Folha- No século passado, quase ao mesmo tempo da campanha "O Petróleo é Nosso", o país viveu o debate sobre a internacionalização da Amazônia. O que mudou de lá para cá?
Roberto Saturnino Braga - Isso continua latente. A nação não tem olhado para a Amazônia como metade do seu território e com potencial de riqueza. Há dificuldades de acesso, a densidade eleitoral é baixa, o que diminui sua importância política. Há condescendência com o interesse do mundo na região, e o Brasil se paralisa. Há pesquisas de várias partes do mundo sendo feitas aqui, mesmo sem o conhecimento do governo, tentando avaliar a importância da Amazônia para desenvolver estratégia mais eficiente de dominação. O que preocupa é a desídia brasileira em relação à Amazônia.
Qual o papel das Forças Armadas nesse processo?
A Amazônia esteve ameaçada até de ocupação e as Forças Armadas foram chamadas. Montaram o Sivam [sistema de monitoramento], as unidades de combate. Essa presença militar foi gerando uma consciência não só da defesa, mas da conservação. Hoje os militares são reconhecidos. A Amazônia é potencialmente tão rica que tem que ser objeto de uma política de Estado. O filão desconhecido é a biotecnologia. Mas são todas tarefas de Estado. É necessário um projeto nacional para discutir isso.
Como o sr. analisa a posição do governo Temer em relação a essas ideias?
A linha política desse governo dificulta a implantação dessa visão estratégica, pois é muito mercadista. A missão amazônica não é de mercado.
Como político que viveu crises, como avalia o governo?
Esse governo tem uma falha de legitimidade que o enfraquece muito. Só com nova eleição haverá um governo efetivamente legitimo. Vai enfrentar oposição das ruas e descrença popular. Tudo foi armado lá de cima. Eu vi Getúlio, Jango. Os EUA querem manter um domínio sobre o continente, o que fazem desde sempre. Ali se forma um eixo Brasil, Venezuela e Argentina em busca da autonomia. Isso colocou em risco o projeto norte-americano de dominação condescendente. Depois, a aliança do Brasil com a China, nos Brics. O Brasil faz um projeto para desenvolver a tecnologia de enriquecimento do urânio para se transformar em um grande exportador de urânio. Tem o projeto de se aliar com a França para fazer um submarino atômico. Os EUA dizem: para que isso? A Quinta Frota protege, não precisa de submarino. Quiseram dar um basta nisso.
Como assim?
Fizeram um projeto para ganhar eleições. Ganharam na Argentina e na Venezuela, no Parlamento, e quase ganharam no Brasil. Daí o golpe, que não pode ser clássico. Teve a experiência do Paraguai, o golpe constitucional, entre aspas. A embaixadora norte-americana era a mesma [no Paraguai e no Brasil]. Fizeram para destruir o eixo de autonomia entre Brasil, Venezuela e Argentina e a relação com os Brics.
Qual a relação com experiências do passado?
No caso do Jango eu vi de perto, era deputado. Para os EUA, qualquer governo com leve inclinação de esquerda tinha que ser deposto, porque colocava em risco o poder.
Roberto Saturnino Braga - Isso continua latente. A nação não tem olhado para a Amazônia como metade do seu território e com potencial de riqueza. Há dificuldades de acesso, a densidade eleitoral é baixa, o que diminui sua importância política. Há condescendência com o interesse do mundo na região, e o Brasil se paralisa. Há pesquisas de várias partes do mundo sendo feitas aqui, mesmo sem o conhecimento do governo, tentando avaliar a importância da Amazônia para desenvolver estratégia mais eficiente de dominação. O que preocupa é a desídia brasileira em relação à Amazônia.
Qual o papel das Forças Armadas nesse processo?
A Amazônia esteve ameaçada até de ocupação e as Forças Armadas foram chamadas. Montaram o Sivam [sistema de monitoramento], as unidades de combate. Essa presença militar foi gerando uma consciência não só da defesa, mas da conservação. Hoje os militares são reconhecidos. A Amazônia é potencialmente tão rica que tem que ser objeto de uma política de Estado. O filão desconhecido é a biotecnologia. Mas são todas tarefas de Estado. É necessário um projeto nacional para discutir isso.
Como o sr. analisa a posição do governo Temer em relação a essas ideias?
A linha política desse governo dificulta a implantação dessa visão estratégica, pois é muito mercadista. A missão amazônica não é de mercado.
Como político que viveu crises, como avalia o governo?
Esse governo tem uma falha de legitimidade que o enfraquece muito. Só com nova eleição haverá um governo efetivamente legitimo. Vai enfrentar oposição das ruas e descrença popular. Tudo foi armado lá de cima. Eu vi Getúlio, Jango. Os EUA querem manter um domínio sobre o continente, o que fazem desde sempre. Ali se forma um eixo Brasil, Venezuela e Argentina em busca da autonomia. Isso colocou em risco o projeto norte-americano de dominação condescendente. Depois, a aliança do Brasil com a China, nos Brics. O Brasil faz um projeto para desenvolver a tecnologia de enriquecimento do urânio para se transformar em um grande exportador de urânio. Tem o projeto de se aliar com a França para fazer um submarino atômico. Os EUA dizem: para que isso? A Quinta Frota protege, não precisa de submarino. Quiseram dar um basta nisso.
Como assim?
Fizeram um projeto para ganhar eleições. Ganharam na Argentina e na Venezuela, no Parlamento, e quase ganharam no Brasil. Daí o golpe, que não pode ser clássico. Teve a experiência do Paraguai, o golpe constitucional, entre aspas. A embaixadora norte-americana era a mesma [no Paraguai e no Brasil]. Fizeram para destruir o eixo de autonomia entre Brasil, Venezuela e Argentina e a relação com os Brics.
Qual a relação com experiências do passado?
No caso do Jango eu vi de perto, era deputado. Para os EUA, qualquer governo com leve inclinação de esquerda tinha que ser deposto, porque colocava em risco o poder.
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