Editorial - Estadão
A política, como definiu o escritor italiano Carlo Bini, é o governo da opinião. Embora a boa administração seja essencial para a conservação da capacidade de governar, é evidente que, numa democracia, os líderes devem se sustentar também na opinião pública, que será tanto mais compreensiva com o dirigente quanto maior for a capacidade deste de demonstrar a legitimidade de seus planos e atos. É evidente que não se trata de uma tarefa simples, especialmente quando a arena política, que é o campo do embate democrático de ideias, está prestes a ser assaltada por radicais dispostos a questionar dia e noite a legitimidade do governo não em razão de suas decisões, mas sim de sua própria natureza, como é o caso dos que hoje se opõem ao governo do presidente Michel Temer, qualificando-o de “golpista”, o que não dá margem a nenhum tipo de diálogo. Mas o fato é que o slogan “fora Temer” vem ganhando ares de movimento com algum potencial para constranger o presidente, não em razão da procedência dos argumentos em que se baseia, mas pelos erros cometidos por Temer e sua equipe no terreno da comunicação – erros que, se não forem rapidamente corrigidos, podem dificultar ainda mais a sua já hercúlea tarefa de presidente de consertar o País, arruinado pelos mesmos petistas que ora arrebanham adeptos para sua causa niilista e antidemocrática.
Temer poderia começar perguntando o que querem aqueles que gritam “fora Temer”. Se a queixa é quanto à lisura do processo de impeachment, que na opinião desses militantes foi usado para consumar um golpe de Estado, então se depreende que tal movimento esteja defendendo a restituição do poder à presidente Dilma Rousseff. Assim, o slogan “fora Temer” deveria ser seguido de outro, “volta Dilma”, mas não há notícia de que algum dos manifestantes que hoje estão nas ruas, nas redes sociais e nos eventos culturais a bradar palavras de ordem contra o governo queira mesmo a volta de Dilma. Afinal, mesmo o mais fanático adepto do “fora Temer” deve saber o mal que essa senhora fez ao País.
Ademais, a própria Dilma indicou sua indisposição de retornar ao Palácio do Planalto ao propor a antecipação das eleições presidenciais – ideia abraçada pelo movimento “fora Temer”. Mas a realização dessas eleições é simplesmente impossível, tanto do ponto de vista legal quanto do ponto de vista logístico. No primeiro caso, a Constituição proíbe mudanças que abreviem mandatos, e o de Temer vai até 2018. No segundo, não é possível imaginar que, na amalucada hipótese de que o Congresso autorize a realização de novas eleições, estas possam ser realizadas ainda neste ano – e a Constituição manda que, depois desse prazo, a eleição seja indireta, realizada pelo Congresso.
Ao deixar de expor o absurdo das reivindicações dos que gritam “fora Temer” e de chamar seus adeptos à razão, o presidente permite que esse movimento ganhe impulso e seguidores. Político inegavelmente habilidoso, Temer, contudo, não tem conseguido encontrar o tom correto para lidar com esse desafio. Ora fala grosso e diz que não aceitará ser chamado de “golpista”, ora desdenha dos manifestantes, ao enxergar apenas 40 onde há milhares. Nos dois casos, Temer conseguiu apenas açular o movimento, em vez de desmoralizá-lo.
A guerra de comunicação apenas começou. Temer, que conhece bem o Congresso, não tem a mesma desenvoltura quando se trata de ir às ruas e falar às pessoas para defender as medidas necessárias para tirar o País da crise. Seus adversários, por sua vez, são especialistas em mentiras e não têm nenhum escrúpulo em explorar a crise que eles mesmos criaram para sabotar qualquer plano que vise a superá-la. O PT e seus simpatizantes estão em terreno que lhes é bastante familiar, exercendo a oposição irresponsável que sempre os notabilizou.
Para ganhar essa guerra, Temer não pode mais contar apenas com a boa vontade dos que respiraram aliviados com a cassação de Dilma. É preciso expor a natureza perniciosa dos adversários, deixar evidente de quem é a responsabilidade pela crise, rebater uma a uma as patranhas que eles contam e, acima de tudo, não recuar das medidas indispensáveis para o saneamento das contas nacionais, destruídas por Dilma e pela estatolatria delinquente do PT.
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