Por Ronaldo Lemos - Folha de SP
Um sinal vermelho acendeu nos EUA. As pesquisas eleitorais estão cada
vez mais imprecisas. A crise dos institutos tradicionais agrava-se há
anos. Há mais de uma década a disparidade entre as previsões eleitorais e
o resultado das eleições cresce.
São muitos os exemplos. Nas primárias da campanha presidencial, todos os grandes institutos de pesquisa apontavam Hillary Clinton liderando em Michigan por no mínimo cinco pontos. No entanto, foi Bernie Sanders quem levou a disputa, com quatro delegados a mais que Clinton. Um deslize bem acima da chamada "margem de erro".
O que estaria acontecendo então? Nos EUA a crise vem sendo explicada por um declínio imenso no índice de retorno das pesquisas. A principal metodologia para consultar eleitores lá é via telefone fixo. A regulamentação impede que sejam feitas ligações de pesquisas diretamente no celular dos eleitores. Com isso, a taxa de resposta a essas ligações, que era de 78% na década de 1980, é agora de apenas 0,9% em 2016.
No entanto, a questão não se esgota por aí. Outro fator crucial é que as pesquisas tradicionais não funcionam tão bem no mundo de hoje. Elas produzem um "instantâneo" da situação. Uma fotografia estática do momento eleitoral que não dá conta de sua dimensão dinâmica.
Essa limitação tornou-se especialmente problemática em um mundo hoje hiperconectado. As mudanças de opinião e transformações sociais são vorazes. Um bom exemplo está no artigo "Living At Pokémon Go Speeds" (Vivendo na Velocidade do "Pokémon Go"), do escritor Ferrett Steinmetz. Ele usa o game para exemplificar a velocidade atual. No dia 6 de julho de 2016, o joguinho era virtualmente desconhecido. Em 12 de julho, ele já contava com 12 milhões de usuários ativos só nos EUA.
Steinmetz diz que essa mesma dinâmica afeta as informações que circulam publicamente (incluindo informações falsas). Nas palavras dele: "Se todo o mundo na internet está falando alguma coisa e as fontes oficiais de notícias não estão nem confirmando nem negando aquela informação, você acaba cedendo e acreditando que aquilo é verdadeiro porque 'todo o mundo' está falando sobre aquilo". Ou seja, "velocidade Pokémon" de hoje provoca mudanças massivas de opinião que influenciam também os processos eleitorais.
Por causa disso, há uma busca de novos modelos de pesquisa eleitoral. Novas empresas estão usando a chamada "ciência dos dados" (como o "big data") para avaliar preferências eleitorais. Um exemplo é a Civis Analytics, start-up ligada ao Partido Democrata. Usando apenas modelagem de dados, a empresa previu que Obama obteria 57,68% dos votos em Ohio em 2012. O resultado final foi 57,16%.
Muitas dessas questões aplicam-se ao Brasil. Aqui também vem ocorrendo uma discrepância entre pesquisas e resultados. Está na hora de diversificar os métodos de mensuração eleitoral no país para dar conta da sociedade contemporânea. Sob pena de nos orientarmos por uma bússola cada vez mais imprecisa.
São muitos os exemplos. Nas primárias da campanha presidencial, todos os grandes institutos de pesquisa apontavam Hillary Clinton liderando em Michigan por no mínimo cinco pontos. No entanto, foi Bernie Sanders quem levou a disputa, com quatro delegados a mais que Clinton. Um deslize bem acima da chamada "margem de erro".
O que estaria acontecendo então? Nos EUA a crise vem sendo explicada por um declínio imenso no índice de retorno das pesquisas. A principal metodologia para consultar eleitores lá é via telefone fixo. A regulamentação impede que sejam feitas ligações de pesquisas diretamente no celular dos eleitores. Com isso, a taxa de resposta a essas ligações, que era de 78% na década de 1980, é agora de apenas 0,9% em 2016.
No entanto, a questão não se esgota por aí. Outro fator crucial é que as pesquisas tradicionais não funcionam tão bem no mundo de hoje. Elas produzem um "instantâneo" da situação. Uma fotografia estática do momento eleitoral que não dá conta de sua dimensão dinâmica.
Essa limitação tornou-se especialmente problemática em um mundo hoje hiperconectado. As mudanças de opinião e transformações sociais são vorazes. Um bom exemplo está no artigo "Living At Pokémon Go Speeds" (Vivendo na Velocidade do "Pokémon Go"), do escritor Ferrett Steinmetz. Ele usa o game para exemplificar a velocidade atual. No dia 6 de julho de 2016, o joguinho era virtualmente desconhecido. Em 12 de julho, ele já contava com 12 milhões de usuários ativos só nos EUA.
Steinmetz diz que essa mesma dinâmica afeta as informações que circulam publicamente (incluindo informações falsas). Nas palavras dele: "Se todo o mundo na internet está falando alguma coisa e as fontes oficiais de notícias não estão nem confirmando nem negando aquela informação, você acaba cedendo e acreditando que aquilo é verdadeiro porque 'todo o mundo' está falando sobre aquilo". Ou seja, "velocidade Pokémon" de hoje provoca mudanças massivas de opinião que influenciam também os processos eleitorais.
Por causa disso, há uma busca de novos modelos de pesquisa eleitoral. Novas empresas estão usando a chamada "ciência dos dados" (como o "big data") para avaliar preferências eleitorais. Um exemplo é a Civis Analytics, start-up ligada ao Partido Democrata. Usando apenas modelagem de dados, a empresa previu que Obama obteria 57,68% dos votos em Ohio em 2012. O resultado final foi 57,16%.
Muitas dessas questões aplicam-se ao Brasil. Aqui também vem ocorrendo uma discrepância entre pesquisas e resultados. Está na hora de diversificar os métodos de mensuração eleitoral no país para dar conta da sociedade contemporânea. Sob pena de nos orientarmos por uma bússola cada vez mais imprecisa.
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