Por Rodolfo Cerveira - colaborador deste blog
O setor público de saúde no Brasil
sempre foi precário, mas o superlativo “precaríssimo” ficaria mais
consentâneo com o seu desempenho. Antes do SUS – Sistema Único de Saúde,
criado pelos constituintes de 1988 e regulamentado através da Lei 8080,
cujo caráter abrangente atingia toda a população (na época algo como
180 milhões de brasileiros), mas tinha as suas diretrizes voltadas mais à
classe menos favorecida. O atendimento do público carente ficava sob a
responsabilidade dos estados e municípios, entretanto a prestação dos
serviços dependia das condições financeiras desses membros e quase
sempre a quem beneficiar ficava a mercê de indicações políticas. Uma das
ideias do SUS era justamente barrar essas práticas indecorosas e
estabelecer um planejamento geral, com a participação financeira dos
governos federal, estaduais e municipais, indicadas nos seus respectivos
orçamentos e com destinação pré-determinada. A intenção do plano foi
excelente, mas o desempenho, até a presente data, tem deixado muito a
desejar. Os serviços essenciais e complementares que seriam executados
pelos Centros de Saúde, Unidades de Pronto Atendimento, Prontos-Socorros
e Unidades Hospitalares são uma frustração total.
Aqui
em Belém e no estado como um todo, as reclamações se acumulam e
desanimam até os mais persistentes. As filas – antigas “cobrinhas”- para
os mais velhos, são infindáveis e começam a se formar nas primeiras
horas da manhã, quando não se iniciam nas últimas horas da véspera do
dia pretendido. As cenas presenciadas nesses ambientes são as mais
surreais possíveis, pessoas (jovens, adultos e anciãs), se protegem das
intempéries precariamente com toscos cobertores estendidos naquilo que
se costuma apelidar de calçadas públicas ou envoltos nos seus corpos. A
espera é penosa, e às vezes infrutífera, porque não se consegue o
desejado, seja por limitação de fichas, seja pela falta do médico
escalado para aquele dia.
Os
profissionais da saúde não tem um bom relacionamento com serviço
público. No quesito atendimento de emergência, quando depende de
condução motorizada, os veículos destinados a essa missão (SAMU) sempre
apresentam alguma irregularidade: de mecânica, de manutenção e, muita
vez, falta até combustível. Nas emergências dos Prontos-Socorros – temos
dois (?) – em Belém, é difícil até descrever a angústia caracterizada
nos semblantes das pessoas necessitadas (a maioria da população
paraense), ante a ausência de tudo: macas insuficientes, os pacientes
ficam jogados nos corredores e atendidos e medicados ali mesmo; os
medicamentos usuais nos ambulatórios de urgência e emergência são
escassos ou não existem. E o que dizer da falta de esparadrapos,
mercúrios, soros, agua oxigenada, gazes, álcool, luvas, algodão, etc,
materiais essenciais para o pronto atendimento. Consultas e leitos são
quimeras no sistema. Como aguardar 2,3 ou 4 meses para obter uma
avaliação médica, de um mal já detectado ou internamento hospitalar,
para uma doença em fase de agudização. O caos é total, e as pessoas que
leem e veem nos jornais impressos e na televisão, nossos concidadãos
padecendo terrivelmente o sofrimento desses aleijões sociais, devem
perguntar-se a si mesmas: o que fizeram outrora essas legiões de párias
para serem tão duramente espezinhados pelo poder governante? Nada
fizeram, são simples vítimas da desigualdade social. E esse desnível só
tende a piorar, pois o governo interino cogita (projeto em discussão)
desvincular as verbas destinadas à educação e à saúde do seu orçamento
anual, que vinha sendo praticado desde 1990. Espera-se que o Congresso
refugue a ideia, e não só isso, introduza no texto o restabelecimento da
vinculação constitucional orçamentaria do governo federal,estadual e
municipal, além de estabelecer novos tetos de participação, incluindo a
obrigatoriedade de fiscalização e aplicação efetiva dos recursos.
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