Ainda que as palavras não levem a consequências práticas entre os filiados à Associação Nacional de Jornais, seu novo presidente justificou a posse com alguns conceitos apropriados a vários aspectos das transtornadas circunstâncias atuais. Marcelo Rech tratava das relações entre imprensa e internet, e para isso falou dos jornais:
"Devemos ser, os jornais, muito mais que transmissores de notícias. Devemos ser os certificadores profissionais da realidade. Em meio ao caos da abundância desinformativa [da internet], temos o desafio de sermos [...] aqueles que, graças a conceitos éticos e técnicas profissionais, oferecem os atestados de veracidade para a história".
Pois não façam cerimônia. É isso mesmo que esperam receber os que pagam por um jornal. A prova de que não recebem, ou mais uma, está no que o novo mandatário achou necessário dizer. E em termos ainda de um "desafio", de uma resposta em suspenso.
Despido do cuidado político conveniente à plateia, o que Rech formulou fica simples e direto: jornais precisam fazer jornalismo. Se não fosse essa a sua natureza, precisam fazê-lo porque jornalismo é algo essencial que os internautas só podem receber em parte. Por sinal, pequena em comparação com as redes de amadorismo pouco ou nada confiável, mais conduzido por interesses que por seriedade.
A Olimpíada deixa um bom exemplo da situação do jornalismo nos jornais, dispensando discutir o tão notório facciosismo político que deu substância e propagação à crise política, em especial à derrubada de Dilma Rousseff. Por todo o período de organização dos Jogos e da cidade para recebê-los, a campanha de desmoralização não deu trégua. Nenhuma obra ficaria pronta a tempo. O resultado dos trabalhos de organização seria o caos. Os projetos de mobilidade estavam errados e haveria problemas graves de transporte. O Brasil era incapaz de realizar a Olimpíada, e o Rio, muito mais.
Na ocasião da candidatura a sediar os jogos, porém, os jornalistas e os jornais com restrições à iniciativa foram pouquíssimos. Àquela altura, os críticos posteriores apoiavam ou estavam no muro: o governo Lula colhia êxitos e não era esperto ser do contra. O mesmo na fase ainda saudável do governo Dilma.
O sensacionalismo, degradação retomada, que leva as empresas editoras mais sérias a cometerem edições com cara dos "Diários da Noite" de Assis Chateaubriand, projetou-se para o exterior. Os jornais europeus e dos EUA sem interesses, hoje em dia, no Brasil, desancaram o país. As águas da Guanabara, segundo "pesquisa" sem precedente da Associated Press, intoxicariam os velejadores. O lixo quebraria barcos. As águas da lagoa Rodrigo de Freitas eram inutilizáveis, de tão fétidas. E os estrangeiros, coitados, não teriam como viver na cidade em que ninguém fala língua de civilizado.
Os de casa passaram as duas últimas semanas ciscando uma coisinha aqui, o pontinho ruim ali, em um provincianismo ciumento ou na tentativa inútil de se confirmar. Os de fora se esbaldaram em escrachar o país do assalto aos americanos. Até provar-se que são nadadores por esforço e desordeiros por vocação -e o jornalismo de lá dedicou-se, quase por unanimidade, a disfarçar a correção, atribuindo-a só a declarações policiais.
"Devemos ser, os jornais, muito mais que transmissores de notícias. Devemos ser os certificadores profissionais da realidade. Em meio ao caos da abundância desinformativa [da internet], temos o desafio de sermos [...] aqueles que, graças a conceitos éticos e técnicas profissionais, oferecem os atestados de veracidade para a história".
Pois não façam cerimônia. É isso mesmo que esperam receber os que pagam por um jornal. A prova de que não recebem, ou mais uma, está no que o novo mandatário achou necessário dizer. E em termos ainda de um "desafio", de uma resposta em suspenso.
Despido do cuidado político conveniente à plateia, o que Rech formulou fica simples e direto: jornais precisam fazer jornalismo. Se não fosse essa a sua natureza, precisam fazê-lo porque jornalismo é algo essencial que os internautas só podem receber em parte. Por sinal, pequena em comparação com as redes de amadorismo pouco ou nada confiável, mais conduzido por interesses que por seriedade.
A Olimpíada deixa um bom exemplo da situação do jornalismo nos jornais, dispensando discutir o tão notório facciosismo político que deu substância e propagação à crise política, em especial à derrubada de Dilma Rousseff. Por todo o período de organização dos Jogos e da cidade para recebê-los, a campanha de desmoralização não deu trégua. Nenhuma obra ficaria pronta a tempo. O resultado dos trabalhos de organização seria o caos. Os projetos de mobilidade estavam errados e haveria problemas graves de transporte. O Brasil era incapaz de realizar a Olimpíada, e o Rio, muito mais.
Na ocasião da candidatura a sediar os jogos, porém, os jornalistas e os jornais com restrições à iniciativa foram pouquíssimos. Àquela altura, os críticos posteriores apoiavam ou estavam no muro: o governo Lula colhia êxitos e não era esperto ser do contra. O mesmo na fase ainda saudável do governo Dilma.
O sensacionalismo, degradação retomada, que leva as empresas editoras mais sérias a cometerem edições com cara dos "Diários da Noite" de Assis Chateaubriand, projetou-se para o exterior. Os jornais europeus e dos EUA sem interesses, hoje em dia, no Brasil, desancaram o país. As águas da Guanabara, segundo "pesquisa" sem precedente da Associated Press, intoxicariam os velejadores. O lixo quebraria barcos. As águas da lagoa Rodrigo de Freitas eram inutilizáveis, de tão fétidas. E os estrangeiros, coitados, não teriam como viver na cidade em que ninguém fala língua de civilizado.
Os de casa passaram as duas últimas semanas ciscando uma coisinha aqui, o pontinho ruim ali, em um provincianismo ciumento ou na tentativa inútil de se confirmar. Os de fora se esbaldaram em escrachar o país do assalto aos americanos. Até provar-se que são nadadores por esforço e desordeiros por vocação -e o jornalismo de lá dedicou-se, quase por unanimidade, a disfarçar a correção, atribuindo-a só a declarações policiais.
Nenhum evento civil no mundo tem a complexidade e a dimensão de uma Olimpíada. As obras e as disputas que se mostram são uma insignificância em comparação com o que as faz acontecerem.
É uma quantidade assoberbante de planejamento e de execução dos milhões de pormenores que se conjugam, em escolha e treinamento de milhares de pessoas, coordenação de tempos e ações para que tudo seja feito no seu momento, nas competições simultâneas e em lugares diferentes. O abastecimento alimentar dá uma ideia do gigantismo geral: o COB (Comitê Olímpico do Brasil) informa que em um só dia foram servidas quase 70 mil refeições no Parque Olímpico. Foi, este, um desafio com resposta. Escrevo a 48 horas do encerramento, logo mais. Já se pode ter certeza de que, por sua beleza e organização, a Olimpíada brasileira recompôs muito do que o Brasil perdeu no mundo, nestes tempos de crise. Os jornais correram atrás.
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