Por Paulo Moreira Leite
Estive na tarde de ontem na avenida Paulista, onde participei da concentração em frente ao MASP. À noite, acompanhei de carro uma imensa passeata pela Rebouças que fez o trajeto da Paulista até o Largo da Batata. Um colega que assistiu a passagem dos manifestantes de cima de um viaduto calcula que o cortejo prolongou-se por duas horas e acredita que pelo menos 100 000 pessoas desfilaram perante seus olhos. Os organizadores fazem o mesmo cálculo. Numa reação sintomática, a Policia Militar preferiu não revelar sua estimativa. Ficou feliz em porrada, quando o protesto já estava terminado e calmo.
Os números de todo ato político sempre possuem um viés a favor ou contra. Sempre serão louvados por um lado e questionados pelo outro. Seu significado político não pode ser colocado em dúvida, porém. Os protestos de ontem indicam que a luta contra o governo Temer segue seu curso e pode até ganhar um fôlego maior.
Cinco dias depois do impeachment de Dilma Rousseff, a base social de trabalhadores, mulheres e jovens que se tornaram alvo preferencial das reformas estruturais inscritas na prancheta do golpe foi às ruas para dizer que não pretende ficar quieta e que vai defender seus direitos.
Foi assim em São Paulo, no Rio de Janeiro e outros lugares. Estive no último ato da mobilização dos aliados de Dilma contra o impeachment. Era menor que o de ontem. O comportamento dos militantes -- era possível reconhecer a presença das mesmas pessoas nos dois atos – também era diferente. Silencioso, quase apático, no primeiro. Aguerrido, combativo, no segundo.
A agenda se modificou. Antes, o debate envolvia o destino de Dilma. Havia até uma divergência paralisante.
O Planalto era favorável a assumir o compromisso de organizar um plebiscito para debater novas eleições, caso Dilma fosse reconduzida. A maioria dos movimentos sociais era contra. Queria o retorno de Dilma para que ela pudesse realizar o governo para o qual foi eleita em 2014.
As manifestações, agora, respondem a interesses concretos. Um mesmo grito político continua: "Fora Temer!"
A situação é outra. A luta se encontra no chão da vida real. Envolve reforma da Previdência, fim do monopólio da Petrobras sobre pre-sal, desmonte da CLT. As manifestações de domingo mostram que o governo Temer começa diante de uma oposição imensa, que não tem a menor disposição de lhe dar trégua.
Os atos deste domingo sinalizam o que será o país no pós-impeachment. Longe da paz dos cemitérios, temos o retrato de um Brasil que não se rendeu nem vai se entregar. Haverá luta, centímetro a centimetro, ponto a ponto, para impedir a destruição do país.
A derrota vergonhosa do impeachment passou. Mas, contraditoriamente, a consciência parece mais forte, e as questões que envolvem o país e as novas gerações, mais claras e urgentes. Os canalhas de que falava Tancredo Neves, como recordou Roberto Requião, não irão vencer.
Sentirão cada vez mais vergonha quando andarem pelas ruas das grandes cidades. Serão aconselhados a ficar de boca fechada para não estimular ainda mais a revolta.
Vai ser ainda pior quando viajarem para o exterior, para encontrar a repulsa da brava gente que há 40 anos assinava manifestos contra o regime dos generais e ajudou a parar a tortura, a garantir a volta de deles mesmos, exilados ainda jovens, que desciam no Galeão e até davam a impressão que sentiam saudade de serem brasileiros. Hoje, alguns parecem agentes infiltrados, de tão obvios.
Os velhos amigos do exílio de ontem agora vão virar as costas, indignados e inconformados com a traição, a falta de caráter. Mas não estão nem um pouco arrependidos e deixam às pessoas corretas o exemplo da luta eterna pelas democracias.
As ruas brasileiras mostraram uma gente de pé, que não se amedronta facilmente. Haverá guerra civil, disse Requião, numa constatação que não é para ser lida ao pé da letra, mas no horizonte histórico, apesar do aspecto sombrio da tropa de choque.
Já vimos tudo isso antes, me disse uma militante que se tornou amiga aos 20, nos anos negros da ditadura militar. Também vencemos.
Estive na tarde de ontem na avenida Paulista, onde participei da concentração em frente ao MASP. À noite, acompanhei de carro uma imensa passeata pela Rebouças que fez o trajeto da Paulista até o Largo da Batata. Um colega que assistiu a passagem dos manifestantes de cima de um viaduto calcula que o cortejo prolongou-se por duas horas e acredita que pelo menos 100 000 pessoas desfilaram perante seus olhos. Os organizadores fazem o mesmo cálculo. Numa reação sintomática, a Policia Militar preferiu não revelar sua estimativa. Ficou feliz em porrada, quando o protesto já estava terminado e calmo.
Os números de todo ato político sempre possuem um viés a favor ou contra. Sempre serão louvados por um lado e questionados pelo outro. Seu significado político não pode ser colocado em dúvida, porém. Os protestos de ontem indicam que a luta contra o governo Temer segue seu curso e pode até ganhar um fôlego maior.
Cinco dias depois do impeachment de Dilma Rousseff, a base social de trabalhadores, mulheres e jovens que se tornaram alvo preferencial das reformas estruturais inscritas na prancheta do golpe foi às ruas para dizer que não pretende ficar quieta e que vai defender seus direitos.
Foi assim em São Paulo, no Rio de Janeiro e outros lugares. Estive no último ato da mobilização dos aliados de Dilma contra o impeachment. Era menor que o de ontem. O comportamento dos militantes -- era possível reconhecer a presença das mesmas pessoas nos dois atos – também era diferente. Silencioso, quase apático, no primeiro. Aguerrido, combativo, no segundo.
A agenda se modificou. Antes, o debate envolvia o destino de Dilma. Havia até uma divergência paralisante.
O Planalto era favorável a assumir o compromisso de organizar um plebiscito para debater novas eleições, caso Dilma fosse reconduzida. A maioria dos movimentos sociais era contra. Queria o retorno de Dilma para que ela pudesse realizar o governo para o qual foi eleita em 2014.
As manifestações, agora, respondem a interesses concretos. Um mesmo grito político continua: "Fora Temer!"
A situação é outra. A luta se encontra no chão da vida real. Envolve reforma da Previdência, fim do monopólio da Petrobras sobre pre-sal, desmonte da CLT. As manifestações de domingo mostram que o governo Temer começa diante de uma oposição imensa, que não tem a menor disposição de lhe dar trégua.
Os atos deste domingo sinalizam o que será o país no pós-impeachment. Longe da paz dos cemitérios, temos o retrato de um Brasil que não se rendeu nem vai se entregar. Haverá luta, centímetro a centimetro, ponto a ponto, para impedir a destruição do país.
A derrota vergonhosa do impeachment passou. Mas, contraditoriamente, a consciência parece mais forte, e as questões que envolvem o país e as novas gerações, mais claras e urgentes. Os canalhas de que falava Tancredo Neves, como recordou Roberto Requião, não irão vencer.
Sentirão cada vez mais vergonha quando andarem pelas ruas das grandes cidades. Serão aconselhados a ficar de boca fechada para não estimular ainda mais a revolta.
Vai ser ainda pior quando viajarem para o exterior, para encontrar a repulsa da brava gente que há 40 anos assinava manifestos contra o regime dos generais e ajudou a parar a tortura, a garantir a volta de deles mesmos, exilados ainda jovens, que desciam no Galeão e até davam a impressão que sentiam saudade de serem brasileiros. Hoje, alguns parecem agentes infiltrados, de tão obvios.
Os velhos amigos do exílio de ontem agora vão virar as costas, indignados e inconformados com a traição, a falta de caráter. Mas não estão nem um pouco arrependidos e deixam às pessoas corretas o exemplo da luta eterna pelas democracias.
As ruas brasileiras mostraram uma gente de pé, que não se amedronta facilmente. Haverá guerra civil, disse Requião, numa constatação que não é para ser lida ao pé da letra, mas no horizonte histórico, apesar do aspecto sombrio da tropa de choque.
Já vimos tudo isso antes, me disse uma militante que se tornou amiga aos 20, nos anos negros da ditadura militar. Também vencemos.
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