cadente. No sentido pessoal e, simbolicamente, partidário.

Há gente decente no PT, capaz de revigorar a legenda. Há base social (e sobre isso falam os três meses decorridos entre o afastamento de Dilma pela Câmara e o epílogo no Senado, processo que no caso de Fernando Collor levou 48 horas) e há eleitores ávidos por serem reconquistados.

Daqui em diante cabe ao partido aproveitar esse capital remanescente para olhar para si sem condescendência e recomeçar. Desta vez compreendendo que outra forma de fazer política é possível. Embora custe esforço, a chance é de que seja consistente. De verdade e para sempre. Desde que os petistas estejam dispostos a trilhar o caminho menos percorrido da dificuldade, aceitando que a vida é difícil. E o bom exercício da política também.

Vocação dos Catequistas

Por Cardeal Orani Tempesta
No quarto domingo de agosto, dentro do mês vocacional, celebramos a vocação dos leigos e leigas e, no último domingo, o Dia do Catequista. Neste ano ambos caem no mesmo domingo, pois temos apenas quatro domingos em agosto.

Neste domingo, a Igreja insiste no protagonismo dos leigos, seja nos âmbitos da fé e da comunidade eclesial, mas preferencialmente na esfera do mundo. O leigo cristão tem a missão de ser o fermento de transformação profunda das realidades temporais, vivendo na comunhão da Igreja.

Na Igreja no Brasil temos um número muito grande de catequistas. São homens e mulheres que, cientes de sua responsabilidade cristã, assumem o serviço de educar e formar crianças, jovens e adultos, preparando-os não só para os sacramentos, de modo particular a Santa Eucaristia, mas para testemunhar com a própria vida a pessoa de Jesus e o seu Evangelho. Da catequese familiar e eclesial dependem a maturidade da fé dos cristãos e a vivacidade e o testemunho da Igreja.

A vocação dos catequistas é uma das mais importantes na fé católica, porque eles são os transmissores da fé recebida de nossos pais. Ser catequista é ter consciência de ser chamado e enviado para educar e formar na fé. Sabemos que há diversidade de dons e de ministérios, mas o Espírito Santo é o mesmo. Existem diversos modos de ação, mas é o mesmo Deus que age em todos e realiza tudo em todos. É assim que nos diz a Bíblia, a Palavra de Deus. Carisma é um dom do alto, que torna seu portador apto a desempenhar determinadas atividades e serviços em vista da evangelização e da salvação. Todo catequista tem um carisma e recebe este dom, que assume a forma do serviço da catequese na comunidade. É uma graça acolhida e reconhecida pela comunidade eclesial, que comporta estabilidade e responsabilidade. Ser catequista é uma vocação e uma missão.

Uma das preocupações fundamentais da Igreja hoje é a formação de seus agentes pastorais. Temos necessidade de muitos e santos evangelizadores. A vocação é essencialmente eclesial e está destinada ao serviço e ao bem da comunidade. A Igreja, como assembleia dos vocacionados à santidade, tem o compromisso e o dever de preparar, adequadamente, seus filhos e filhos para que realizem, com fé, amor e eficácia, o projeto de evangelização. Pela catequese, a Igreja contribui para que cada batizado cresça, amadureça e frutifique sua fé. Sabemos que uma das tarefas mais importantes da Igreja é ajudar cada um a encontrar seu projeto de vida, a perceber o chamado de Deus.

Aos fiéis leigos e leigas compete, por vocação própria, buscar o Reino de Deus ocupando-se das coisas temporais e ordenando-as segundo o Criador. Vivem no mundo, isto é, no meio de todas e cada uma das atividades e profissões, e nas circunstâncias ordinárias da vida familiar e social, as quais como que tecem a sua existência. Aí os chama Deus a contribuírem, do interior, à maneira de fermento, para a santificação do mundo, através de sua própria função. A eles compete muito especialmente esclarecer e ordenar todas as coisas temporais, com as quais estão intimamente comprometidos, de tal maneira que sempre se realizem segundo o espírito de Cristo, se desenvolvam e louvem o Criador e o Redentor. Por isso, neste domingo, de modo especial, rezemos por todos os leigos e por todos os catequistas para que sejam “Sal da terra e luz do mundo”.

O Papa Francisco, enquanto Arcebispo de Buenos Aires, em agosto de 2001, dirigiu a seguinte mensagem intitulada “Deixar-se encontrar para facilitar o encontro”, aos seus catequistas, em que disse: “A catequese necessita de catequistas santos, que contagiem com sua própria presença, que ajudem, com seu testemunho de vida, a superar uma civilização individualista, dominada por uma ‘ética minimalista e uma religiosidade superficial’. Hoje, mais do que nunca, urge a necessidade de se deixar encontrar pelo Amor, que sempre tem a iniciativa para ajudar os homens a experimentar a Boa-Nova do encontro”. (cf. Anunciar o Evangelho – Mensagens aos catequistas, Cardeal Bergoglio, Ecclesiae, pág. 18). Continua o futuro Papa: “Mas todos esperam, buscam. desejam ver Jesus. E por isso necessitam dos que creem, especialmente dos catequistas que ‘não só lhes falem de Cristo, mas também que de certa forma lh’O façam ver... Mas, o nosso testemunho seria excessivamente pobre se não fôssemos primeiro contemplativos do seu rosto”. (Obra citada, pág. 19).

Já como Romano Pontífice, o Papa Francisco ensinou a receita do catequista que: "partir novamente de Cristo significa imitá-Lo no sair de si e ir ao encontro do outro. Essa é uma experiência bonita, e um pouco paradoxal. Por qual motivo? Porque quem coloca no centro da própria vida Cristo, se descentra! Quanto mais se une a Jesus e Ele se torna o centro da sua vida, mais Ele o faz sair de si mesmo, o descentra e abre você aos outros”. "O coração do catequista vive sempre esse movimento de 'sistole – diastole': união com Jesus – encontro com o outro. Sistole – diastole. Se falta um desses dois movimentos, não bate mais, não pode viver". (http://br.radiovaticana.va/storico/2013/09/27/francisco_aos_catequistas_sejam_criativos,_n%C3%A3o_tenham_medo_de_romper/bra-732465, visualizado em 21 de agosto de 2016).

A pessoa do catequista é fundamental para a vida da Igreja. Por meio dela a Igreja vai exercendo de um modo específico a “educação da fé”. Bela missão, rica de possibilidades e também de desafios imensos. Ao percorrer um ano de atividades, nas suas mais variadas expressões e condições, segundo as diversas realidades pessoais, culturais, geográficas e mesmo de experiência de fé, convidamos todas as pessoas que exercem essa bela e árdua missão a lançarem um olhar sobre o caminho percorrido, para avaliação e um olhar para o futuro, para programação.

Para cumprir bem sua missão, o catequista deve ser uma pessoa inserida na comunidade eclesial, ter um espírito de abertura e humildade para procurar sempre crescer. É indispensável que o catequista tenha uma experiência pessoal e comunitária da fé para que sua missão seja frutuosa. Importante, ainda, é a participação do catequista em cursos de capacitação, mas é necessário também que tenha consciência de ser membro de uma equipe que trabalha para o mesmo objetivo e, por isso, deve cultivar uma vida comum, refletir, organizar, trabalhar e avaliar junto e, ainda, celebrar comunitariamente a fé e a missão.

Ao cumprimentar todos os queridos catequistas e as queridas catequistas de nossa Arquidiocese, expoentes fundamentais da transmissão da fé católica e da educação das novas gerações, o faço com o coração em festa, e espero que chegue a cada um e a cada uma meu mais comovente “Deus lhe pague” pelo seu trabalho. Sei que o seu abençoado trabalho é feito em nome de Cristo. Por isso, são atualíssimas as palavras do Papa Francisco que vão nos guiar neste dia, em ação de graças por cada catequista de nossa Igreja: “Cada ser humano precisa sempre mais de Cristo, e a evangelização não deveria deixar que alguém se contente com pouco, mas possa dizer com plena verdade: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20)”. (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 160). Nossos catequistas poderão dizer com santa felicidade: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). Essa é a nossa fé, a nossa missão: viver para Cristo e anunciá-Lo e testemunhá-Lo a todos. Sejamos eficazes nesta nossa santa missão. Que a Virgem Aparecida nos ilumine e continue fortalecendo todos os nossos catequistas!

sábado, 27 de agosto de 2016

Torço para que Dilma examine as causas de sua queda

Por Demétrio Magnoli - Folha de SP
Presidenta Dilma Rousseff, lembro-me, como todos, de sua promessa de abril: "Se eu perder, estou fora do baralho". A derrota, sabemos, já aconteceu; o Senado apenas a oficializará. Torço para que, "fora do baralho", examine as causas de sua queda.

Não culpe os outros ("golpe das elites") ou as circunstâncias ("crise internacional"). Investigue seus erros, sobretudo um, que interessa ao futuro da convivência democrática no Brasil. Refiro-me ao sectarismo. Mais que às "pedaladas fiscais" ou ao escândalo na Petrobras, sua derrota final deve-se ao sectarismo.

O sectário, no sentido que aqui interessa, é o militante convicto, intolerante, de uma doutrina faccional. No fracasso de sua política econômica encontram-se as raízes do impeachment. Não lhe faltaram alertas: diversos economistas sérios avisaram que o voluntarismo estatal conduziria à inflação, ao déficit, à dívida, à erosão da produtividade e, finalmente, à depressão.

Sua resposta sistemática, e a dos seus, foi rotulá-los como agentes de interesses antipopulares: serviçais das altas finanças ou do imperialismo. Não teria sido apropriado enxergar aqueles economistas "liberais" como brasileiros tão bem-intencionados quanto os economistas "desenvolvimentistas" que a cercavam? Mas o sectário concentra-se nos motivos supostos, não nas ideias, dos que o criticam.

O sectário acalenta certezas fulgurantes, que acabam por cegá-lo: a divergência aparece a seus olhos como traição. Daí, num passo imperceptível, ele cruza o limite que separa o debate legítimo da difamação. Campanhas eleitorais são embates amargos, mas devem curvar-se a certas regras implícitas.

Recordo-lhe a peça publicitária de sua campanha que fazia de Marina Silva uma conspiradora associada aos "banqueiros" numa trama destinada a roubar a comida da mesa dos pobres. O castigo veio a galope, em sua peregrinação até o Bradesco para convidar Joaquim Levy a ocupar o cargo de czar econômico do governo. Sem o estelionato eleitoral, um espetáculo lancinante de desonestidade, não haveria impeachment.

"Meu partido, certo ou errado!". O sectário presta lealdade à sua seita, mesmo à custa da deslealdade com as leis e com o conjunto dos cidadãos. Sua tentativa de transferir para o STF as investigações judiciais sobre Lula, por meio da nomeação do investigado à Casa Civil, definiu seu destino. O mandato terminou ali, quando os brasileiros concluíram que, transformando o Palácio em santuário de um poderoso político às voltas com um juiz, a chefe de Estado rebaixava-se à condição de chefe de facção.

Na saga da resistência ao impeachment, difundiu-se a célebre fotografia da jovem Dilma, em novembro de 1970, perante os juízes de um tribunal militar. A estratégia de marketing, que empolgou seus fiéis, investe numa reiteração (o impeachment como reprodução da perseguição política da ditadura) e numa permanência (a Dilma do presente como extensão da Dilma do passado).

A reiteração é farsesca, pois borra a cisão entre ditadura e democracia. A permanência é verdadeira, num duplo sentido: se a coragem de antes não desapareceu, perenizou-se também a chama sectária inerente aos militantes da luta armada. No fim, a tal fotografia ilumina retrospectivamente sua presidência por um ângulo imprevisto, invisível aos olhos dos marqueteiros.

O sectário atribui significados transcendentais a seus caprichos – e, se puder, impõe obediência geral a eles. A circular que obrigava seus subordinados a usar a palavra "presidenta" jamais serviu à causa dos direitos das mulheres, mas criou uma fronteira de linguagem entre a militância petista e os demais cidadãos. Nunca a tratei assim, enquanto sua assinatura tinha o peso do poder. Hoje, faço a concessão. Presidenta Dilma, "fora do baralho", esqueça Getúlio Vargas e Jango: pense nos seus erros.

Renan diz que 'desfez' indiciamento de Gleisi e Paulo Bernardo no STF

Em um discurso inflamado para tentar acalmar os ânimos dos senadores, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), acabou se envolvendo em uma polêmica ao dizer que ele próprio conseguiu junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) desfazer o indiciamento da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo.

"Ontem, a Senadora Gleisi chegou ao cúmulo de dizer aqui para todo o País que o Senado Federal não tinha moral para julgar a Presidente da República. Como a senadora pode fazer uma declaração dessa, exatamente uma senadora que há 30 dias o presidente do Senado Federal conseguiu, no Supremo Tribunal Federal, desfazer o seu indiciamento e do seu esposo", afirmou.

A fala gerou forte reação entre os senadores, o que levou o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, responsável por comandar o processo, a antecipar o intervalo para o almoço.

De acordo com senadores próximos ao peemedebista, ele se referiu ao pedido formal que o Senado fez ao STF para que as apreensões feitas no apartamento funcional da senadora quando Paulo Bernardo foi preso, em junho, para elas não fossem usadas como provas no processo.

De acordo com senadores que estavam perto de Renan, ele já estava praticamente terminando sua fala mas voltou ao microfone, em tom mais inflamado, depois de ouvir provocações feitas por Gleisi, que o teria chamado de "mentiroso" e "canalha". "Ela disse coisas até impublicáveis", disse o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).

Antes de entrar na polêmica, Renan desceu ao centro do plenário para tentar apaziguar os ânimos dos senadores que se exaltaram com mais uma briga entre Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Lindbergh Farias (PT-RJ). A Lewandowski, o peemedebista afirmou que o magistrado "está sendo obrigado a presidir o julgamento em um hospício".

"O Senado está perdendo uma oportunidade de se afirmar perante o país como uma instituição verdadeiramente representativa da sociedade", afirmou Renan. "Nós não podemos apresentar esse espetáculo à sociedade."

Ele criticou o uso das palavras de ordem pelos senadores e fez um apelo para que "cumpra-se o regimento, a lei, a Constituição".

"Os senadores terão oportunidade para falar depois de ouvirmos testemunhas, cada um falará por até dez minutos. Antes disso, temos que ouvir, ouvir, ouvir. Temos dois ouvidos para ouvir", declarou. "Eu fico muito triste porque essa sessão é sobretudo uma demonstração de que a burrice é infinita", conclui.

BRIGA - Em nova discussão, Lindbergh pediu a palavra para reclamar de uma intervenção de Caiado, quando o chamou de "desqualificado". Lewandowski interveio e afirmou que o senador não poderia falar dessa forma. Caiado protestou fora do microfone, o que levou o ministro a suspender a sessão.

Neste momento, os dois começaram a trocar acusações. Caiado disse que Lindbergh tem mais de 30 processos no STF e uma "cracolândia" em seu gabinete. Em resposta, o petista respondeu: "Cachoeira sabe da sua vida", em alusão ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, que atuava em Goiás e foi preso por esquemas de corrupção.

OUTRO LADO - Conforme nota divulgada após a polêmica gerada por sua fala, Renan se referiu "a duas petições protocoladas pela Mesa Diretora" no STF. "Trata-se de manifestação pública e institucional decorrente da operação de busca e apreensão realizada no imóvel funcional ocupado pela senadora Gleisi Hoffmann e do indiciamento da senadora pela Polícia Federal".

Ainda no texto divulgado, Renan reiterou "a isenção com a qual conduziu todo o processo", aproveitando ainda para lamentar o que chamou de "provocações em plenário".

Para Gleisi, Renan estava nervoso e acabou dizendo o que não devia. Ela mencionou justamente as duas petições citadas pelo presidente do Senado em sua justificativa. Negou, contudo, que o tenha provocado durante a intervenção do peemedebista, como relataram senadores que estavam próximos aos dois.

"Ele levantou se propondo a fazer uma fala para acalmar. Ai chama aqui de hospício. Eu levantei e disse pra ele que a fala tinha sido ruim. Ele ficou irritado. Depois eu disse "isso é mentira". Acabei de ver as imagens novamente, porque às vezes no calor do momento... Acho que ele também está nervoso. Mas tem que entender que estamos numa disputa política aqui, uma disputa de narrativa", afirmou a petista.

Sobre suas afirmações de que o Senado não tem moral para julgar a presidente Dilma, Gleisi disse que as reitera, mas explicou: "Não digo que o Senado não tem moral. Porque uma parte grande dos senadores estão respondendo a processo. Inclusive eu, eu me incluo nisso. Segundo, tem muitos outros senadores que também respondem a processos em seus governos".

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

'Não fui preso, fui solto', afirma Maluf em depoimento no STF

Ao prestar depoimento na ação em que é acusado de ter praticado caixa dois nas eleições de 2010, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) adotou o discurso político. Afirmou que já dormiu embaixo de goteira, que não tem condenação e, perguntado se já havia sido preso, saiu-se com essa: 'Não fui preso, fui solto'.

O deputado foi ouvido no STF (Supremo Tribunal federal) nesta quarta (24), onde tramita o processo em que ele é réu, acusado de fraude na prestação de contas.

Segundo a denúncia do Ministério Público federal, a empresa Eucatex, pertencente à família de Maluf, bancou R$ 168,6 mil de sua campanha. De acordo com os procuradores, esse montante não foi informado à Justiça Eleitoral.

O juiz auxiliar do gabinete do ministro Luiz Fux, relator do caso do Supremo, perguntou se o deputado já havia ido para a cadeia.

"Excelência, muitas vezes me perguntam se fui preso. Eu respondo o seguinte, fui solto, pelo Supremo Tribunal Federal, que considerou minha prisão ilegal, sem base legal. Não fui preso, fui solto pelo STF", afirmou.

Maluf e seu filho, Flávio, foram detidos em 2005, suspeitos de crimes financeiros. Acabaram libertados 30 dias depois, por determinação do Supremo, que acolheu pedido de habeas corpus da defesa.

Ao juiz, o deputado disse guardar uma mágoa do período em que passou no cárcere. Isso porque, segundo Maluf, ele jamais empregou parentes em cargos públicos.

"Tenho aqui na vida pública um pequeno ressentimento, que prenderam meu filho. E eu, Paulo Salim Maluf, não tenho histórico de ter nomeado nenhum parente, irmãos, cunhados, sobrinhos, nunca, Meu filho nunca exerceu nenhum papel público.

Maluf e Flávio foram detidos porque, à época, eram suspeitos de terem cometido os crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

O parlamentar, que foi governador de São Paulo e prefeito da capital, negou ao magistrado que já havia sido condenado. Em março deste ano, no entanto, a Justiça da França o condenou a três anos de prisão por lavagem de dinheiro. Maluf passou a figurar na lista de procurados da Interpol.

COPA DE 70

O deputado lembrou ainda de uma ação popular da qual foi alvo na década de 70, quando resolveu presentear com um fusca cada um dos jogadores da seleção brasileira campeã da Copa do Mundo daquele ano. Ele acabou absolvido décadas mais tarde.

Ao falar sobre o ocorrido, Maluf disse que contribuiu para o título histórico, conquistado pela geração de Pelé, Tostão e Gerson.

"Até quero dizer a vossa excelência que me sinto feliz de ter contribuído para o tricampeonado porque foi a festa mais linda que vi no Vale do Anhangabaú. Dois milhões de pessoas, eu era prefeito da cidade de São Paulo, com 37 anos, aplaudindo Pelé, Rivelino, Tostão, Leão. É uma das coisas que marcam o coração da gente, e eu sou um patriota convicto", considerou.

E acrescentou que se sentiu injustiçado, já que teve de arcar com os custos do processo: "E acho muito injustas as ações populares porque a gente gasta recursos com advogados e quem propõe ações não tem custo nenhum no final", justificou.

Maluf aproveitou para relatar supostas agruras vividas durante a corrida eleitoral.

"Vou para comícios, feiras livres, para supermercados, programas de rádio, de televisão. A gente, normalmente, sai de casa 7h da manhã e, olha lá, quando pode chegar em casa 23h ou 24h[...]. Eu queria dizer que já dormi, excelência, em camas, onde a noite na chuva tinha goteiras. Mas para buscar o voto a gente tem que ir pessoalmente [...].", afirmou.

ACUSAÇÕES

Depois de dissertar sobre casos do passado e fazer brincadeiras, Maluf foi confrontado com as acusações do Ministério Público. Em relação às suspeitas, disse que, como candidato, jamais tomou conhecimento das questões financeiras relativas à campanha.

"O candidato normalmente não fica no diretório ou fazendo contabilidade de campanha [...] Nunca tomei conta de finanças nenhuma de campanha. Não sei quanto recebeu, quanto gastou de gasolina no automóvel, nem quanto gostou comício, era tudo pelo comitê financeiro que estava registrado no TRE", afirmou.

O deputado reconheceu ser um dos fundadores da Eucatex, empresa de sua família que teria bancado despesas de campanha não declaradas, mas disse que não tem qualquer ingerência sobre a companhia há três décadas.

"Excelência, a Constituição impede o deputado, senador, ministros, participem da diretoria ou do conselho. Mas sou um dos fundadores, mas não tenho participação nela, seguramente, há 30 anos", falou.

O magistrado apresentou documentos e perguntou se Maluf reconhecia algumas das assinaturas que constavam nele. "Eu vou lhe confessar o seguinte, isso é mais letra de médico", opinou.

Em seguida, porém, disse que se tratava da rubrica de tesoureiro de campanha, já falecido e que, segundo o deputado, era um homem "sério" e de sua "absoluta confiança".

O juiz insistiu em saber se o parlamentar não tinha qualquer conhecimento a respeito do fluxo do caixa de sua campanha. Perguntou se a empresa da família do parlamentar pode ter pago despesas da campanha.

"Não tenho conhecimento", disse Maluf, sucintamente.

O magistrado continuou: "O senhor contratou empresa de artes gráficas em Sorocaba?".

"Não, e não conheço essa empresa", disse o parlamentar.

O juiz, então, questionou: "Se eles fizeram material para sua campanha, não foi a seu mando?". "Não tenho conhecimento", finalizou Maluf.

Seriedade como política social

Editorial - Estadão
Criação de empregos é a melhor política social, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao defender no Congresso a criação de um teto para o aumento do gasto público. Num país com desemprego de quase 12 milhões de trabalhadores, em consequência dos erros de um governo incompetente, gastador e irresponsável, os congressistas deveriam levar em conta as palavras do ministro. Sim, uma boa política social deve também educar as pessoas para empregos decentes e produtivos, além de garantir os cuidados básicos com sua saúde.

Mas nada disso se faz sem a aplicação eficiente de recursos em programas bem concebidos. Eficiência envolve parcimônia no uso de dinheiro e atenção aos fundamentos da economia. O desprezo a esses cuidados empurrou o Brasil para o buraco onde se debate há mais de dois anos.

A primeira condição para sair do buraco e retomar o crescimento reclamado com tanta veemência por muitos parlamentares é implantar um programa sério, sensato e crível de recuperação das contas públicas. Foi este o recado mais importante do ministro da Fazenda aos parlamentares, ao defender a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do gasto público.

Para muitos, a mensagem pode parecer mera repetição de verdades bem conhecidas. Mas a repetição é necessária para eliminar qualquer sobra de mal entendido. Não se trata apenas de limitar a gastança para atender a um preconceito neoliberal. Nenhum país, advertiu o ministro da Fazenda, pode manter por muito tempo um déficit público nominal – incluídos, portanto, os juros da dívida – próximo de 10% do Produto Interno Bruto (PIB).

Além disso, a dívida bruta do setor público brasileiro, na vizinhança de 70% do PIB, está muito acima das proporções observadas na maior parte das economias emergentes. Sem o esforço fiscal, o endividamento continuará em crescimento, os juros continuarão consumindo uma parcela importante da receita de impostos e contribuições e o País avançará para uma situação insustentável. Mesmo com aprovação da PEC, a dívida pública ainda crescerá por algum tempo, advertiu o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, também participante do encontro. Sem a PEC, tudo será pior. Se a economia crescer na faixa de 2% a 3% ao ano, a receita fiscal aumentará, mas o resultado ainda será insuficiente para garantir o pagamento de juros e o controle do endividamento. Nada será consertado enquanto a despesa pública se expandir de forma descontrolada.

O objetivo básico da PEC do gasto, portanto, é criar condições para a contenção do endividamento e para a recuperação do controle sobre o orçamento público. O limite proposto, a inflação do ano anterior ao do novo orçamento, deve em princípio valer por 20 anos. Depois de 10, no entanto, o Congresso poderá discutir mudanças na regra. Como o limite valerá para a despesa total, os gastos com educação e saúde poderão seguir padrões próprios de crescimento, mas com uma condição óbvia: será preciso ajustar os demais itens orçamentários.

Com isso o teto será respeitado e as prioridades alardeadas por tantos políticos serão mantidas. A adaptação dos vários itens ao limite geral de aumento é uma condição formal, de caráter meramente aritmético. A discussão passará a outro nível, mais próprio de um país moderno, quando os parlamentares mostrarem mais preocupação com a qualidade das políticas educacional e de saúde, indo além da mera defesa do aumento contínuo de gastos.

Qualidade foi um dos tópicos mencionados pelo ministro Henrique Meirelles. Quando autoridades levam a sério a parcimônia, abre-se espaço para o cuidado com o padrão das despesas e, portanto, com a eficiência da administração. Quem acusa o governo de comprometer o gasto social ao propor limites à despesa raramente se mostra preocupado com a qualidade e a eficiência das políticas. Não se pode esperar nada muito diferente, no entanto, de quem discute como se dinheiro caísse do céu e o papel do governo fosse gastar sem limite e distribuir favores.

Para se dar bem na Amazônia

Por Maria Fernanda Ribeiro - Estadão
Em um mês e meio de Amazônia já consegui aprender muita coisa. Para alguns pode até parecer pouco, mas para mim a sensação é de ter vivido mais do que um ano inteiro caso eu não tivesse furado a bolha pela qual eu rodava pelo meu mundo, mundo pequeno mundo, que eu até pensava ser vasto. Até agora não saí da região do Vale do Juruá, no Acre. Também, ninguém mandou ser tão imensa, tão diversa, tão generosa, tão cheia de vida, tão cheia de história, tão cheia de antropologia, história e geografia.

Até o momento foram quase cinquenta horas navegando em canoas de alumínio pelos rios tão lindos quanto secos Gregório, Juruá, Tejo, Breu e Amônia (nessa ordem). Conheci quatro etnias (Puyanawa, Yawanawa, Kuntanawa e Ashaninka), uma comunidade daimista e rodei pela Reserva Extrativista do Alto Juruá, a primeira a ser criada no Brasil, quando o presidente ainda era o José Sarney e o ciclo da borracha estava em alta.
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Homem empurra barco no rio Tejo: águas rasas por causa da seca

Participei de rituais, ouvi as histórias dos então seringueiros e como viviam na época em que os patrões ditavam as regras. Dormi em redes, em colchonetes no chão e em camas. Tomei banho de rio, de igarapé, de cacimba e de balde. Comi o que tinha e entendi que a alimentação é de acordo com o que o que a estação do ano proporciona. Fiquei doente só uma vez. Fui picada pela tucandeira, a formiga que tem a ferroada mais dolorida do mundo, por vespas, carapanãs e piuns. Senti na pele o poder de se adaptar que o ser humano tem e como a adversidade é capaz de unir os povos.

Digo que a solidariedade atracou aqui e ficou e chego a pensar que se o sociólogo Zygmunt Bauman tivesse conhecido essas terras talvez nem tivesse nos presenteado com seu notável Amores Líquidos e a fragilidade dos laços humanos. Gostaria que ele soubesse disso.

Ainda tenho muito para rodar Amazônia adentro e afora, mas já deixo aqui uma parte deste legado para você que um dia – eu aposto – se atreverá a vir para a Amazônia e ver de perto como funciona o pulmão do mundo e como vivem os povos que ajudam na manutenção de toda essa engrenagem de bronquíolo e alvéolos.

Vamos lá:

– Tem mosquito sim. E eles não dão a mínima para o seu repelente, do OFF ao Exposis. Eu parei de usá-los e comecei a vestir blusas de manga comprida e calças. No começo eu achava que ia morrer de calor. Não morri.

– Não é porque você está na Amazônia que vai ter peixe pulando no seu barco. Se você é vegetariano – como eu – talvez tenha que deixar de sê-lo em alguns momentos. A galinha caipira é um prato em alta aqui. E o boi também rola solto às vezes.

– A variedade de alimentos por aqui é escassa, até mesmo em algumas cidades. Não tem aquele monte de frutas, verduras e legumes que encontramos nos supermercados dos grandes centros urbanos. Vai ter que aprender a se virar com o que encontrar. Achou um maço de couve? Compra logo. Um pé de alface?
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Lanchonete na área central de Marechal Thaumaturgo, município no Acre

Nem pense duas vezes porque enquanto você pensa outro comprou. Está com vontade de comer uma ameixa? Vai ter que esperar até a próxima estação. Só come arroz integral? Desculpe, companheiro, mas não tem não.

– Nas aldeias e comunidades pode ser que você encontre os mesmos alimentos no café da manhã, no almoço e no jantar, como caldo de peixe com farinha, por exemplo. Ou banana frita de manhã e cozida para o jantar. Em compensação, os alimentos são frescos, sem agrotóxicos e colhido ali mesmo no quintal ou no roçado mais próximo. Seu corpo agradecerá a ausência de produtos industrializados.

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Dia de melancia para a merenda na escola indígena

– Se for época de melancia, vai ter muita melancia. Macaxeira também tem. Banana tem e sobra. Cuscuz de milho é um sucesso, inclusive para misturar com o café. A tapioca aparece com frequência também.

– Vai sentir fome no meio da tarde e não rola ir comer um pão de queijo com café na lanchonete mais próxima simplesmente porque não existe lanchonete mais próxima e quando tem já fechou. Mantenha umas bolachas ou barrinhas armazenadas na mochila.

– A energia, quando tem, acaba com frequência. Esteja sempre munido de uma lanterna ou vai ficar no escuro da floresta esperando alguém te socorrer.

– Na sua caixinha de primeiros-socorros tenha sempre: band-aid, água oxigenada, gaze, pomada para picadas, algo para dor no corpo, para febre, para prender o intestino, para soltar e uma pomadinha anti inflamatória também cai bem porque você aparecerá com roxos que nunca saberá de onde vieram. Ah, não esqueça do cortador de unha.

– Sempre que possível reponha sua farmácia porque tem cidades em que não há simplesmente nenhum dos remédios que você usa. Sério mesmo.

– Aqueles cosméticos que sua dermatologista te receitou, sabe? Então, não tem. Se fizer muita questão de usar traga de outros lugares.

– Dormir na rede é melhor do que qualquer colchão ruim. Suas costas vão gostar. Prometo. Só não esquece do mosquiteiro. Um saco de dormir ou cobertor também é prudente. Não subestime o poder do frio nas madrugadas da floresta do Acre. Elas desassossegam sem piedade.
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– Todos os bichos aqui foram criados com fermento. E tem barata, tem rato, tem aranha pequena, tem aranha grande, tem grilo gigante e iguana surreal. Legal não dar escândalo ao se deparar com nenhum deles. Quem quer natureza, tem natureza. E ela é incrível e respeitosa. Seja também.

– Talvez você fique sem tomar um banho quente por dias, meses. Faz calor na Amazônia e até hoje ninguém morreu por tomar banho de água fria. Sem contar que a água é cristalina, pura, uma beleza só. Aqui quem agradece são seus cabelos.

– Nem todo rio é fundo, nem todo rio é seco, nem todo rio parece mar, nem todo rio é barrento, nem todo rio dá para nadar. Tem arraia, tem piranha, tem cobra. Pergunte antes de se atirar do barco e sair nadando borboleta por aí.

Índia de dez anos me ensinando como limpar um peixe
Índia de dez anos me ensinando como limpar um peixe

– Tenha sempre uma pinça, um isqueiro e um bom canivete. A pinça você pode usar para tirar sobrancelha, mas será principalmente para arrancar os espinhos que vão invadir seus pés e mãos. O isqueiro pode ser o que faltava quando você encontra uma casa com fogão e não tem como acender. Do canivete é bem possível que você use todas as funções. Invista num bom. Eu também tenho um facão na mochila. Vai que…

– Previna-se tendo na mochila algum bactericida para tratar a água, que pode ser desde comprimidos de Clorin até o Hidrosteril. Uma garrafinha de água com filtro de carvão também ajuda, nem que seja para tirar o gosto de cloro que fica na água tratada.

– Tenha pilhas extras, baterias extras, cartões de memórias extras.

– Acho que nem preciso mencionar a necessidade constante do uso de protetor solar e chapéu, principalmente durante as travessias de canoa, mas já mencionei.

– Respeite os costumes e valores das comunidades onde você está entrando. Ouça, aprenda, entenda. Comporte-se.

– A Amazônia tem um tempo só dela, da selva, da floresta. E esse tempo pode ser silencioso e demorado. Viva nesse tempo, que está longe de ser o do seu relógio. E divirta-se. Sempre.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Blindagem de juízes e togas voadoras


Togas voadoras
Por Frederico Vasconcelos - Folha de SP
Começou mal o novo corregedor nacional de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, ao dizer, em discurso de posse, que “o papel primordial (do CNJ) é de proteger, é de blindar a magistratura das influências externas, fazer com que o juiz exerça a magistratura na mais plena liberdade, fazer com que juiz não tenha medo da mídia, mídia que se tornou um poder”, segundo revelou a Folha, na edição desta quinta-feira (25).

Não foram influências externas que motivaram, em fevereiro deste ano, um diálogo inusitado numa sessão da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, o tribunal da cidadania.

“Esse presidente é um tremendo mau-caráter”, disse Noronha, naquela ocasião, referindo-se ao presidente da Corte, ministro Francisco Falcão.

Falcão, gritando, respondeu: “Mau-caráter é Vossa Excelência, me respeite!”

Segundo a Folha revelou, a discussão começou quando Falcão afirmou que “o STJ, num fato inédito, devolveu aos cofres públicos da União R$ 34 milhões do Orçamento de 2015 […]. Fizemos muito, com pouco. É um fato inusitado na administração pública brasileira”, afirmou.

Em seguida, ele lembrou ter suspendido a construção de um edifício que seria usado pela Escola de Nacional de Formadores e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), de acordo com o presidente, no valor de R$ 40 milhões.

Noronha, que já foi diretor-geral do Enfam, interrompeu Falcão e o acusou de gastar recursos desnecessariamente, comprando veículos novos para o Tribunal.

Falcão argumentou que tais aquisições atendiam a um pedido do próprio Noronha, que se revoltou com a afirmação: “Mentira! É tão mentiroso […]. Um mau-caráter desse vem me provocar em sessão”, disse ele, dirigindo-se a Falcão.

Na última segunda-feira, a Folha publicou reportagem revelando que, nos dois anos em que presidiu o STJ, Falcão esteve ausente da Corte em viagens oficiais que totalizam quatro meses e meio fora do gabinete. O período corresponde à soma dos dias em que visitou dez países, alguns deles mais de uma vez, e, em menor escala, a viagens feitas no Brasil.

Segundo a reportagem, o presidente às vezes regressava das viagens externas, participava da reunião quinzenal da Corte Especial, às quarta-feiras, e seguia para a Praia do Paiva, na região metropolitana do Recife, onde possui um imóvel.

Quando foi corregedor nacional de Justiça e, recentemente, esteve na presidência do Conselho da Justiça Federal, Falcão tentou controlar o afastamento de magistrados para ir a eventos no exterior, sob alegação de economia e risco de prejuízo para o andamento dos trabalhos.

Em outubro de 2012, a Folha também divulgou que ministros do STJ viajariam à Alemanha, em primeira classe e com diárias antecipadas em dólar, para um evento sob o abrigo de programa de intercâmbio criado em 2010 pela Corregedoria da Justiça Federal na gestão de Falcão.

Seu sucessor, Noronha, disponibilizou dez vagas para sócios da Ajufe (Associação de Juízes Federais do Brasil), mas que pagariam do bolso suas despesas. Alguns magistrados viram a extensão do convite aos juízes como forma de diluir a imagem de um tour internacional com recursos públicos e limitada troca de conhecimento científico.

A gestão que se encerra no CNJ deixou de levar a julgamento vários processos graves contra magistrados. Descumpriu o regimento interno, que estipula prazos e prioridade para serem levados a julgamento liminares e pedidos de vista.

Aparentemente, o Conselho já vinha blindando a magistratura muito antes da posse do novo corregedor.

Independentemente de ideologias, o Sol e a Lua existem, gente boa!

Por Pasquale Cipro Neto
Na semana passada, falei de uma declaração da ministra Cármen Lúcia a respeito da questão "presidente" x "presidenta". Supus que fosse desnecessário dizer que a "decisão" sobre a "existência" da palavra "presidenta" não depende de ideologia, mas enganei-me.

Nos "comentários" (note as aspas, por favor), algumas pessoas simplesmente ignoraram as provas documentais (o registro nas edições antigas e nas atualíssimas dos nossos mais importantes dicionários e do "Vocabulário Ortográfico", da Academia Brasileira de Letras).

Nada convence os que odeiam Dilma e sua trupe de que a questão linguística nada tem que ver com a questão ideológica, política, partidária etc. Uma "comentarista" chegou a dizer que tem dó dos meus alunos. Certamente ela queria que eu tivesse dito que a existência ou não do termo "presidenta" depende do credo político: no mundo petralha, o termo existe; no mundo tucanalha, não. Cara leitora, caros leitores, um fato técnico não tem ideologia.

Ou será que Drummond, o grande Carlos Drummond de Andrade, já antevia a chegada ao mundo de Dilma Rousseff (14/12/1947), a posterior chegada dela à presidência da República e ainda a obsessão de Dilma pelo emprego de "presidenta"?

Explico: como bem lembrou o eminente professor Renato Janine Ribeiro, na histórica tradução que Drummond fez do célebre romance "As Relações Perigosas" ("Les Liaisons Dangereuses"), de Pierre Choderlos de Laclos, aparece a expressão "a presidenta de Tourvel". Essa tradução foi publicada em 1947. Petralha que era (já em 1947!), Drummond preparou o terreno para Dilma...

Peço licença a Caetano Veloso, que, na genial "Podres Poderes", diz assim: "Será que esta minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?". Sim, sinto-me um estúpido ao ter de dizer (mais uma vez) que o comentário da ministra Cármen Lúcia foi tecnicamente equivocado. Usar como argumento a inexistência de "estudanta" para justificar a inexistência de "presidenta" é como dizer que, se não existe o inicial do mês (ou da semana), não pode existir o final do mês (ou da semana). PODE EXISTIR, SIM, ou melhor, EXISTE!!!

E por que não se usa "inicial do mês" se se usa "final do mês"? Por uma razão bem simples: porque não se usa. Como já afirmei N vezes, nem todos os fatos da língua são cartesianos. "Final do mês" e "fim do mês" são expressões equivalentes.

Na internet e nas redes antissociais, circulam essas e outras bobagens ("inicial do mês", "estudanta" etc.). Os argumentos técnicos são ignorados; quando alguém se atreve a usá-los, tem de aturar "especialistas" (note as aspas, por favor).

As pessoas têm todo o direito de gostar ou de não gostar de certa palavra ou expressão; só não podem inventar argumentos infundados. Eu mesmo disse que me parece infantil a obsessão por "presidenta". Embora o termo TENHA REGISTRO HÁ MUITO TEMPO (e o registro decorre do uso), o seu emprego, correto, é minoritário, por isso causa estranheza. Pelo jeito, se um petralha disser a um tucanalha que a Lua existe, o tucanalha dirá com toda a convicção que a Lua não existe, mesmo que o petralha mostre dados técnicos, fotos etc. Por sua vez, o tucanalha dirá ao petralha que o Sol existe, e aí será a vez do petralha, que dirá aos quatro ventos que o Sol é uma miragem. Triste país. É isso.

Olimpíadas e Paralimpíadas

Por Cardeal Orani Tempesta
Concluímos no último final de semana os Jogos Olímpicos, e daqui alguns dias iniciaremos, em nossa cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro, as Paralimpíadas. Estes Jogos também são chamados de Jogos Olímpicos de Verão, já que existem os Jogos de Inverno, também realizados de quatro em quatro anos.

Os Jogos Olímpicos foram abertos no dia 5 de agosto de 2016 e encerrados no dia 21 de agosto, e as Paralimpíadas serão abertas em 7 de setembro e finalizadas em 18 de setembro próximo. Creio que estes serão um excelente momento de aprendermos com grandes nomes a importância da superação dos limites e a busca da presença na sociedade das pessoas deficientes. A cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos ocorrerá no Estádio do Maracanã, assim como a cerimônia de encerramento. O número de eventos, esportes e países nestes dois tipos de jogos demonstra a importância dos mesmos e também o exemplo da cultura do encontro seja nos locais de disputa, seja na Vila Olímpica, onde grupos de países muitas vezes antagônicos se encontram na mesma mesa de refeição.

Sabemos que, assim como os Jogos Olímpicos, este também será um evento com a presença de pessoas de várias nacionalidades. Não só os que irão competir, mas também aquelas pessoas que vão assistir aos jogos. Será um evento marcado pela cultura do encontro. Encontro de pessoas de várias culturas e etnias e religiões diferentes. Será um grande momento para desenvolver um maior diálogo entre as pessoas, sobretudo neste momento histórico de conflitos que vivemos no cenário mundial. Isso já ocorreu com os Jogos Olímpicos e é claro que sucederá o mesmo nos Jogos Paralímpicos. Tenho certeza de que a crise em que o mundo e o Brasil vivem é muito mais do que apenas política e econômica. Vivemos hoje um cenário de crise dos valores, em especial os éticos. Precisamos reaprender a querer o bem ao outro. Também a trégua dos “100 dias de paz” é um dado muito significativo.

Como Igreja, este ano também é importante para nós, pois estamos meditando o Ano da Misericórdia. O Santo Padre, o Papa Francisco, pediu a todo Orbe Católico que vivesse a dimensão da misericórdia, e misericórdia é acolhimento não somente entre nós, Católicos, mas com todos os cidadãos.

Papa Francisco: “Após lembrar que Jesus fez-Se igual a nós em tudo, menos no pecado, acrescentou que no Filho podemos não só apalpar a misericórdia do Pai, mas somos impelidos a tornar-nos nós mesmos instrumentos da sua misericórdia. Falar de misericórdia pode ser fácil; mais difícil é tornar-se Suas testemunhas na vida concreta. Trata-se dum percurso que dura toda a vida e não deveria registar interrupções”.

Ele ressaltou no Domingo da Divina Misericórdia deste ano: “...que a misericórdia vai à procura da ovelha perdida e, quando a encontra, irradia uma alegria contagiosa”. “A misericórdia sabe olhar cada pessoa nos olhos; cada uma delas é preciosa para ela, porque cada uma é única”. “Para isso, é bom que seja o Espírito Santo a guiar os nossos passos: Ele é o Amor, Ele é a misericórdia que é comunicada aos nossos corações. Não ponhamos obstáculos à Sua ação vivificante, mas sigamo-Lo docilmente pelas sendas que nos aponta. Permaneçamos de coração aberto, para que o Espírito possa transformá-lo; e assim, perdoados e reconciliados, nos tornemos testemunhas da alegria que brota de ter encontrado o Senhor Ressuscitado, vivo no meio de nós”.

Ao ler estas palavras do Santo Padre, devemos nós, como um todo, nos esforçar ao máximo para viver a misericórdia e sermos canal de misericórdia para os outros. Vejo que o mundo carece desses valores. Um deles, como me referi acima, é o de querer o bem ao outro. Podemos e devemos desenvolver muito bem isso nos Jogos Paralímpicos, mas, como isso pode ser feito, haja vista que é uma competição?

Competir não significa querer mal ao outro, mas ter a maturidade para disputar e confraternizar. É isso que as Olimpíadas e as Paralimpíadas devem levar: ao acolhimento e ao amor ao próximo. Assim, estaremos desenvolvendo bem o nosso papel de anunciadores da misericórdia do Senhor. Neste caso, o esporte acaba unindo as pessoas que às vezes estão separadas pela distância, política ou até mesmo religião, mas no esporte participam de uma disputa em comum.

Durante os Jogos, a Vila Olímpica conta também com assistência religiosa. Temos uma capelania inter-religiosa na Vila Olímpica. A Igreja Católica, com a tradição de diálogo inter-religioso e ecumênico e do diálogo inter-religioso, ofereceu um capelão à Vila para organizar essa assistência religiosa para com os irmãos, com a responsabilidade de promover a liberdade religiosa.

Esperamos que nestes próximos dias de Paralimpíadas, possamos ter um encontro marcante com pessoas de outras nacionalidades vencendo os limites, e que todos nós brasileiros saibamos acolher estes nossos irmãos que virão para celebrar este grande acontecimento dos esportes. Sejamos acolhedores e misericordiosos!

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

‘É um estelionato delacional’, diz Janot

O procurador-geral da República Rodrigo Janot afirmou ontem, 23, durante reunião do Conselho Nacional do Ministério Público que não existe na negociação de delação premiada do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, qualquer citação ao ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Posso afirmar, peremptoriamente, que esse fato não foi trazido ao conhecimento do Ministério Público, esse pretenso anexo jamais ingressou em qualquer dependência do Ministério Público. Portanto, de vazamento não se tratou”, afirmou Janot.

A manifestação do procurador ocorreu logo depois de entrevista do ministro Gilmar Mendes, do STF, ao Estadão. O ministro atacou duramente a força-tarefa da Operação Lava Jato, atribuindo à Procuradoria vazamento da suposta revelação do empreiteiro envolvendo Dias Toffoli em uma obra da OAS em sua residência.

“É um estelionato delacional”, disse Janot. “Trata-se de um fato que um meio de comunicação (Revista Veja) houve por bem publicar. Ou se trata de um fato que alguém vendeu como verdadeiro a esse meio de comunicação e isso escapa de minha possibilita de análise. Reafirmo que não houve nas negociações, pretensas negociações de colaboração dessa empreiteira nenhuma referência, em anexo nenhum, fato enviado ao Ministério Público envolvendo essa alta autoridade judiciária.”

“O Ministério Público é um órgão de controle, que tem atuado prezando sua autonomia e sua independência funcional. Esses dois institutos, ao lado da unidade, são pedras de toque na atuação equilibrada, na atuação profissional e na atuação objetiva do Ministério Público e seus diversos afazeres. Eu acredito que, em tese, nenhuma atuação autônoma ou independente do Ministério Público possa gerar qualquer tipo de crise entre órgãos de controle ou entre órgãos de poderes constituídos de Estado.”

“Na minha humilde opinião trata-se de um quase estelionato delacional em que inventa-se um fato, divulga-se o fato para que haja pressão ao órgão do Ministério Público para aceitar desta ou daquela maneira eventual acordo de colaboração” disse Janot. “Em razão disso eu não vejo como partirmos do pressuposto, porque o fato não é verídico, de uma presunção de delinquência dos agentes públicos. Simplesmente, porque o fato não existiu, o fato não existe, esse anexo jamais chegou a qualquer dependência do Ministério Público Federal, seja em Curitiba, seja em Brasília. Daí eu digo que assemelha-se a um quase estelionato delacional.”

“Eu vejo uma especulação que envolve essa questão da autonomia, da independência funcional do Ministério Público, ganhar espaço nos últimos dois ou três dias, e aqui não vamos tapar o sol com a peneira e não vamos fingir que não exista, é uma questão envolvendo um assunto de sigilo imposto por lei.”

Janot disse que as ‘duríssimas negociações’ com a OAS já se arrastam há pelo menos seis meses. “Embora a lei imponha silêncio sobre as colaborações, a primeira questão a ser observada é que, em tese, as negociações se desenvolvem em torno de seis meses com esta empreiteira. Não é um assunto fácil, não é um assunto de hoje, não é um assunto de ontem e não é um assunto de atropelo. Esse meio de comunicação (Revista Veja) diz ter havido um anexo, informações escritas dos colaboradores ao Ministério Público envolvendo um alto magistrado da República. A especulação é que teria havido vazamento sobre essa informação.”

“Quanto (ao fato de ) ter ganhado alguma dimensão, em razão desse primeiro factóide, dessa primeira invencionice, é que o Ministério Público, quando senta para uma negociação de colaboração, em razão dos princípios da autonomia e da independência, porque a colaboração tem que ser espontânea, ele não demanda nomes e nem setores de poder.”

Janot destacou que os delatores são orientados pelos ‘melhores advogados do Brasil’.

“Eu não acredito que esses advogados deixariam passar qualquer tipo de pressão para que fossem trazidos nomes de pessoas ou de setores de alguns dos poderes da República. Nessas investigações interessa ao Ministério Público a apuração equilibrada de fatos ilícitos, independentemente da sua pretensa autoria. O Ministério Público não parte de um pretenso autor para depois procurar um fato que caiba na causa da acusação. O Ministério Público parte do fato e vai perquirir, vai investigar quem é que pode ter participado desses fatos.”

“Tenho dito, desde a minha primeira posse, há três anos. Todo mundo ri de mim. Pau que dá em Chico, dá em Francisco. A gente não investiga partido, não investiga ideologia, a gente investiga fatos e esses fatos devem ser investigados.”

Janot rebateu uma das afirmações de Gilmar Mendes na entrevista ao Estadão – o ministro disse que onde há concentração de poderes cometem-se abusos.

“Não há concentração de poder nessas investigações”, retrucou o procurador. “Existem dois grupos atuando em Brasília e em Curitiba, e grupos multidisciplinares que envolvem membros do Ministério Público, policiais federais, Receita Federal, Inteligência, COAF. Não é possível que sejamos ou estejamos todos nesta conspiração para o mal, nesta conspiração abjeta que leva pessoas ou que tenham levado pessoas a cemitérios.”